10 Mai 2011
A ONU confirmou ontem, em Genebra, que um barco com 600 imigrantes afundou no Mar Mediterrâneo, perto da Líbia, matando quase todos os seus ocupantes. O acidente, que ocorreu na sexta-feira, é o maior registrado durante a onda de imigração ilegal do Norte da África. Na Europa, eurodeputados denunciaram a tentativa dos governos de França e Itália de restabelecer os controles de fronteira como sendo o "fim" dos pilares da integração do continente.
A reportagem é de Andrei Netto e publicada pelo jornal O Estado de S.Paulo, 11-05-2011.
Segundo a investigação realizada pela a Agência das Nações Unidas para Refugiados (Acnur), o barco com 600 imigrantes líbios naufragou no Mar Mediterrâneo minutos após deixar Trípoli. "Sabemos que há sobreviventes que sabem nadar e conseguiram chegar à praia, mas acreditamos que sejam poucos", lamentou a porta-voz da agência, Melissa Fleming.
Imigrantes que navegavam em outro barco afirmaram terem visto um barco que afundava e, em seguida, corpos que flutuavam. Testemunhas na Líbia disseram ter visto destroços do barco naufragado e sobreviventes nadando de volta para a praia. Segundo Melissa, um diplomata somali informou à agência da ONU que 16 corpos, incluindo o de dois bebês, foram resgatados no mar.
Desde 25 de março, mais de 15 mil africanos de origem árabe deixaram o continente em barcos de pesca em direção à ilha de Lampedusa, na Itália, e outros portos da Europa. Pelo menos 800 pessoas teriam morrido em naufrágios, sem incluir os 600 imigrantes mortos na sexta-feira. Cinco barcos com mais de 2,4 mil imigrantes ilegais chegaram recentemente a Lampedusa.
A agência para refugiados pediu aos países europeus que façam mais para ajudar as pessoas que estão fugindo da violência em seus países. Ela também pediu a todos os navios que trafegam pelo Mediterrâneo que estejam preparados para oferecer assistência a barcos que levam imigrantes da Líbia para a Europa.
Na segunda-feira, a Organização para o Tratado do Atlântico Norte (Otan) e as guardas costeiras de países europeus foram acusadas de ter ignorado um barco com imigrantes ilegais que estava à deriva no Mediterrâneo.
Omissão
O incidente ocorreu entre os dias 25 de março e 10 de abril e causou a morte, por inanição, de 61 imigrantes. Entre os mortos estavam imigrantes da Etiópia, da Nigéria, da Eritreia e do Sudão. Ao todo, haveria 20 mulheres a bordo e duas crianças, entre as quais um bebê de 1 ano.
A Acnur abriu uma investigação para apurar a suspeita de omissão de socorro no Mar Mediterrâneo, o que contraria as convenções internacionais sobre o tráfego marítimo. A porta-voz da aliança atlântica, Carmen Romero, rejeitou a acusação. "Apenas um porta-aviões estava sob comando da Otan nessa data, o navio italiano Garibaldi, e ele estava a mais de 100 milhas náuticas da costa. Logo, todas as declarações que afirmem que um porta-aviões da Otan foi visto e teria ignorado o barco à deriva são falsas", afirmou.
PARA LEMBRAR
Paris impediu trem de circular
No dia 17, a França interrompeu por várias horas o tráfego de uma ferrovia que liga o país à Itália para impedir que um trem repleto de imigrantes tunisianos em busca de refúgio na Europa entrasse em solo francês.
No dia seguinte, a União Europeia respaldou a decisão de Paris, alegando que o governo tinha o direito de impedir a entrada dos ilegais. Ao mesmo tempo, Suíça, Alemanha e Áustria intensificaram o controle em suas fronteiras com a Itália para conter o fluxo imigratório dos habitantes do Norte da África.
Dias depois, em carta oficial ao presidente da Comissão Europeia, José Manuel Barroso, França e Itália propuseram que o livre trânsito de pessoas entre os países do bloco fosse revisto.
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ONU confirma naufrágio de barco com 600 imigrantes perto da Líbia - Instituto Humanitas Unisinos - IHU