15 Novembro 2016
Deirdre McCoskey, professora hiperliberal formada pela Escola de Chicago, ataca o imposto sobre os ricos do colega francês Thomas Piketty: "O capitalismo funciona melhor do que o socialismo e das receitas redistributivas do Papa Francisco. E, principalmente, não aumenta as desigualdades. Ao contrário, aumentou em 3.000% a riqueza do planeta em dois séculos, garantindo bens essenciais a muitas mais pessoas". Trump? "Uma tragédia, mas, por sorte, é preguiçoso".
A reportagem é de Ettore Livini, publicada no jornal La Repubblica, 12-11-2016. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
O superimposto sobre os ricos de Thomas Piketty? "Um erro filho da inveja social." O aumento das desigualdades na era do capitalismo? "Um falso mito. O livre mercado aumentou em 3.000% a riqueza do planeta em dois séculos. Se enforcar os banqueiros e levar embora o dinheiro dos ricos tornasse o mundo mais igual, eu seria a primeira a dizer que sim. Mas não é assim. As receitas socialistas como as do Papa Francisco não funcionam. Só os liberais sabem como combater a pobreza."
Deirdre McCloskey, 73 anos, economista estadunidense de origem escocesa, não tem medo de ir contra a corrente. Aos 16 anos – ipse dixit – "eu era socialista à la Joan Baez". Hoje, com a cumplicidade de anos de ensino na "Escola de Chicago", ela se tornou uma das principais vestais do livre mercado.
Até 52 anos atrás, ela era um homem de sucesso, chamava-se Donald, felizmente casado e com dois filhos. Agora – depois do "crossing", como ela o chama – é uma mulher de sucesso (que está na Itália para receber o Prêmio Bruno Leoni), cuja ex-esposa e filhos não lhe dirigem a palavra há 20 anos. Nas trincheiras com estilo passional, ela defende as virtudes do capitalismo contra "o pessimismo da esquerda".
A economia é feita de números. Hoje, 62 bilionários possuem a mesma riqueza que a metade do mundo mais pobre. Não lhe parece um péssimo cartão de visitas para o liberalismo?
Não. Os dois últimos séculos, aqueles onde mais se experimentou o livre mercado, tornaram mais rica grande parte da humanidade. Na Europa e no Japão, a desigualdade hoje é inferior à do início do século XX. Enquanto, recentemente, aumentou apenas e em menor medida na Grã-Bretanha, nos EUA e no Canadá. A renda disponível, ao contrário, saltou em 3.000% desde que o Estado se tornou mais leve e as pessoas puderam liberar a própria criatividade.
Muito dinheiro, ok, mas que acabou nos bolsos de poucos...
Ao contrário. O "grande enriquecimento", como eu o chamo, reduziu drasticamente a pobreza. Quase todos, na Europa hoje, têm os bens essenciais – um teto sobre a cabeça, o direito à educação e à saúde – negados no passado. Quando eu vim para a Itália em 1958, as pessoas, no máximo, tinham uma scooter, frequentavam pouco a universidade e, em alguns casos, passavam fome. Hoje não é mais assim. E não por mérito do Estado, mas graças àqueles que criaram essa riqueza, pessoas como Adriano Olivetti ou o inventor da Vespa.
Pode ser. Mas, na Itália, há jovens formados forçados a pagar as contas entregando almoços em domicílio com salários de passar fome. E a Europa não cresce. Como você explica isso?
Isso acontece porque, em países como o de vocês, há laços demais que freiam o mercado de trabalho. Eu digo aos jovens que lutem contra os protecionismos que freiam os investimentos estrangeiros, contra as normas que protegem os mais velhos e contra aqueles que boicotam a inovação do Uber. É preciso o direito de demitir para garantir o direito de contratar. Isso vale para a Itália, mas também para a Europa. A União Europeia cresce pouco e mal, porque há regras demais também sobre o tema ambiental, há um pouco de corrupção e, em alguns países, um setor público hipertrofiado e ineficiente.
Você acaba de escrever um livro ("O crescimento e as ideias") para explicar – como diz o subtítulo – "por que a história desmente Piketty" e as suas propostas para redistribuir a riqueza no mundo. Pode nos explicá-las?
Eu critico Piketty por duas coisas. A primeira é que dinheiro, casas e patrimônio não são a única forma de capital. Ao contrário. O verdadeiro capital é o "humano", feito de talento, ideias, educação escolar e oportunidades. Que Piketty ignora e, em vez disso, gera renda. Ninguém, por exemplo, criminaliza um bom jogador porque ganha muito. A segunda é a ideia de que redistribuir a riqueza serve para restabelecer a justiça social. Retirar um pouco de dinheiro dos bilionários ou dos bancos para lhes dar àqueles que têm menos mudaria pouco o status dos pobres. E seria um presente una tantum. Você fazer uma vez e chega.
Por quê?
Porque, assim, você sufoca o estímulo para criar valor e faz com que aqueles que produzem riqueza para todos escapem. A chave, ao contrário, é fazer a sociedade crescer de forma vigorosa, garantindo a todos – como dizia Adam Smith – igualdade, liberdade e justiça. Assim, a renda sobe a cada ano e para todos. Inovadores e empreendedores, de acordo com William Nordhaus, embolsam apenas 2% do valor social das suas invenções. Os outros 98% dos benefícios são espalhados sobre o resto da sociedade.
O Papa Francisco também fala da necessidade de redistribuir as riquezas.
Ele é uma grande pessoa. Mas é filho da cultura do catolicismo social, que vê um mundo de soma zero. Onde eu posso ficar melhor se você estiver um pouco pior. Não é assim. Se a economia vai em frente, todo mundo fica melhor. A redistribuição não torna os pobres mais ricos. Dividir igualmente uma torta pequena é menos eficiente do que fazer a torta crescer. Só o mercado pode fazer isso, garantindo os bens essenciais a todos. E, até hoje, dizem os números, esse mecanismo sempre funcionou.
O que você acha da vitória de Trump nas eleições?
É uma tragédia. Os EUA agora também terão o seu "Berlusconi moment". Por sorte, Trump é preguiçoso assim como Silvio e, no fim, talvez, fará menos danos do que o esperado. Pense que desastre seria um Trump enérgico e hiperativo na Casa Branca...
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A economista anti-Piketty: "Só o liberalismo elimina a pobreza". Entrevista com Deirdre McCoskey - Instituto Humanitas Unisinos - IHU