03 Junho 2014
Discutiu-se muito sobre dinheiro no Katholikentag. Também porque o Papa Francisco fala muito de Igreja pobre e de pobreza. No entanto, a concretização é difícil em uma das Igrejas mais ricas do mundo.
A reportagem é de Kirsten Dietrich, publicada no sítio Deutschlandradio Kultur, 31-05-2014. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
O Papa Francisco não está presente em Regensburg, mas é onipresente: acima de tudo, com o convite à Igreja Católica de ser uma Igreja pobre e para os pobres. Isso parece muito simples e óbvio à primeira vista. Mas torna-se complicado quando se discute a sua aplicação prática em uma das Igrejas mais ricas do mundo.
Thomas Schüller, estudioso de direito canônico, afirma: "Eu posso imaginar bem o momento na Capela Sistina quando estavam todos reunidos e depois saiu o Papa Francisco e lhe perguntaram: que nome você quer se dar? E ele disse: 'Em honra a São Francisco de Assis, escolho o nome Francisco'. Então eu entendi: vamos ter que engolir isso. E em sentido positivo".
Então, o que pode significar a rica Igreja alemã como Igreja para os pobres? Para isso, seria preciso fazer perguntas diretas sobre as finanças da Igreja.
Continua Thomas Schüller: "Vários anos atrás, eu caminhava com o vigário geral da época pelas ruas de Regensburg, que me dizia: este é nosso, aquele é nosso, sim, e aquele é da princesa, aquele é nosso, aquele é da princesa. Pergunte por aí: os moradores de Regensburg, os bávaros, sentem em relação aos moradores de Hesse uma certa aversão, porque dizem: 'Se tivéssemos que tornar público tudo isso de forma transparente, ficaria claro o quão rica a Igreja é".
Mais controles às finanças das dioceses?
Schüller, portanto, aconselha mais controles financeiros externos e uma atitude claramente mais modesta por parte dos bispos. Que os seus salários não sejam uma imutável "verdade de fé".
"No fim das contas, trata-se – e que não soe como algo populista – da questão do poder na Igreja. Quem tem dinheiro decide sobre as prioridades conteudísticas, e quando a vida espiritual se empobrece, então a última coisa em uma Igreja rica – mas talvez espiritualmente em dificuldade – é quem exerce o poder sobre ela".
Isso parece evidente. Mas requer uma solidariedade para a qual a Igreja, por enquanto, provavelmente, não está preparada. O vigário geral de Hesse, Klaus Pfeffer, obteve adesão na sua tentativa de tornar públicas as finanças da sua diocese financeiramente bastante frágil: "Podemos dizer: a Igreja deve renunciar a esse dinheiro e dá-lo aos pobres. Mas nós pegamos o dinheiro de qualquer parte. E a Igreja somos nós. Então, todos estão envolvidos. Eu não ouvi ninguém me dizer: pode tirar um pouco de nós e dar aos outros – ninguém faz isso. Todos querem ter".
Isso leva à pobreza como desafio espiritual. O teólogo pastoral Michael Sievernich viveu por muitos anos na América Latina e, de lá, ele mudou o seu olhar sobre a Igreja alemã: "A Igreja é rica demais para as nossas relações ou precisa de meios, se leva adiante milhares de escolas? A Cáritas transformada é a Igreja pobre ou é a Igreja rica? Devemos discutir essas questões. Mas eu quero dizer que também há outra questão: a Igreja alemã não é pobre de fé, de esperança, de amor, pelo fato de não aderir à pobreza de Cristo, que se fez pobre para nos enriquecer?".
Afirma o estudioso de ética social, Matthias Möhring-Hesse: "Uma Igreja dos pobres não será uma Igreja pobre. Agradaria aos ricos o fato de que os pobres tivessem apenas uma Igreja pobre. Não, não, isso não está certo".
Möhring-Hesse não quer passar por cima da pobreza como objeto de assistência. As paróquias ainda estão muito longe de levar a sério os pobres: "Eu acredito que esse é o primeiro erro da Igreja que nunca se torna Igreja dos pobres: não se trata de refletir se nós mesmos devemos nos tornar pobres, enquanto excluímos as pessoas da plenitude da vida, que nós, dentro na Igreja, naturalmente reivindicamos para nós mesmos. E uma Igreja que se deixa indicar o caminho pelos pobres deve primeiro criar pontes, se levarmos a sério o lema do Katholikentag. Acima de tudo, deve abrir linhas de comunicação. Antes de fazer orações de intercessão nas missas, deve deixar que os pobres indiquem as orações de intercessão".
A opção pelos pobres tem dimensões políticas
Como a Igreja pode superar esse conflito interno entre ricos e pobres? Nesse contexto e também como resultado do entusiasmo pelo novo estilo no Vaticano, novamente é discutida uma teologia que, nos anos 1980 e 1990, tinha sido combatida como política demais até mesmo pelo Vaticano: a teologia da libertação latino-americana.
O Papa Francisco pode ser considerado, em certo sentido, um teólogo da libertação, mas de uma tendência um pouco menos de esquerda, mais moderada, diz Michael Sievernich.
"Ele vive de uma certa corrente da teologia da libertação da forma como era difundida na Argentina, que se chama teologia do povo, que, em princípio, consiste em ouvir o povo, a sua sabedoria, a sabedoria popular em cujo centro está a devoção popular."
Passou muito tempo desde que, entre os católicos alemães muito comprometidos, se discutia a teologia da libertação – e não só como uma reminiscência histórica.
Afirma o bispo Leonardo Steiner: "Eu gostaria de formular desta forma: que, de fato, a teologia não é um espinho na nossa carne. O espinho na nossa carne é o fato de que ainda temos tantos pobres. Isso deveria realmente nos fazer mal."
Dom Steiner é secretário-geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil e franciscano. Ele reitera: a opção pelos pobres na América Latina, inevitavelmente, tem uma dimensão política. Mas ele também fornece uma tradução da teologia da libertação que pode torná-la "utilizável" também no Ocidente rico – sem despedaçar as Igrejas.
Diz Steiner: "Hoje em dia, eu considero que a teologia da libertação deve ser cada vez mais teologia da relação. Eu tenho a impressão de que as nossas relações estão 'despedaçadas'. Por que tanta violência? Por que os pobres não são inseridos nas nossas comunidades? Por que não têm uma chance? A resposta é: porque as nossas relações estão despedaçadas. Nesse sentido, acredito que a nossa teologia da libertação ainda pode ser muito útil".
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Katholikentag: Igreja, riqueza, teologia da libertação - Instituto Humanitas Unisinos - IHU