Por: João Flores da Cunha | 08 Outubro 2016
O presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos, é o Prêmio Nobel da Paz de 2016, anunciou no dia 7-10 em Oslo, Noruega, o comitê do Nobel. Santos recebeu o prêmio pelas negociações de paz com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia – FARC para encerrar o conflito no país, que já dura mais de 50 anos. Ele foi escolhido apesar de o acordo de paz acertado entre o governo e as Farc ter sido rejeitado pelos colombianos em plebiscito realizado no dia 2-10-2016.
O comitê citou os “esforços resolutos” do presidente para pôr fim à guerra civil colombiana e assinalou que ele “aproximou significativamente o conflito sangrento de uma solução pacífica”, e que “foi estabelecida grande parte da base para o desarmamento da guerrilha das Farc e para um processo histórico de fraternidade nacional e reconciliação”. Os responsáveis pela escolha do prêmio também deixaram claro que ela tem o objetivo de “encorajar todos aqueles que estão se esforçando para alcançar paz, reconciliação e justiça na Colômbia”.
“Recebo este prêmio em nome do povo colombiano que sofreu muito com esta guerra”, disse o presidente ao representante do comitê do Nobel que lhe deu a notícia. “Estamos muito próximos de alcançar a paz”, afirmou. Ele declarou ainda que a paz na Colômbia é “o verdadeiro prêmio”. Santos irá receber o prêmio em Oslo, em dezembro.
Esta honrosa distinción no es para mí, es para todas las víctimas del conflicto. Juntos ganaremos el premio más importante de todos: LA PAZ
— Juan Manuel Santos (@JuanManSantos) 7 de outubro de 2016
O governo colombiano está tratando o Nobel como um respaldo à paz. “Este prêmio é para as vítimas, e para que não haja nem uma vítima a mais, nem um morto a mais”, disse Santos em uma declaração oficial na manhã de 7-10. O presidente disse ver o prêmio como um “mandato para seguir trabalhando sem descanso pela paz dos colombianos”, e reforçou o que já havia dito após o resultado do plebiscito: que seguirá se dedicando à resolução do conflito até os últimos dias de seu governo.
“A paz está próxima, a paz é possível e é a hora da paz. Juntos, juntos como nação conseguiremos construí-la. Convido a todos que unamos nossas forças, nossas mentes e nossos corações neste grande propósito nacional para que, assim, todos ganhemos o mais importante prêmio: a paz na Colômbia”, declarou Santos.
Havia especulações de que Santos pudesse vencer o prêmio, mas a notícia acabou sendo recebida com certa surpresa por conta da vitória do não no plebiscito. Igualmente, acreditava-se que o Nobel fosse ser dividido com o líder das Farc, Rodrigo Londoño, o Timochenko – como ocorreu em outras ocasiões em que o prêmio foi outorgado na sequência de um acordo de paz assinado por duas partes em conflito.
Em entrevista ao IHU, o cientista político e professor da Unisinos Bruno Lima Rocha disse que acredita que o prêmio “deveria ter sido dado também para o líder das Farc, porque é um acordo entre duas partes”. Pelo Twitter, Timochenko afirmou que o prêmio que as Farc buscam é o da paz com justiça social.
El único premio al que aspiramos es de la #PazConJusticiaSocial para #Colombia sin pamilitarismo, sin retaliaciones ni mentiras #PazALaCalle
— Timoleón Jiménez (@Timochenko_FARC) 7 de outubro de 2016
Para Bruno Lima Rocha, o Nobel da Paz constitui “um reconhecimento internacional dos intentos de pacificação do conflito colombiano, e coloca pressão sobre aqueles que são contra: basicamente, o partido conservador, paramilitares e narcotraficantes”. Assim, o prêmio fortalece a posição de Santos, que estava debilitado e se viu forçado a negociar com o ex-presidente Álvaro Uribe (2002-2010), que fez campanha pelo não no plebiscito, e que acabou saindo como o maior vitorioso da rejeição dos colombianos ao acordo de paz.
Após a derrota no plebiscito, Santos admitiu que as negociações teriam que seguir em uma “nova realidade política”. Uribe felicitou Santos pelo prêmio e manifestou seu desejo de que ele “conduza a mudar acordos danosos para a democracia”. Por seu lado, as Farc vêm defendendo que o acordo de paz pode ser implementado mesmo com a derrota no plebiscito.
O último governante de um país a receber o cargo durante o seu mandato foi Ellen Johnson Sirleaf, a presidenta da Libéria, que em 2011 dividiu o prêmio com Leymah Gbowee e Tawakkul Karman. Antes dela, havia sido Barack Obama, presidente dos Estados Unidos, em 2009.
Bruno Lima Rocha não vê comparações entre a distinção a Santos e a outorga do prêmio a Obama, que classifica como “absurda” e “esdrúxula”. “Não é possível que o presidente da única superpotência militar do planeta seja um pacifista”, segundo o professor.
A comparação, na visão dele, é com o prêmio de 1994, que foi dado aos líderes de Israel – Yitzhak Rabin e Shimon Peres – e ao líder palestino, Yasser Arafat, após a assinatura dos Acordos de Oslo, um marco no processo de paz entre Israel e Palestina. “As condições de paz na Colômbia são menos controversas hoje do que a entrega do Nobel da Paz de 1994, que foi uma espécie de reconhecimento político para reforçar os que negociaram o acordo” e isolar os que se opuseram a ele internamente, segundo Lima Rocha.
Santos é a 15ª pessoa a receber o prêmio enquanto exercia a chefia de Estado ou de governo de seu país – a presidenta da Libéria é a única mulher dessa lista. Ele é o segundo colombiano a receber um Nobel – o primeiro foi Gabriel García Márquez, que foi agraciado com o Nobel de Literatura em 1982.
EXCLUSIVE. JUAN MANUEL SANTOS GETS THE NOBEL PEACE PRIZE NEWS. Listen to the call when Olav Njølstad, Secretary of the Norwegian Nobel Committee, delivers the news to Colombian President Juan Manuel Santos that he has been awarded the 2016 Nobel Peace Prize. ”This is a very important event for my country, for the victims of this war and this is a commitment to keep trying to bring peace to my country. I am so grateful.”
Publicado por Nobel Prize em Sexta, 7 de outubro de 2016
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Nobel da Paz para o presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos - Instituto Humanitas Unisinos - IHU