Por: MpvM | 26 Janeiro 2018
O povo simples sabe distinguir os dois tipos de ensinamentos e admira e reconhece o ensinamento de Jesus. Ele “ensina como quem tem autoridade”! Essa autoridade de Jesus brota da coerência entre o que ele vive e crê com o que ele faz. Sua vida e gestos corroboram suas palavras. Não são palavras ocas o que ele fala. Seus ensinamentos são corroborados com suas ações. Ali está o segredo da autoridade de Jesus e do encantamento verdadeiro que sua pessoa produz.
A reflexão é de Maria Cristina Giani, religiosa da Congregação Missionárias de Cristo Ressuscitado, MCR, da qual atualmente é a Coordenadora Geral. Ela possui graduação em teologia pela Universidade La Salle - Unilasalle (2006) e especialização em espiritualidade pela Università Pontifícia Salesiana - UPS (2000). Atualmente atua em pastorais sociais com mulheres em situação de vulnerabilidade social e como orientadora de retiros.
Referências Bíblicas
1ª Leitura – Deut 18,15-20
Salmo 94 (95)
2ª Leitura – 1 Cor 7, 32-35
Evangelho – Mc 1, 21-28
Neste quarto Domingo do Tempo Comum o Evangelho do dia nos apresenta a Jesus na sinagoga de Cafarnaum.
Primeiro quero partilhar alguns dados que nos ajudem a situar-nos no texto.
Cafarnaum era uma aldeia de pescadores, que se estendia pela margem do lago de Galileia. Poderíamos dizer que é um povoado importante, se comparado com Nazaré ou Naim, com boa comunicação tanto com o resto da Galileia como com os territórios vizinhos. Talvez por isso Jesus a tinha escolhido como lugar estratégico para desenvolver sua missão itinerante.
A sinagoga era o espaço onde se reuniam os vizinhos, sobretudo aos sábados. Ali rezavam, cantavam salmos, discutiam problemas do povoado ou se informavam dos acontecimentos mais importantes da vizinhança. No sábado liam e comentavam as Escrituras, e oravam a Deus pedindo a libertação do seu povo. Era, sem dúvida, um bom contexto para dar a conhecer a boa notícia do Reino de Deus.
Marcos nos situa hoje com Jesus e um grupo de pescadores e camponeses. Deveria estar também algum levita ou doutor da lei por perto, na sinagoga de Cafarnaum, no dia de sábado.
E Jesus “começou a ensinar”. O texto não narra o que Jesus ensina. Só diz que “as pessoas ficavam admiradas com seus ensinamentos porque Ele ensinava como quem tem autoridade e não como os doutores da Lei”.
Os ensinamentos de Jesus brotam da experiência de Deus que ele vive. Não são um conjunto de normas ou leis a cumprir, senão a partilha de um jeito de viver movido pelo Espírito de Deus, que liberta e dá vida.
Semanas atrás celebramos o batismo de Jesus no rio Jordão, uma narração presente nos quatro evangelhos pela importância desse acontecimento na vida de Jesus: “Tu és meu Filho amado, em ti encontro meu agrado” (Mc 1,11). Sem dúvida desde pequeno Jesus terá vivido o amor de Deus através do amor e ensinamentos de Maria e de José. Mas a ida ao deserto para viver com João Batista e sua descida, junto com tantos homens e mulheres necessitados, ao rio Jordão, o preparam para viver e perceber quanto Deus o ama e n’Ele quão grande e terno é o amor de Deus por todas as criaturas.
Esse amor de Deus é o que Jesus revela e partilha em seus ensinamentos, um amor que tem predileção pelos pequenos, que não faz exceção de pessoas, que liberta os oprimidos, consola os tristes e que devolve a esperança de viver. Isso foi o que Jesus falou em outra sinagoga, segundo o Evangelho de Lucas, revelando, assim, o rosto de Deus compassivo, que não é indiferente ao sofrimento de suas criaturas. Sua compaixão o levou a se fazer um de nós para caminhar conosco abrindo caminhos de vida e liberdade.
Escutar estas palavras de Jesus é um bálsamo de ternura e esperança para o coração deste povo sofrido e oprimido tanto tempo por diferentes impérios. Nada tem a ver com os ensinamentos dos escribas ou mestres da lei, que segundo as mesmas palavras de Jesus só sabem colocar “fardos pesados” nas costas das pessoas, e fazem a vida da pessoa escrava de lei de Deus. Com certeza esse não é o Deus de Jesus!
O povo simples sabe distinguir os dois tipos de ensinamentos e admira e reconhece o ensinamento de Jesus. Ele “ensina como quem tem autoridade”! Essa autoridade de Jesus brota da coerência entre o que ele vive e crê com o que ele faz. Sua vida e gestos corroboram suas palavras. Não são palavras ocas o que ele fala. Seus ensinamentos são corroborados com suas ações. Ali está o segredo da autoridade de Jesus e do encantamento verdadeiro que sua pessoa produz.
Isto é o que acontece naquele sábado: se escuta no meio das pessoas que O estão ouvindo o grito de uma pessoa que o evangelho descreve como possuída por um espírito mau. Que seria esse “espírito mau”? Geralmente essa terminologia na Bíblia se emprega para pessoas com diferentes tipos de doenças, desconhecidas para a época.
Hoje podemos colocar nomes e rostos de pessoas escravas por diferentes situações: meninas e mulheres “traficadas”, famílias inteiras fugindo de suas casas, povos dizimados, jovens desorientados... E podemos também nos colocar, cada um, cada uma de nós no lugar dessa pessoa atormentada.
É interessante que este homem disse saber quem é Jesus - “Eu sei quem tu és: tu és o santo de Deus” - e que veio para destruí-lo! Que equivocado está! Nada mais oposto à ação de Jesus, que a destruição da vida das pessoas. A compaixão de Deus que configura o ser e agir de Jesus gera vida, liberta a vida, cuida a vida!
Este homem atormentado revela nas suas palavras umas das escravidões mais profundas que podemos carregar: a de uma falsa imagem de Deus, um Deus que destrói, que mata, que fere, que divide não é o Deus de Jesus de Nazaré, nem dos grandes profetas! Por isso a reação de Jesus é imediata e forte: “Cala-se e sai dele”!
Ao longo da história se fez e se continua fazendo barbáries em nome de Deus, se tem julgado, estigmatizado, excluído e matado pessoas e povos inteiros em nome de Deus! Quanta hipocrisia!
Precisamos perguntar-nos: qual é a imagem de Deus que temos porque, com certeza, ela orienta sentimentos, afetos, opções e ações.
O Papa Francisco não se cansa de repetir que Deus é Misericórdia e nos convida a ser misericordiosos como nosso Deus Pai-Mãe é misericordioso, para assim construir uma cultura de misericórdia que abrace toda a humanidade, toda a criação.
De que maneira? Como fazê-lo? Como o Espírito de Jesus nos inspira, somos convocados a ser na nossa família, na nossa sociedade, no nosso país “artesãos” de misericórdia.
E termino fazendo oração algumas palavras da Mensagem do Papa pelo dia mundial dos pobres:
Benditas as mãos que se abrem para acolher os pobres e socorrê-los: são mãos que levam esperança.
Benditas as mãos que superam toda a barreira de cultura, religião e nacionalidade, derramando óleo de consolação nas chagas da humanidade.
Benditas as mãos que se abrem sem pedir nada em troca, sem «se» nem «mas», nem «talvez»: são mãos que fazem descer sobre os irmãos a bênção de Deus.
Como Jesus, que nossa vida, gestos e palavras sejam benção do Deus da Misericórdia e compaixão para toda a humanidade.
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4º domingo do tempo comum - Um ensinamento novo, dado com autoridade - Instituto Humanitas Unisinos - IHU