11 Outubro 2012
Falar sobre “As Igrejas no Continente 50 anos depois do Vaticano II: questões pendentes” foi um tema que desafiou o jesuíta e Prof. Dr. Víctor Codina, na manhã de ontem durante o Congresso Continental de Teologia. Apesar de considerar que o assunto renderia uma tese de doutorado, ele dominou muito bem a tarefa de encantar o público com sua fala.
Segundo Codina, a recepção do Vaticano II na América Latina foi uma releitura a partir de um continente pobre e cristão, marcado pela pobreza e pela injustiça. “A recepção do Vaticano II na América Latina foi criativa, nova, não uma simples aplicação de conceitos. Temos uma nova hermenêutica conciliar a partir de um novo lugar, um lugar de pobres”, explicou.
Victor Codina destacou os núcleos simbólicos dos quatro grandes documentos do Vaticano II, para ver como foram recebidos na América Latina. “A novidade da recepção aqui é que tudo foi relido a partir dos pobres”, afirma, completando que o mais importante foi o crescimento, depois do Concílio, das comunidades eclesiais de base. “As comunidades de base são a imagem de uma igreja samaritana. São a base de uma igreja larga, acolhedora, que reconcilia e celebra. São uma igreja santuário, uma igreja missionária, que convida a participar e anima o povo que vive na insegurança de cada dia”.
Em seguida, o jesuíta considerou que o êxodo dos católicos às religiões evangélicas e pentecostais é devido a pouca atratividade da liturgia pós-conciliar.
Codina falou também da importância da mensagem de Medellín e Puebla para o angustiante clamor dos pobres. “A opção pelos pobres está implícita em Cristo, tem a ver diretamente com Cristo”.
A partir da década de 1990, em que o paradigma do êxodo se completaria com o paradigma do exílio - focos abordados pelo conferencista – a problemática da injustiça e da pobreza não desapareceu, mas mudou seu olhar. “Abrem-se, então, novos horizontes, cenários, atores. O clamor dos pobres se soma ao clamor da terra”, define.
Nos últimos anos, a Teologia da Libertação, na visão de Codina, foi tão atacada que não conseguiu refletir sobre o que deveria mudar. “Hoje é chegado o tempo para a auto-crítica”, avalia. E neste sentido, o palestrante colocou perguntas ao público, dentre as quais questionava se a Teologia da Libertação não seria demasiado moralista e paternalista, por exemplo.
Diante da situação de inverno eclesial que vive hoje a Igreja, bem como o clima atual, marcado pela secularização, pelo diálogo inter-religioso e pela ameaça ecológica, Codina lembrou que há muitas questões pendentes no Vaticano II, que não foram tratadas ou porque não se quis, ou porque não se pode. “A barca da Igreja está balançando, com risco de afundar. Diz o Papa que é por causa dos ventos que vêm de fora. Eu digo que somado a isso está o problema das brechas que estão por dentro dela”, destacou, sendo aplaudido efusivamente pelo público.
Para Codina, a mera repetição de princípios morais e doutrinais não poderá resistir aos sinais dos tempos.
Temas do debate
Na visão de Codina, ao responder às questões trazidas pelo público, as igrejas protestantes ajudaram muito na recepção do Vaticano II na América Latina. Em seguida, o jesuíta respondeu dizendo que haveria matéria suficiente para um Vaticano III. Para ele, melhor que um Vaticano III (pensando nos bispos de hoje) seria um Jerusalém II e com a presença de todas as igrejas cristãs.
Leia aqui entrevista que Codina concedeu para a revista IHU On-Line.
Texto de Graziela Wolfart e fotos de Wagner Altes
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A recepção do Vaticano II no continente da pobreza e da injustiça - Instituto Humanitas Unisinos - IHU