11º Domingo do Tempo Comum – Ano B – Com Jesus o Reino de Deus chegou

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Por: MpvM | 11 Junho 2021


"O imanente é a parte do Reino que está dentro de nós, que depende das nossas escolhas, dos nossos atos, de entendermos que um dia teremos que prestar contas desta vida peregrina que vivemos. “Aliás, todos nós temos de comparecer às claras perante o tribunal de Cristo, para cada um receber a devida recompensa – prêmio ou castigo – do que tiver feito ao longo de sua vida corporal. ” (2Cor 5,10)

"E no transcendente de sua existência o Reino está para além de nós, ele maior que nós, e não depende só da nossa vontade, mas também da vontade de Deus. E a nós, nesta hora, só nos basta ter fé e crer na força da sua existência neste mundo, mesmo que tudo nos pareça tão difícil agora. Talvez seja necessário ao mundo de hoje olhar para Jesus como nosso grande cedro que queremos abraçar e reconhecer, que temos uma fé do tamanho do grão de mostarda, mas com potência de nos alimentar e fortalecer.

A reflexão é de Viviane Moreira, mestre em Teologia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro - PUC-Rio. Ela trabalha no Instituto Interdisciplinar de Leitura e Cátedra Unesco de Leitura PUC -Rio no Setor de Comunicação e Tecnologia da Informação e Comunicação. Tem experiência como assessora de CEBs, Pastoral da Juventude e na área de Educação, com ênfase em Educação a Distância, atuando principalmente no seguinte tema: Transdisciplinaridade, Feminismo, Religião e Tecnologia de Informação e Comunicação.

 

 

Leituras do Dia


1ª Leitura - Ez 17,22-24
Salmo - Sl 91,2-3.13-14.15-16 (R. Cf. 2a)
2ª Leitura - 2Cor 5,6-10
Evangelho - Mc 4,26-34


Em tempos de pandemia, guerras, mortes banalizadas, irrupção de homofobia, xenofobia, racismo, intolerância religiosa, violência do estado e tantas outras mazelas que nos assombram, o os textos deste domingo vêm nos questionar sobre a nossa fé no Reino de Deus e na sua vinda. E as imagens utilizadas nos textos de hoje não são fáceis, pois a princípio nos parecem antagônicas. Mas é preciso entender o contexto em que essas imagens são apresentadas para não entrarmos naquilo que considero “uma bipolaridade cristã”.

Primeiro temos em Ezequiel o anúncio do Senhor que tomará do “cimo do cedro” um broto, bem lá de cima do topo da árvore, e irá plantá-lo no alto do monte para crescer forte e ser habitação de todas as espécies de aves e ser vista por todos.

Numa altura de quase dois mil metros de altitude, os cedros do Líbano fascinam pela sua majestade e seu verde eterno. Famosa pela madeira imperecível, estas árvores foram exploradas desde a Antiguidade. Na época fenícia, sua madeira foi extraída e m grande quantidade, em particular para o Egito e para as colônias fenícias do Mediterrâneo.

O rei Salomão encomendou uma grande quantidade ao Rei Hiram, de Tiro, para a construção do templo de Jerusalém, enquanto os egípcios a utilizaram para a construção de navios e sarcófagos.

Hoje, da imensa floresta que cobria toda a montanha do Monte Líbano não existem mais que algumas reservas isoladas em Jaj, Tannourine, Ehden, Baruk e Maaser Al-chuf. Porém, a mais célebre destas florestas é sem dúvida a de Becharre, classificada como Patrimônio da Humanidade pela UNESCO, que agrupa árvores de cedros centenárias, algumas até milenares, de tamanho e beleza admiráveis. Medindo mais de 30 metros de altura possuem longos troncos tortuosos e galhos abertos como braços em oração.

Que linda imagem! Linda e necessária! Quando o profeta Ezequiel pregou sua mensagem, no século 5 antes de Cristo, ele e seus ouvintes estavam exilados, distantes de sua terra e frustrados em seus sonhos.

Quando a desesperança é grande, é necessária uma forte utopia. É como se Deus pedisse ao seu povo que olhasse para o cedro e se sentisse forte como ele.

Eu nasci no interior, brincando debaixo das mangueiras e dos enormes bambuzais. Isso é tão forte para mim, que na primeira aula de eclesiologia, quando a professora e teóloga Ana Maria Tepedino nos pediu que criássemos nossa própria imagem da Igreja, assim como Paulo, eu logo pensei no Bambuzal forte, com várias hastes unidas, mas suave e vergando ao vento do Espírito.

O povo de Israel no tempo de Ezequiel, precisava da sombra do Cedro. Precisava crer como diz o Salmista que “o justo crescerá como a palmeira, florirá igual ao cedro que há no Líbano; na casa do Senhor estão plantados, nos átrios de meu Deus florescerão”.

Mas então Marcos nos traz Jesus com duas imagens bem diferentes da de Ezequiel; primeiro ele nos avisa que O Reino Deus é como uma semente que alguém jogou por ali e ela por si só, sem que o agricultor entenda como, nasceu, cresceu, deu frutos e aí ele foi lá e colheu os frutos.

E ainda continua: nos conta que o Reino é como uma semente de mostarda, uma semente extremamente pequena, com cerca de 1,5 milímetros de diâmetro. Mas apesar do seu tamanho, depois de germinada, pode alcançar até de 3 metros de altura. Não é um cedro, com certeza.

Então Jesus discorda de Ezequiel?

Não, Ezequiel anunciava o Reino e falava da sua beleza e grandeza; com Jesus o Reino de Deus chegou, ele já está no meio de nós. Ele, Jesus, é próprio cedro, em suas palavras e ações, em seu amor incondicional pelo ser humano. Jesus nos fala das duas formas de fazer parte deste Reino: no imanente e no transcendente.

O imanente é a parte do Reino que está dentro de nós, que depende das nossas escolhas, dos nossos atos, de entendermos que um dia teremos que prestar contas desta vida peregrina que vivemos. “Aliás, todos nós temos de comparecer às claras perante o tribunal de Cristo, para cada um receber a devida recompensa – prêmio ou castigo – do que tiver feito ao longo de sua vida corporal. ” (2Cor 5,10)

E no transcendente de sua existência o Reino está para além de nós, ele maior que nós, e não depende só da nossa vontade, mas também da vontade de Deus. E a nós, nesta hora, só nos basta ter fé e crer na força da sua existência neste mundo, mesmo que tudo nos pareça tão difícil agora. Talvez seja necessário ao mundo de hoje olhar para Jesus como nosso grande cedro que queremos abraçar e reconhecer, que temos uma fé do tamanho do grão de mostarda, mas com potência de nos alimentar e fortalecer.

No mais, aceitemos hoje o conselho de Santo Inácio de Loyola: “Trabalha como se tudo dependesse de ti e confia como se tudo dependesse de Deus”.

 

Referências:


BAUER, B. Johannes, Dicionário Bíblico Teológico. Edições Loyola, São Paulo, 2000.
CEDRO, ÁRVORE SAGRADA DO LÍBANO. In.: http://familyd.net/centrodeestudos

 

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