27 Janeiro 2012
A leitura que a Igreja propõe neste domingo é o Evangelho de Jesus Cristo segundo Marcos 1, 21-28, que corresponde ao 4º Domingo do Tempo Comum, ciclo B do Ano Litúrgico). O teólogo espanhol José Antonio Pagola comenta o texto.
Eis o texto
AQUELE QUE CURA
Segundo Marcos, a primeira aparição pública de Jesus foi a cura de um homem possuído por um espírito maligno na sinagoga de Cafarnaum. É uma cena impressionante, narrada para que, desde o início, os leitores descubram a força de Jesus que cura e que liberta.
É sábado e o povo encontra-se reunido na sinagoga para escutar o comentário da Lei explicada pelos escribas. Pela primeira vez Jesus vai proclamar a Boa Nova de Deus precisamente no lugar onde se ensina oficialmente ao povo as tradições religiosas de Israel.
As pessoas ficam surpreendidas ao escutá-lo. Têm a impressão de que até agora estiveram a escutar notícias velhas, ditas sem autoridade. Jesus é diferente. Não repete o que ouviu a outros. Fala com autoridade. Anuncia com liberdade e sem medos de um Deus Bom.
De repente um homem «põe-se a gritar: Vieste acabar conosco?». Ao escutar a mensagem de Jesus, sentiu-se ameaçado. O seu mundo religioso derruba-se. Diz-nos que está possesso por um «espírito imundo», hostil a Deus. Que forças estranhas o impedem de continuar a escutar Jesus? Que experiências más e perversas lhe bloqueiam o caminho até o Deus Bom que lhe anunciam?
Jesus não se acovarda. Vê o pobre homem oprimido pelo mal, e grita: «Cala-te e sai dele». Ordena que se calem essas vozes malignas que não o deixam encontrar-se com Deus nem consigo mesmo. Que recupere o silêncio que cura o mais profundo do ser humano.
O narrador descreve a cura de forma dramática. Num último esforço para destruí-lo, o espírito «retorceu-o e, dando um grito muito forte, saiu». Jesus conseguiu libertar o homem da sua violência interior. Pôs fim às trevas e ao medo a Deus. Daí em diante poderá escutar a Boa Nova de Jesus.
Não são poucas pessoas que vivem o seu interior com imagens falsas de Deus que lhes faz viver sem dignidade e sem verdade. Sentem-No, não como uma presença amistosa que convida a viver de forma criativa, mas como uma sombra ameaçadora que controla a sua existência. Jesus sempre começa a curar libertando de um Deus opressor.
As Suas palavras despertam a confiança e fazem desaparecer os medos. As Suas parábolas atraem para o amor à Deus, e não para a sustentação cega da lei. A Sua presença faz crescer a liberdade, não os servilismos; suscita o amor à vida, não o ressentimento. Jesus cura, porque ensina a viver apenas da bondade, do perdão e do amor que não exclui ninguém. Cura porque liberta do poder das coisas, do autoengano e da egolatria.
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Jesus sempre começa a curar libertando de um Deus opressor. - Instituto Humanitas Unisinos - IHU