18 Janeiro 2011
"Você viu? Para festejar o 150° da Unidade, refizemos a Itália: Pomigliano e Mirafiori unidas na luta". Antonio Di Luca é um dos motores da fábrica napolitana que, pela primeira vez, colocou um bastão entre as rodas da máquina de guerra de [Sergio] Marchionne [presidente mundial da Fiat].
A reportagem é de Loris Campetti, publicada no jornal Il Manifesto, 18-01-2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Ele já contou a sua história e a sua vida por ocasião do primeiro referendo, o napolitano, em que os operários votaram 40% contra a chantagem da Fiat. Jovem, pai de duas crianças, mulher sem emprego. O seu é o único salário que entra na casa. O contracheque de dezembro dizia menos de 1.000 euros, aos quais se acrescenta a renda familiar. Nos portões de Mirafiori, ele não conseguiu sair com os seus companheiros, estava emprenhado em envolver intelectuais e artistas na greve do dia 28, da Fiom [Federação dos Empregados Operários Metalúrgicos, na sigla em italiano].
Antonio festejou o resultado turinense, naturalmente, porque o "não" operário de Mirafiori superou o de Pomigliano. A sua primeira consideração é cheia de amargura do que de raiva: "Destruiu-me ver na TV velhos operários em lágrimas, discutindo entre companheiros de trabalho. A guerra entre pobres desencadeada por um ricaço é uma verdadeira barbárie. Querem nos dividir, nos humilhar para nos derrotar. E se penso em todos aqueles que se opõem a Berlusconi e depois louvam o moderníssimo patrão do vapor, não consigo acreditar. Você conhece os rostos dos operários, e nos dias de Pomigliano e de Mirafiori demonstraram uma antiga dor".
Telefone, Facebook, Internet, todos os instrumentos úteis à comunicação operária foram postos em campo. "Acompanhei passo a passo as fadigas de Sísifo dos companheiros de Turim, iguais às nossas. E sabe o que eu lhe digo? Que tanto lá quanto aqui fomos nós que vencemos. É ruim ver Marchionne contando os votos, fingindo não saber que o consenso, que nem é um consenso, mas sim a aceitação desesperada de uma chantagem, chegou-lhe de quem trabalha distante das correntes. Mas são justamente os operários de linha os destinatários do ataque sádico de Marchionne, os mesmos que lhe disseram `não` com maioria absoluta".
Antonio insiste e se apaixona. Pensa por imagens, aquelas imagens nos portões que explicam a dor de quem disse "sim" e a raiva de quem disse "não". "Marchionne não se abateu de verdade, porque ele não tem ao seu lado pessoas que se consomem nas linhas. Ele só tem ao seu lado os chefes do sindicato FIM e da Uilm [União Italiana dos Trabalhadores Metalmecânicos, na sigla em italiano], transformados em cães de guarda. Ele deve saber que as fábricas assim não podem ser administradas".
Antonio escreveu na memória as especulações de Marchionne, quando acusava os operários de Pomigliano de absenteísmo para justificar o seu ataque aos direitos. "Você sabe que eu não tive um dia de doença em cinco anos? Quando se tentou bombardear Mirafiori, ele disse aquilo que todos nós repetíamos no tempo do nosso referendo, isto é, que em Pomigliano o absenteísmo está abaixo da taxa fisiológica. Novamente, disse isso para nos dividir, primeiro nos difamou e depois nos expôs como exemplo positivo, acusando os companheiros de Mirafiori de vagabundagem, operários curvados pelas doenças contraídas nas linhas de montagem. São 1.500 os operários naquela fábrica com reduzidas capacidades de trabalho. É óbvio que aqueles mais reduzidos, com uma idade média muito mais alta do que a nossa, adoeçam mais".
Ele está com raiva daqueles que, também na Cgil e no Pd, repetia que Pomigliano era um caso único, que não se repetiria. "Tinham razão em nos vender a Fiom, a contra-atacar que Marchionne estava experimentando na nossa pele um modelo a ser estendido para toda a Fiat. Um modelo que atrai outros patrões. Mas as pessoas que fazem a política que dizem ser contra Berlusconi entendem ou não que Marchionne é o outro lado da mesma moeda?".
A última vez que Antonio entrou na fábrica para trabalhar foi no dia 14 de maior de 2010, "depois fui convocado para o referendo, quando tive que engolir duas ou três horas de gravações de Marchionne em que nos ameaçavam: se não votarem, sim, eu fecho tudo. Uma vergonha, nenhum respeito pelo sofrimento operário". Depois de anos de trabalho na linha como "bate-estaca" para substituir seus colegas, ou substituto ausente, como se quiser, Antonio passou para a "qualidade", revisão de montagem no fim da linha. Agora, está em dispensa remunerada, como todos em Pomigliano, há meses e por muitos meses ainda. Marchionne se lamenta que na Itália o número de automóveis por funcionário é a mais baixa do mundo. "Que cara de pau".
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"A Fiat não vai nos render" - Instituto Humanitas Unisinos - IHU