Por: Cesar Sanson | 18 Julho 2013
Aprovação ao governo despenca e expõe problemas da presidente de lidar com um dos momentos mais complicados da era PT. Analistas ainda não veem reeleição ameaçada, mas situação já divide base aliada sobre volta de Lula.
A reportagem é publicada pelo sítio da Deustche Welle, 17-07-2013.
A última pesquisa de popularidade da Confederação Nacional do Transporte (CNT), divulgada na terça-feira (16/07), acendeu a luz amarela no Palácio do Planalto. A sondagem apontou uma queda de 22,9 pontos, para 31,3%, na popularidade da presidente Dilma Rousseff, declínio que já havia sido verificado pelo Datafolha em junho (de 57% para 30%).
Agora a preocupação é que essa luz não entre no vermelho e passe a ameaçar, mesmo a mais de um ano da eleição, sua continuidade no poder. No centro das preocupações está a inabilidade de Dilma de lidar um dos momentos políticos mais conturbados das últimas décadas, grande parte devido a um estilo centralizador – já criticado antes mesmo dos protestos – e a um desgaste na hora de costurar apoios políticos.
"Esse estilo não influenciou na queda, mas está influenciando na capacidade de gestão pós-queda. Ou seja, quando as coisas andavam bem, esse estilo parecia não afetar. Mas neste momento em que ela tem que reorganizar o governo, parece que ela encontra mais problemas devido a esse tipo de comportamento", diz o cientista político Leonardo Avritzer, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
A situação ficou evidente no auge da onda de protestos, quando Dilma anunciou uma constituinte e um plebiscito sem consultar o Congresso, o que gerou resistência da própria base aliada. Quase ao mesmo tempo, prometeu cinco pactos nacionais, porém sem combinar previamente com os governadores e prefeitos.
"Dilma toma decisões unilaterais e sem combinar com os principais atores políticos”, opina Leonardo Barreto, doutor em ciências políticas pela Universidade de Brasília (UnB). “Ela não confia em seus parceiros políticos e não os consulta. Por não confiar, ela não busca criar redes de apoio político para suas decisões. E, assim, ela está pagando o preço disso."
Boa parcela da queda no apoio a Dilma, segundo especialistas, atribui-se ao fato de que sua popularidade derivava em grande parte de Lula – uma aprovação alta construída ao longo de oito anos de governo e que influenciou também a escolha de sua sucessora.
Marina mais forte
As eleições para presidente em 2014 não prometem calmaria. Embora com a candidatura ainda não confirmada, Marina Silva (Rede) foi quem mais se beneficiou com as manifestações, segundo a pesquisa da CNT. De acordo com a sondagem, ela viu sua intenção de voto subir de 12,5% em junho para 20,7% em julho, alcançando a segunda colocação, que era de Aécio Neves (PSDB).
Nesta última pesquisa, a presidente Dilma ainda aparece em primeiro lugar, com 33,4% das intenções de voto (52,8% em junho); Aécio em terceiro, com 15,2% (17% em junho); e Eduardo Campos (PSB) com 7,4% (3,7% em junho). Brancos e nulos representam em julho 17,9% e indecisos 5,4%.
Segundo analistas, Marina se beneficiou também do fato de não se identificar com o sistema partidário atual, já que os protestos eram mais contra o sistema político brasileiro do que contra o governo petista.
Mesmo assim, é difícil dizer se esta situação se manterá estável até o ano que vem. Grande parte dos marqueteiros, diz Avritzer, considera ser impossível ganhar a eleição sem ter o apoio maciço do estado de São Paulo, dono de cerca de 20% do colégio eleitoral do país, e sem um tempo considerável de propaganda eleitoral na TV. “E Marina não tem nenhum dos dois", explica o cientista político.
Já para Márcia Ribeiro Dias, cientista política da PUC-RS, a provável candidata Marina é ainda uma incógnita na disputa eleitoral. "Se ela conseguir criar um projeto político que dê cara a este movimento nas ruas, então vai ser difícil segurar esta campanha. Aí acredito que poderá haver a disputa do segundo turno com Dilma."
Risco de racha no PT
Segundo os especialistas consultados pela DW, a queda de popularidade de Dilma não deve, ao menos por enquanto, alavancar a candidatura à presidência de Lula em 2014, embora ela seja defendida por um segmento dentro do PT. A manobra é tida como arriscada e poderia criar um problema incontornável dentro do próprio partido.
"Não existe só um problema de desgaste da imagem do Lula, mas também um problema de saúde. Lula estaria arriscando uma biografia muito consolidada e provavelmente não vai querer fazer isso. Ou seja, existe a perspectiva de que o governo dele foi muito bom e voltar nesta situação seria submeter esse passado a um segundo escrutínio da população", diz Avritzer.
Para Dias, a volta de Lula estaria fadada ao fracasso, pois, segundo ela, a presidente não fez nada para merecer a impopularidade atribuída a ela. "Acho que essa queda de popularidade é circunstancial e, assim que essas manifestações cessarem, será retomada."
Mas o potencial de protestos durante a visita do Papa Francisco ao Brasil e principalmente durante a Copa do Mundo – a cerca de três meses das eleições presidenciais – é grande. Mesmo assim, Dias diz que as manifestações seriam um divisor de águas apenas se ocorrerem no momento da campanha eleitoral, a partir de agosto. "Daí o panorama político poderá realmente mudar."
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Protestos derrubam popularidade e testam habilidade política de Dilma - Instituto Humanitas Unisinos - IHU