16 Abril 2013
O Papa Francisco introduziu uma nova fase nas reformas do Concílio Vaticano II, deslocando o foco da Igreja Católica das preocupações do Norte industrializado, que dominou os debates dos últimos 50 anos, para “os problemas do Hemisfério Sul”, segundo um importante homem de igreja.
Os comentários feitos pelo cardeal alemão Walter Kasper num artigo da edição de sexta-feira do jornal L’Osservatore Romano parecem sinalizar um retorno para uma visão positiva do impacto do Concílio, distanciando-se da interpretação mais pessimista que muitas vezes prevaleceu sob o antecessor de Francisco, Bento XVI.
A reportagem é de Alessandro Speciale e publicada pelo Religious News Service, 13-04-2013. A tradução é de Luís Marcos Sander.
Kasper acentuou que, desde o primeiro dia de seu pontificado, Francisco “deu o que eu chamaria de sua interpretação profética do Concílio e inaugurou uma nova fase de sua recepção. Ele mudou a pauta, colocando no topo os problemas do Hemisfério Sul.”
Francisco, jesuíta argentino que era conhecido como Cardeal Jorge Bergoglio até sua eleição há um mês, exigiu “uma igreja pobre, para os pobres”.
A eleição de Francisco e suas prioridades refletem uma mudança profunda na geografia da igreja, disse Kasper, prelado que foi durante anos, até sua aposentadoria, a principal autoridade do Vaticano para o diálogo com outros cristãos.
“No início do século passado, só um quarto dos católicos vivia fora da Europa; atualmente, só um quarto vive na Europa e mais de dois terços vivem no Hemisfério Sul, onde a igreja está crescendo”, escreveu Kasper no diário oficioso do Vaticano.
O Concílio Vaticano II (1962-65) revolucionou a vida católica com a aceitação da liberdade religiosa, do ecumenismo e da liberdade de consciência, entre outras reformas.
De modo geral, o Concílio adotou uma atitude mais positiva e aberta para com o mundo do que a igreja jamais tinha assumido, mas sua recepção tem causado divisões profundas. Católicos conservadores dizem que a crise da igreja nas últimas décadas é uma consequência das reformas modernizadoras do Vaticano II, que, entre outras, colocaram em segundo plano a missa antiga em latim e introduziram um novo rito nas línguas locais.
Para Kasper, porém, os “progressistas”, as pessoas que impulsionaram as reformas no Concílio, “foram os verdadeiros conservadores, aqueles que queriam renovar a tradição antiga”.
Entretanto, nos anos subsequentes ao Concílio, disse ele, enquanto alguns progressistas rejeitaram qualquer ligação com a tradição da igreja e exigiram reformas adicionais, como, por exemplo, o celibato opcional e a ordenação de mulheres para o sacerdócio, os católicos não vivenciaram uma nova “primavera da igreja” como se esperava.
A igreja atual “tem um aspecto sombrio e exibe sinais claros de crise”, disse Kasper.
Mas o cardeal rejeita as afirmações dos críticos de que o Concílio teria sido “a maior calamidade da história recente”.
Citando uma alocução seminal, de 2005, de Bento XVI, Kasper – com quem o Papa entrou muitas vezes em conflito – diz que o Concílio não deve ser interpretado como uma “ruptura” com a tradição, mas como uma “reforma” e “renovação” em continuidade com o passado da igreja.
Segundo Kasper, isso poderia levar agora, sob o Papa Francisco, a uma tradução das declarações do Concílio em “consequências práticas” que poderiam reanimar o “impulso inovador” do Vaticano II.
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Francisco trará vida nova ao Vaticano II, diz cardeal Kasper - Instituto Humanitas Unisinos - IHU