Por: André | 17 Abril 2013
O Concílio é “fruto do Espírito”, mas muitos querem retroceder. Roncalli era “um pároco bom” e o Vaticano II segue sendo vigente. “Depois de 50 anos, fizemos tudo o que o Espírito Santo nos pediu em relação ao Concílio, nessa continuidade do crescimento da Igreja que foi o Concílio?”.
A reportagem é de Giacomo Galeazzi e publicada no sítio Vatican Insider, 16-04-2013. A tradução é do Cepat.
Quem se fez estas perguntas foi o Papa Francisco, que usou o termo “continuidade” referindo-se à interpretação de Bento XVI (que expressou durante o importante discurso de 20 de dezembro de 2005 à Cúria Romana), segundo a qual a hermenêutica da continuidade se contrapõe à da ruptura, teorizada pela Escola de Bolonha. O novo Pontífice responde: “não”, o Concílio permaneceu sem ser aplicado.
Por isso, o Vaticano II representa uma oportunidade histórica para uma grande revolução eclesiástica que ainda não se levou completamente a cabo. Graças ao espírito conciliar, a Igreja abriu-se para o mundo, mas ainda há muito caminho pela frente. “Comemoramos – disse o Papa – este aniversário, erguemos um monumento, mas desde que não incomode. Nós não queremos mudar. Mais: há algumas vozes que querem voltar atrás. Isto é ser teimoso, isto significa querer domesticar o Espírito Santo, isto é ser tolo e lento de coração”. “O mesmo acontece – indicou o Pontífice – inclusive na nossa vida pessoal”: de fato, “o Espírito nos impulsiona a tomar um caminho mais evangélico”, mas nós resistimos. É por isso que o Papa Francisco lançou a seguinte exortação: “Não oponhamos resistência ao Espírito Santo. É o Espírito que nos torna livres, com essa liberdade de Jesus, com essa liberdade de filhos de Deus!”.
“Não opor resistências ao Espírito Santo: esta é – concluiu Francisco – a graça que queria que todos nós pedíssemos ao Senhor: a docilidade ao Espírito Santo, a esse Espírito que vem para nós e nos faz seguir em frente no caminho da santidade, essa santidade tão bela da Igreja. A graça da docilidade ao Espírito Santo”. Ou seja, explicou o Pontífice na homilia da missa desta manhã na Capela da Casa Santa Marta, “o Espírito Santo nos incomoda. Porque nos move, nos faz caminhar, impulsiona a Igreja a seguir em frente. E nós queremos que o Espírito Santo adormeça, queremos domesticar o Espírito Santo. E isto não funciona. Porque Ele é Deus e Ele é esse vento que vai e vem e tu não sabes para onde. É a força de Deus, é o que nos dá o consolo e a força para seguir em frente. Mas... seguir em frente! Isto incomoda. A comodidade é melhor!”.
“Hoje – prosseguiu o Papa –, aparentemente ‘estamos todos contentes’ com a presença do Espírito Santo, mas não é bem assim. Esta tentação ainda é atual, somos como Pedro na Transfiguração: ‘Ah, que lindo estar assim, todos juntos’, mas que não nos incomode”. E, justamente, o Papa Francisco denunciou que o Concílio Vaticano II que muitos desejavam é um concílio que se celebra, mas que não se vive plenamente.
O ponto de partida da homilia do Papa foi a primeira leitura que falava sobre o martírio de Santo Estevão, que, antes de ser apedrejado, anunciou a Ressurreição de Cristo e advertiu os presentes com palavras fortes: “Homens de dura cerviz! Vocês sempre resistem ao Espírito Santo”. Estevão recorda todos os que perseguiram os profetas e que, depois de tê-los assassinado, construíram “uma sepultura bonita” para, somente depois, venerá-los. O Concílio foi um evento extraordinário e não apenas para a Igreja, mas para todo o mundo, posto que mudou o rosto das hierarquias eclesiásticas e ofereceu uma esperança à humanidade durante os anos da Guerra Fria. A Igreja, finalmente, foi entendida como Povo de Deus, e a hierarquia colocou-se a serviço dos fiéis. “Também Jesus – observou o Papa – repreendeu os discípulos de Emaús”, porque eram lentos para crer em tudo o que os profetas haviam anunciado.
“Sempre, inclusive entre nós, existe essa resistência ao Espírito Santo”. Além disso, “o Concílio foi uma bela obra do Espírito Santo; pensem no Papa João: parecia um pároco bom e ele foi obediente ao Espírito Santo e fez isso”. Embora muitos no começo o considerassem um “Pontífice de transição”, Roncalli promoveu o evento mais relevante da história eclesiástica contemporânea, convocando todos os homens de boa vontade, dialogando com as outras religiões e com os não crentes, saindo dos muros do Vaticano e difundindo a mensagem cristã nas prisões, nos hospitais, nas casas e nos trens.
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''Não há retrocesso''. Francisco e o Concílio Vaticano II - Instituto Humanitas Unisinos - IHU