17 Setembro 2014
Se nosso Universo não for o único que existe e acabar colidindo com outro Universo, como podemos nos dar conta disso observando os céus? Essa é a nova preocupação do físico Brian Greene, da Universidade Columbia (EUA) que desembarca em São Paulo nesta semana.
A entrevista é de Rafael Garcia, publicada pelo jornal Folha de S. Paulo, 14-09-2014.
Greene é um notório defensor da teoria das cordas, a teoria segundo a qual as partículas elementares conhecidas pela ciência não são as entidades fundamentais. Elas seriam um subprodutos da vibração de "cordas" em um Universo com mais dimensões de espaço do que aquelas três que conhecemos.
O físico fala ao público nesta quarta-feira (17), no ciclo de palestras Fronteiras do Pensamento, que está com ingressos esgotados. Em entrevista à Folha, Greene fala sobre problemas que ideias como as cordas e os múltiplos universos enfrentam e sobre como talvez seja necessário rever os conceitos de tempo e espaço para contorná-los.
Eis a entrevista.
Alguma teoria de universos múltiplos possui previsões que podem ser testadas?
Para algumas versões do cenário de multiversos [múltiplos universos], existem, sim, potenciais assinaturas de observação. Caso existam muitos universos criados em muitos Big Bangs, por exemplo, colisões entre esses universos podem deixar uma marca na radiação cósmica de fundo de micro-ondas [radiação que permeia o universo e é usada por cosmólogos para estudar sua propriedades]. Isso é algo que se tem buscado ver.
Na versão de universos paralelos com dimensões extras, há a possibilidade de o LHC [o acelerador de partículas na Suíça] ejetar material da nossa dimensão para dentro de outras dimensões. Se isso ocorrer, ficaria registrado um sumiço de energia.
São possibilidades remotas, mas elas estão dentro do reino da ciência. Elas emergem de nossas descrições matemática da natureza, que já foram testadas, e, pelo menos a princípio, oferecem assinaturas experimentais.
A teoria das cordas também era criticada por não oferecer previsões passíveis de teste. Isso foi resolvido?
Muitos de nós trabalhamos por muito tempo para tentar obter esses tipos de assinaturas. Há algumas que podem surgir e são indiretas. Nós podemos achar evidências para partículas supersimétricas, novas espécies de partículas cuja existência é sugerida pela teoria das cordas.
Há uma variedade de testes tanto em física de partículas quanto em astronomia que poderiam trazer resultados.
Mas se você perguntar se teremos evidências definitivas para a teoria das cordas em breve, eu diria que não. As cordas operam numa escala bilhões de bilhões de vezes menor do que qualquer coisa que possamos acessar. A teoria ultrapassou a tecnologia e se tornou difícil de testar.
O Sr. acha que vivemos um momento de mudança de paradigma na física agora?
Acho que o próximo grande passo, ou talvez a próxima grande revolução da física, será algo à altura da revolução que Einstein e teóricos quânticos iniciaram no começo do século 20. Meu palpite é que essa revolução vai requerer uma compreensão do significado de espaço e de tempo muito mais profunda do que a que temos hoje. Talvez isso envolva entender que o espaço e o tempo sejam feitos de ingredientes mais refinados, da mesma forma que os átomos são compostos de partículas. O espaço e o tempo em si também poderiam ter seus constituintes.
O que a teoria de cordas prevê de diferente para ser observado em cosmologia?
Eu estou trabalhando pessoalmente em tentar conectar a teoria de cordas à radiação cósmica de fundo. Nós temos feito cálculos que injetam as novas propriedades da teoria das cordas nos cálculos tradicionais de variações de temperatura na radiação cósmica de fundo.
Teóricos de cordas têm passado bastante tempo em problemas de cosmologia. A energia escura [misteriosa força que acelera a expansão do universo] exerceu papel vital em desenvolver várias ideias dentro de teoria das cordas nos últimos dez anos.
A distinção entre física de partículas, teoria das cordas e cosmologia está realmente evaporando recentemente. Muitas pessoas trabalham ao mesmo tempo nessas três áreas.
Com o que o sr. está trabalhando agora?
Estou trabalhando em várias coisas. Uma delas é tentar entender em detalhe esse problema dos universos em colisão num cenário de multiversos, que é uma sugestão natural da teoria das cordas.
Também estou estudando possíveis instabilidades nos universos que podem ser originados pela teoria das cordas. Há uma possibilidade de que muitos desses universos tenham se desintegrado rapidamente, e talvez tenham restado apenas um ou alguns poucos que tenham durado tempo o suficiente para serem o nosso universo.
Em 2015 ocorrerá o centenário da teoria da relatividade geral de Einstein. O fato de ela ainda ser uma teoria um pouco exótica, que não se conformou à física quântica, não é um motivo para preocupação?
Isso apenas enfatiza o quão sutil é o Universo. O próprio Einstein afirmou "sutil é o Senhor...". O universo é um lugar profundo, complexo e sutil, e o cérebro humano precisa de muito tempo para destrinchá-lo.
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Nova física terá de rever conceitos de tempo e de espaço - Instituto Humanitas Unisinos - IHU