Por: André | 27 Mai 2016
Em uma carta aberta ao cardeal Baselios Cleemis, presidente da Conferência dos Bispos Católicos da Índia (CBCI), um jesuíta denuncia o silêncio dos bispos diante das violências cometidas contra dom Galella Prasad. Ele havia sido sequestrado e espancado a mando de três padres da sua diocese de Kadapa (Andhra Pradesh) que não suportavam o fato de terem um bispo dalit.
A reportagem é de Claire Lesegretain e publicada por La Croix, 23-05-2016. A tradução é de André Langer.
É um longo requisitório contra o episcopado indiano feito pelo Pe. A. X. J. Bosco, jesuíta e membro do Conselho Nacional dos Dalits Cristãos (NCDC), em uma carta aberta ao cardeal Baselios Cleemis, presidente da Conferência dos Bispos Católicos da Índia e publicada pela agência AsiaNews.
O Pe. A. X. J. Bosco denuncia o “doloroso silêncio” dos bispos indianos diante das violências cometidas contra dom Gallela Prasad, bispo de Kadapa, no Estado de Andhra Pradesh, no sudeste da Índia.
No último dia 25 de abril, dom Prasad foi preso ao retornar de carro para Kadapa após ter celebrado uma missa fora da cidade. Ele foi levado para uma área isolada, com os olhos vendados, e espancado durante quatro horas e finalmente abandonado, no dia seguinte, na beira de uma rodovia.
Três padres que pertencem a uma casta de latifundiários
Alguns dias depois, no dia 02 de maio, a polícia prendeu 14 pessoas, incluindo três padres, que, escreve o jesuíta, “contrataram mais de 10 “gundas” (matadores de aluguel) para cometer esse crime”. Os três padres, que pertencem a uma casta de latifundiários, reconhecerem ser os mentores do sequestro e espancamento do seu bispo pelo fato de ele ser de origem dalit.
“O ataque brutal contra dom Prasad, até agora não provocou nenhuma condenação por parte dos bispos indianos”, lamenta o jesuíta, recordando a única exceção: o cardeal Oswald Gracias, arcebispo de Mumbai, que enviou uma mensagem à AsiaNews, expressando sua dor e a proximidade de toda a Igreja católica.
O jesuíta pede ao cardeal Cleemis para “tomar uma posição oficial e expressar a solidariedade” de todos os bispos ao seu colega de ministério.
Dez padres, oito religiosos, mas nenhum bispo
O jesuíta recorda também que, entre as 1.500 pessoas que participaram do encontro de solidariedade no dia 16 de maio em Kadapa, organizado pelo Fórum de Cidadãos pela Justiça, estiveram “dez padres e oito religiosos, mas nenhum bispo”. A maioria dos participantes eram leigos vindos de Kadapa, mas também de Déli, Bangalore, Chennai e Hiderabad.
Ele recorda que no ano passado, após o estupro coletivo de uma freira de 75 anos em Ranaghat, ocorreram uma “grande manifestação cristã em Calcutá e declarações do episcopado na mídia nacional, e que era justo fazer o mesmo em relação a este crime”. O jesuíta está surpreso com o fato de que a hierarquia da Igreja, neste caso, não exige “uma punição severa dos culpados”.
“Se nenhum bispo reagiu oficialmente será por que dom Prasad é dalit e os três padres criminosos pertencem a uma casta dominante?”, pergunta o jesuíta. E afirma: “Nós sabemos que há uma discriminação de casta na Igreja e que este é um grande desafio para a comunidade cristã da Índia”.
Seis bispos dalits sobre um total de 156
De fato, a hierarquia católica na Índia é essencialmente representada pelas castas superiores. Em toda a Índia, de um total de 156 bispos, apenas seis são dalits, ou seja, apenas 4%, para uma população de 25 milhões de católicos, dos quais mais de 20 milhões são dalits. “Geralmente, o Vaticano aceita os candidatos propostos pela Conferência dos Bispos Católicos da Índia, mas ignora totalmente o fato de que a casta exerce um papel crucial na recomendação dos bispos”, resume o jesuíta.
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Padre jesuíta critica a atitude dos bispos indianos com os dalits - Instituto Humanitas Unisinos - IHU