18 Abril 2012
Só na Itália, os "dependentes de jogos" são um milhão e levam as suas famílias à ruína. Há quem os ajude. A Igreja, com os missionários à frente, também deve se engajar.
A opinião é do padre comboniano Alex Zanotelli, que foi missionário em Nairóbi e hoje vive no bairro Sanità, em Nápoles, um dos símbolos da degradação social da Itália. O artigo foi publicado na revista Nigrizia, de abril de 2012. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Eis o texto.
Em meados de março passado, eu tive uma belíssima surpresa. No bairro Sanità, em Nápoles, depois do encontro que geralmente fazemos todas as quintas-feiras com a rede que reúne as diversas realidades que trabalham localmente, fui convidado para participar da primeira reunião do chamado "JA", ou seja, "jogadores anônimos".
Essa experiência dos "jogadores anônimos", não muito conhecida na Itália, é uma experiência extraordinária de grupos que ajudam as pessoas a sair da armadilha do jogo de azar compulsivo. O encontro foi dirigido por Ciro e Maria, marido e mulher, que há anos dedicam as suas noites para ajudar os jogadores de azar a mudar de caminho.
Foi importante para mim ouvir as experiências dos vários participantes: como se entraram na lógica do jogo (falamos de jogos lícitos [na Itália]: das máquinas caça-níqueis às raspadinhas), como foram levados a gastar e a arriscar cada vez mais, como perderam somas relevantes, como as famílias são envolvidas e muitas vezes desarticuladas...
Fiquei espantado quando me dei conta de como é extenso esse mundo e como podemos trabalhar para conter esse fenômeno. A lógica que move os "JAs" é a mesma dos "AAs", os alcoólicos anônimos. Eles se reúnem para compartilhar experiências, para receber apoio e esperança do grupo, com o objetivo de resolver o problema comum. Os grupos de autoajuda não são filiados a nenhuma seita ou partido ou Igreja.
No bairro Sanità, os jogos de azar são um problema sério. Ele está disseminados em particular entre os pobres, principalmente em momentos de graves dificuldades econômicas como os atuais. É claro que não é apenas um bairro ou Nápoles inteira que estão envolvidos, mas sim toda a Itália. No nosso país, há um milhão "dependentes de jogos" que coenvolvem nos seus problemas outros seis milhões de pessoas. Quem joga, de fato, muitas vezes arrasta para o problema o círculo familiar e os amigos.
Na Itália, há cerca de 400 mil máquinas caça-níqueis, 15% a mais do que em outros países europeus. Nos jogos de azar, estamos no primeiro lugar na Europa. E não devemos esquecer que o crime está muito ligado a esse negócio. A Camorra [máfia napolitana] também impõe o controle territorial através dos gestores das salas de jogos. Em Nápoles, isso é particularmente evidente.
O dinheiro que movimenta os jogos de azar atingem cifras impressionantes. De 2005 a 2011, as apostas chegaram a 309 bilhões de euros [752 bilhões de reais]. Neste ano, prevê-se que esse número irá aumentar em mais 100 bilhões [243 bilhões de reais]. Portanto, estamos falando de um negócio que aumenta exponencialmente.
Podemos dizer que os jogos de azar italianos são uma máquina de guerra que faz vítimas todos os dias. Mas é o próprio Estado italiano que está profundamente instalado nessa máquina mortal. Por exemplo, através da publicidade: de cada 10 comerciais de TV, 3 são focados nos jogos de azar, e é o Estado que promove tudo isso. Isso é escandaloso. Recentemente, Andrea Riccardi, ministro da Cooperação Internacional, interveio para estigmatizar essa ligação entre o Estado e os jogos de azar.
Voltando aos encontros. O jogador inveterado que deles participa deve levar alguém da família consigo, porque a família é envolvida pela força das coisas. Os animadores me asseguraram que são muitas vezes são testemunhas de autênticas vitórias: os doentes dos jogos deixam as margens do azar e ressurgem. E é uma verdadeira alegria.
É importante, especialmente neste período pascal, comprometer-se também nessa direção. Toda a Igreja deve gritar que os jogos de azar são imorais. É preciso fazer com que os grupos de "jogadores anônimos" se tornem cada vez mais numerosos para ajudar essas pessoas que realmente ficaram presas na compulsão do jogo.
Esse agir também faz parte do ser missionário, do fazer missão hoje: ajudam-se os "presos" a voltar para a vida. O Evangelho nos lembra isso: "Deus não é Deus de mortos, mas de vivos" (Lc 20, 38), e nos enviou Jesus para que tenhamos vida e a tenhamos em abundância (cf. Jo 10,10).
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Arruinados pelos jogos de azar. Artigo de Alex Zanotelli - Instituto Humanitas Unisinos - IHU