13 Janeiro 2012
Centenas de famílias moçambicanas protestam contra a Vale, multinacional brasileira que concorre ao título de pior multinacional do mundo.
"As comunidades endurecem os mecanismos de luta e resistência que há muito vinham realizando perante os impactos negativos da exploração do Carvão mineral de Moatize pela gigante Vale." diz Jeremias Vunjanhe, jornalista, coordenador da Área de Media da Justiça Ambiental e da Ação Acadêmica para o Desenvolvimento das Comunidades Rurais - ADECRU, ao enviar a nota que publicamos a seguir.
Eis a nota.
Mais de 700 famílias reassentadas pela Vale Moçambique no Bairro de Cateme, Distrito de Moatize estão em protesto desde a madrugada de hoje, 10 de janeiro de 2011. As famílias reivindicam contra as precárias condições de vida a que estão sujeitas desde finais de 2009. As dificuldades de acesso à água, terra e energia, as terras impróprias para a agricultura, o incumprimento de promessas de indemnização, a infiltração da água das chuvas nas casas construídas pela Vale constituem alguns pontos de demandas dos manifestantes.
“Conforme as promessas da empresa Vale, muitos dos pontos a empresa não cumpriu desde 2009, altura em que fomos reassentados” disse um popular reassentado falando a partir da Vila Sede de Moatize. De acordo com fontes contactadas telefonicamente pela Justiça Ambiental a partir de Cateme na tarde de hoje, as manifestações das comunidades reassentadas de Cateme expressam o contínuo ambiente de tensão social e descontentamento generalizado da população, que se vive naquele Bairro nos últimos seis meses, e a incapacidade do Governo em resolver as suas preocupações.
Na primeira quinzena de Dezembro de 2011 a população agora revoltada enviou um documento-queixa ao Governo do Distrito de Moatize, ao Comité Distrital do partido Frelimo e à Vale Moçambique solicitando a rápida intervenção das autoridades competentes na solução dos problemas enfrentados pelas comunidades reassentadas. “Em Dezembro enviamos uma carta às autoridades de Moatize avisando de que a população iria se manifestar caso medidas urgentes não fossem tomadas até ao dia 10 de Janeiro corrente” disse um reassentado num contacto telefónico. No documento de Dezembro a população de Cateme prometia incendiar o comboio de carga e transporte de carvão da Vale caso o Governo não agisse para parar com as irregularidades da empresa. A verdade é que esta manhã o comboio teve que recuar e já não fez o trajecto que devia ter feito devido às manifestações junto da linha férrea.
Até ao momento, as autoridades governamentais ainda não se pronunciaram oficialmente. Num contacto telefónico a meio desta tarde, um Comandante Distrital de Moatize, falando a partir de Cateme, confirmou a realização de manifestações e declinou-se a prestar mais detalhes sobre o assunto. Na ocasião disse apenas que” há uma grande agitação e estamos a trabalhar. No momento oportuno iremos convocar a imprensa para mais esclarecimentos”.
Entretanto, jornalistas de diversos órgãos sediados em Tete contactos pela Justiça Ambiental disseram que há relatos de que uma brigada da Força Intervenção Rápida - FIR estava a espancar os manifestantes. A FIR é uma unidade da Polícia da República de Moçambique conhecida no País por repressões violentas e uso excessivo de força contra civis desprotegidos.
O Administrador de Moatize e uma Brigada da polícia chefiada pelo Comandante distrital destacada para Cateme encontram-se no local até ao momento. A Vale sempre recorre à PRM e FIR para reprimir greves dos trabalhadores e manifestações populares que reclamam por melhores condições de trabalho e de habitação no reassentamento e cumprimento de promessas feitas pela Vale.
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Moatize: Comunidades reassentadas pela Vale Moçambique impedem a saída de Comboio para a Beira - Instituto Humanitas Unisinos - IHU