Solenidade de todos os Santos e Santas - Ano B - Bem-aventurados aqueles e aquelas que sentem

31 Outubro 2024

"A vida dos santos e santas nos permite também escutar, ver, gostar, tocar, gerar a presença, a visita de Deus de formas diferentes e originaissimples e humana. Juntos a eles e elas, proclamemos com nossas vidas a fé que professamos: Aquilo que existia desde o princípio, o que ouvimos, o que vimos com nossos olhos, o que contemplamos e o que nossas mãos apalparam: falamos da Palavra, que é a Vida!"

A reflexão é de María Cristina Giani, religiosa da Congregação Missionárias de Cristo Ressuscitado, da qual atualmente é a Coordenadora Geral. Ela é graduada em teologia pela Universidade La Salle - Unilasalle (2006) e possui especialização em espiritualidade pela Università Pontifícia Salesiana - UPS (2000). Atua em pastorais sociais com mulheres em situação de vulnerabilidade social e como orientadora de retiros.

Leituras do Dia

1ª Leitura - Ap 7,2-4.9-14
Salmo - Sl 23(24),1-2.3-4ab.5-6 (R. cf. 6)
2ª Leitura - 1Jo 3,1-3
Evangelho - Mt 5,1-12

Eis o texto

A liturgia deste domingo nos convida a nos unir no eterno louvor a Deus que cantam tantos homens, mulheres, jovens, crianças de todas as cores, gerações e tempos. Aqueles/as, como diz o livro de Apocalipses, estão de pé diante do trono e do Cordeiro, com vestes brancas e palmas na mão proclamando o que suas vidas professaram: “A salvação pertence ao nosso Deus” (Ap 7,10).

A vocação à santidade é um chamado a viver o presente do amor do Pai, ser seus filhos e filhas muito amados/as no seguimento e semelhança de nosso Irmão Maior Jesus Cristo.

Para bem celebrar esta festa, precisamos desconstruir um modelo de santidade desumanizador e inalcançável, baseado muitas vezes no perfeccionismo, legalismo e força de vontade. Os santos e santas não são super-homens, nem supermulheres, são seres humanos como qualquer um/a de nós, com suas imperfeições e quedas, mas que não desistiram de caminhar, de correr para a meta e agradaram ao Senhor, como diz o Papa na exortação sobre o chamado a santidade no mundo atual (cfr GE 3).

Os santos e santas reconhecidos/as ou anônimos/as são as pessoas que, como resposta ao Amor de Deus, experimentaram e abraçaram na sua fragilidade o projeto do Reino e buscaram vive-lo coerentemente à imagem de Jesus o Santo de Deus. Por isso, ao olhar para eles/as, suas vidas nos dão a conhecer o Evangelho e o modo de viver de Jesus plenamente humano. Portanto, a santidade não nos torna menos humanos, porque é o encontro de nossa fragilidade com a força da graça (GE 34).

O Evangelho de hoje nos apresenta a Jesus, o Mestre, que sobe ao monte e se senta para partilhar, com seus discípulos e discípulas, seu modo de ser, o qual revela o caminho da santidade!

Sem dúvida, ao escrever este texto dirigido especialmente a uma comunidade de cristãos/cristãs proveniente do judaísmo, Mateus busca evocar neles e nelas a imagem de Moisés que, do alto do monte, apresenta ao povo de Deus as tábuas da lei, o código da antiga Aliança.

Desta maneira, o evangelista está revelando aos seus ouvintes a novidade que Jesus traz, a boa nova do Reino: é um jeito de viver que nasce do interior da pessoa como resposta ao amor de Deus, vida nova que nasce do Espírito e é movida pelo Espírito, artesão de santidade no coração humano.

Para redescobrir o caminho da santidade escondido nas bem-aventuranças, proponho-lhes adentrar no texto do evangelho através de nossos sentidos.

Primeiro, escutemos a palavra que Jesus repete no seu ensinamento de hoje, BEM-AVENTURADOS/AS..., felizes... deixemos que ela ressoe em nós. Jesus quer nossa felicidade, escutemos e acolhamos o caminho que nos propõe para alcançá-la, um caminho que, como disse Francisco, está decididamente contracorrente ao que é proposto na sociedade de hoje, o mundo conduze-nos para outro estilo de vida.

Depois, olhemos para a vida de Jesus, o BEM-AVENTURADO por excelência, o feliz. Olhemos para Jesus pobre, aflito, manso, com fome e sede de justiça, misericordioso, puro de coração, promotor da paz, perseguido por causa da justiça. Deixemos que sua vida nos encante em cada um de seus gestos, movimentos, ações, relações.

Precisamos gostar, saborear a vida que brota desta mensagem, vida que vence a morte, que consola, transforma, gera esperança e misericórdia. Vida que se multiplica através dos discípulos e discípulas de Jesus, que se dispõem a viver como Ele. Sim, saboreemos esta vida em abundância que nos oferecem as bem-aventuranças.

Sintamos, também, o “cheiro” destas palavras. São Paulo nos fala na carta aos Coríntios do perfume de Cristo (2Cor 2,15), podemos sentir esse perfume? Quem exala esse perfume para nós? O apóstolo fala de um perfume de vida e um perfume de morte. Para sentir e exalar o perfume das bem-aventuranças precisamos saber discernir, nos movimentos que vivemos, o que nos aproxima ou nos afasta do Projeto do Reino.

Finalmente, tomemos entre nossas mãos estas palavras que brotam de boca do Mestre. Que peso têm? Sentindo seu peso, sentimos também nossa fragilidade que nos leva a clamar ao Espírito para que venha em socorro de nossa fraqueza e faça em nós a obra que só Ele pode fazer, assemelhar-nos a Jesus o Bem-aventurado, o Santo, o Feliz.

A vida dos santos e santas nos permite também escutar, ver, gostar, tocar, gerar a presença, a visita de Deus de formas diferentes e originais, simples e humana. Juntos a eles e elas, proclamemos com nossas vidas a fé que professamos: Aquilo que existia desde o princípio, o que ouvimos, o que vimos com nossos olhos, o que contemplamos e o que nossas mãos apalparam: falamos da Palavra, que é a Vida!


Finalizo com a poesia de Dom Pedro Casaldáliga:

 

Dizer teu nome Maria,

porque ela é a primeira da bem-aventuradas!

Dizer teu nome Maria
É dizer que a pobreza compra os olhares de Deus

Dizer teu nome Maria
É dizer que a promessa vem com leite de mulher

Dizer teu nome Maria
É dizer que nossa carne veste o silêncio do Verbo

Dizer teu nome Maria
É dizer que o Reino chega caminhando com a história

Dizer teu nome Maria
É dizer ao pé da Cruz e nas chamas do Espírito

Dizer teu nome Maria
É dizer que todo Nome pode estar cheio de Graça

Dizer teu nome Maria
É dizer que toda Morte pode ser também a Páscoa

Dizer teu nome Maria
É chamar-te Toda Sua, causa da nossa alegria

Dizer teu nome Maria
É dizer que todo nome pode estar cheio de Graça

Dom Pedro Casaldáliga

 

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