Por: André | 09 Agosto 2013
Em maio de 68 houve uma grande convulsão social e política que, começando pelas universidades de Paris, se espalhou logo por várias universidades europeias, sobretudo alemãs, e pela América do Norte. Questionavam não apenas o sistema universitário, mas o sistema cultural e político; pediam uma mudança radical na sociedade; “a imaginação ao poder”; “proibido proibir”; “se não nos deixam sonhar, nos os deixaremos dormir”. Nos mesmos dias, em Praga, gestou-se uma revolução anticomunista, a chamada “Primavera de Praga”, abortada brutalmente em agosto pelos tanques russos, mas que mais tarde deu seu fruto. Desde então, o maio de 68 se converteu em um símbolo de mudança social.
A reflexão é do jesuíta boliviano Víctor Codina, e publicada no sítio espanhol Redes Cristianas, 07-08-2013. A tradução é de André Langer.
Passaram-se muitos anos desde aquele 1968 e a história nunca se repete, mas há sinais atuais que nos lembram o maio de 68: a primavera árabe contra governos despóticos; os indignados da Espanha e de toda a Europa contra a falta de democracia e o desemprego juvenil; os estudantes chilenos que pedem uma educação melhor; os protestos na Turquia; agora os jovens do Brasil que, apesar das melhorias do país nos últimos anos, criticam não apenas o aumento do preço do transporte coletivo, mas a corrupção dos políticos e os enormes gastos da Copa do Mundo, quando há urgências maiores na educação e na saúde. A imagem midiática dos brasileiros como meros torcedores e das garotas do carnaval do Rio, agora foi desmentida.
Sem dúvida, em todas estas convulsões sociais há uma ambígua mistura de interesses políticos, ideológicos, morais e inclusive religiosos. Há excessos violentos, tendências anarquistas, idealismos juvenis ingênuos e utópicos, etc. Mas, podemos simplesmente nos contentar com estas observações críticas, por mais reais que sejam?
Não queremos discutir aqui sobre o impacto das redes sociais nestes protestos atuais nem sobre o fato de que estes movimentos aconteçam em países que saem do subdesenvolvimento. Queremos constatar que, no fundo, há uma crítica à falsa democracia; à ditadura dos bancos e do FMI; ao egoísmo das transnacionais que fabricam armas e destroem a natureza; a um sistema econômico que aumenta a desigualdade, enriquecendo a alguns poucos à custa do empobrecimento da grande maioria, deixando milhões de jovens sem horizonte de futuro; crítica a governos que espiam os seus inimigos políticos, defendem um pensamento único, não respeitam a diversidade e praticam a doutrina da segurança nacional em cujo nome perseguem os dissidentes, eliminam direitos sociais adquiridos com esforço, castigam os migrantes, etc.
Não haverá em tudo isso uma mensagem para toda a sociedade? Devemos peneirar e discernir estes acontecimentos, distinguir o trigo do joio, mas não podemos cruzar os braços e esperar que a polícia antidistúrbios sufoque e reprima os movimentos com gases, balas de borracha e jatos de água.
Os cristãos podem iluminar estes fatos com a memória daquele jovem profeta de Nazaré que, diante do escândalo de sacerdotes, escribas e fariseus, expulsou os mercadores do Templo, embora isso lhe custasse a vida. Movidos pela fé acreditamos que o Espírito do Senhor enche o universo e conduz a história para caminhos de justiça, liberdade e de paz. Devemos ouvir os jovens, porque não raras vezes através deles Deus nos fala (Regra de São Bento). Não estará escondido nestas novas formas de maio de 68 um sinal dos tempos ao qual fazia alusão João XXIII?
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Um novo Maio de 68? Artigo de Victor Codina - Instituto Humanitas Unisinos - IHU