09 Mai 2011
Todos estão salvos, mas só porque a boa sorte e uma incrível cadeia humana de coragem, generosidade e solidariedade os retirou daquele mar que, a poucas centenas de metros do porto, os teria engolido na escuridão da noite, como havia acontecido poucas horas antes no mar de Trípoli com outros infelizes.
A reportagem é de Francesco Viviano, publicada no jornal La Repubblica, 09-05-2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Era pouco mais das quatro horas da manhã em Lampedusa, na Itália, quando os gritos dos 528 refugiados que estavam para aportar acordaram a ilha: um barco contra os recifes, centenas de migrantes na água, homens de uniforme e moradores da ilha que se jogavam entre as ondas a fim de salvá-los.
O barco em que viajavam, fora de controle por causa da quebra do leme, havia desabado contra as rochas. A bordo, com os imigrantes, havia também três homens da Guarda de Finanças, que subiram para governar o barco a alguns quilômetros antes da entrada do porto, depois que a embarcação havia sido interceptada. A rapidez e o profissionalismo dos militares impediu que esse dramático acidente se transformasse em algo pior.
Ao amanhecer, os refugiados, provenientes da África subsaariana, incluindo 24 mulheres grávidas e inúmeras crianças, estavam salvos. Recuperados entre as ondas por uma corrente humana composta pelas forças da ordem, pescadores, cidadãos de Lampedusa e voluntários das associações humanitárias.
As operações para levá-los à margem prosseguiram por uma hora e meia. "Foi uma bela operação de equipe", disse o comandante da capitania dos portos Antonio Morana, "e assim foi evitada uma terrível tragédia". E o presidente da República, Giorgio Napolitano, manifestou uma "sincera admiração pelas forças da ordem e pelos voluntários que salvaram centenas de refugiados africanos". "Partem da Líbia nestes dias embarcações com o perigo do naufrágio e da morte", disse o chefe de Estado. "Por iniciativa de traficantes criminosos sem escrúpulos e com a cumplicidade de autoridades irresponsáveis".
O barco havia sido interceptado no sábado por uma lancha-patrulha maltesa que se limitou a "escoltá-lo" até os limites das águas territoriais italianas, a 12 milhas de Lampedusa. Nesse ponto, as autoridades italianas foram avisadas, e, da ilha, zarpou o "GC 104 Puleo" da Guarda de Finanças para acompanhá-lo.
A embarcação exibia a bandeira verde da Líbia: é a primeira vez que isso acontece, e isso foi interpretado como uma espécie de "assinatura" de Kadafi. O prefeito Bernardino De Rubeis não usou meios termos: "Assim como eles encontraram uma solução para o Bin Laden, a Europa ou os Estados Unidos devem fazer o mesmo com Kadafi. Em Lampedusa, estamos perto do desespero". E reconheceu a possibilidade de um acampamento: "Nós não podemos nos dar ao luxo de continuar fazendo com que centenas de imigrantes circulem na ilha: melhor fazer um".
Poucas horas antes de os 528 refugiados, haviam chegado outros 800 imigrantes que haviam assistido ao vivo o naufrágio do outro barco em frente à costa da Líbia. "Eles estavam na nossa frente quando o barco, que estava sobrecarregado, virou: foi terrível, havia muitos corpos", disse um deles.
Os imigrantes que desembarcaram em Lampedusa, levados para a primeira assistência na ex-base norte-americana Loran, foram transferidos para o navio Flaminia que os levará para a Sicília e Puglia, nos centros de acolhida para refugiados políticos. Os últimos desembarques confirmam que o fluxo proveniente da Líbia está apenas começando.
Um dos sobreviventes do naufrágio, que diz se chamar John e ser líbio, confirmou que os soldados de Kadafi os pressionam para ir embora, para a Itália. "Eles administram esse tráfico – diz ele – fazendo-nos pagar de mil e a mil e quinhentos dólares".
O fato de que haverá um êxodo em massa para a Itália é confirmado pelo ministro do Interior, Roberto Maroni: "O fluxo de clandestinos da Tunísia parou". Para os desembarques da Líbia é necessário que acabe o conflito, para que não "haja mais refugiados". E acrescenta: "Com a temporada de verão, as estatísticas estão destinadas a registrar números de dezenas de milhares de migrantes que chegam às nossas costas". E neste domingo, para monitorar a situação, chegou o comissário extraordinário para emergências, Franco Gabrielli.
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Um barco contra as rochas, e 500 imigrantes salvos entre as ondas - Instituto Humanitas Unisinos - IHU