14 Fevereiro 2014
Um estudo publicado na revista científica Proceedings of the National Academy of Sciences, dos EUA, mostra que a classe de pesticidas neonicotinoide e a clotianidina afetam, de modo adverso, o sistema imunológico das abelhas ao promover nelas a replicação de um patógeno viral.
A reportagem é publicada pelo sítio SeattleOrganicRestaurants.com, 13-02-2014. A tradução de Isaque Gomes Correa.
De acordo com os cientistas italianos, autores do estudo, uma molécula é desencadeada pelos pesticidas neonicotinoides de que forma que possa prejudicar a colônia de abelhas. Os pesquisadores descobriram que o inseticida neonicotinoide clotianidina pode aumentar os níveis de proteína específica nas abelhas e afetar negativamente a resposta do sistema imunológico além de torná-las mais suscetíveis de serem atacadas por vírus e patógenos prejudiciais.
Francesco Pennacchio, principal autor do estudo, descobriu que a proteína de repetição rica em leucina poderia afetar negativamente a atividade de uma proteína envolvida nas abelhas, conhecida como NF-κB, sinalizador imunológico. Quando as abelhas são expostas ao inseticida neonicotinoide clotianidina, há um aumento significativo na melhoria da codificação do gene de proteína de repetição rica em leucina que suprime o sinalizador imunológico NF-κB.
Os pesquisadores encontraram que outras classes dos neonicotinoides, tais como o imidacloprid e o tiametoxam, também afetam o sistema imunológico das abelhas, embora inseticidas como o organofosforado clorpirifós não afetam o sinalizador imunológico NF-κB.
Quando os pesquisadores infectaram as abelhas com um patógeno comum, conhecido como o vírus deformador da asa, descobriram que ele ataca o sistema imunológico no momento em que as abelhas são expostas ao inseticida neonicotinoide clotianidina ou imidacloprid. Embora o vírus seja muito comum nas abelhas, o sistema imunológico delas o mantém ineficiente e sob controle.
Segundo um dos pesquisadores, Francesco Nazzi, o “efeito relatado sobre a imunidade exercida pelos neonicotinoides permitirá testes toxicológicos adicionais – a serem definidos – no intuito de avaliar se a exposição crônica das abelhas a doses subletais de agroquímicos poderá afetar, de modo adverso, o seu sistema imunológico e suas condições de saúde. Além disso, nossos dados indicam a possível ocorrência nos insetos, por exemplo os invertebrados, de uma modulação neural da resposta imunológica. Este fato prepara o terreno para estudos futuros nesta área de pesquisa e apresenta a questão sobre como as substâncias neurotóxicas podem afetar a resposta imunológica”.
As gigantes da biotecnologia Bayer e Syngenta, que fabricam os neonicotinoides, estão gastando milhões de dólares com lobistas para impedir a proibição desta substância nos EUA, além de terem processado a Comissão Europeia pelo banimento destas classes de pesticidas
Enquanto os países da União Europeia puseram uma suspensão de três anos para a classe de pesticidas neonicotinoide, incluindo o tiametoxam, o clotianidina e o imidacloprid, o Ministério de Agricultura dos Estados Unidos não conseguiu banir estas classes de pesticidas que estão matando milhões de abelhas. Tenhamos em mente que o ministro americano da Agricultura, Tom Vilsack, é o ex-governador pró-biotecnologia do estado de Iowa, premiado como o Governador do Ano pelas empresas de biotecnologia.
As gigantes da área biotecnológica, Bayer e Syngenta, que fabricam os neoniconinoides, estão gastando milhões de dólares para evitar a suspensão desta substâncias, além de terem processado a Comissão Europeia pelo banimento destas classes de inseticidas.
Estas empresas também colocaram milhares de documentos falsos na internet, enganando a todos ao divulgar que os neonicotinoides são perfeitamente seguros e que outros problemas, incluindo a falta de biodiversidade e o crescimento dos patógenos, é que são as principais causas por trás do declínio das abelhas.
As empresas Monsanto, Syngenta, Bayer, DuPont e Dow estão mentindo. Transgênicos tratados com neonicotinoides estão relacionados com colapso das abelhas, e 94% do milho nos EUA são tratados ou com pesticida imidacloprid ou com pesticida clotianidina
Na verdade, a maioria do milho e da soja geneticamente modificados são tratados com pesticidas neonicotinoides e, recentemente, mais de 37 milhões de abelhas caíram mortas no Canadá depois que grandes campos de milho transgênico foram plantados e tratados com a substância.
Além disso, não obstante as falsas promessas da biotecnologia de que as culturas transgênicas iriam reduzir o uso de pesticidas, a verdade é que desde a introdução dos organismos geneticamente modificados o uso de pesticidas aumentou em 500 milhões de libras.
Na verdade, segundo a Rede de Ação em Pesticida da América do Norte (PANNA, na sigla em inglês), 94% das sementes de milho dos EUA são tratadas ou com a substância imidacloprid ou com a clotianidina e, em consequência, as abelhas são submetidas a uma carga tóxica de neonicotinoides cada vez maior nos campos de milho.
Mais e mais estudos mostram o efeito adverso dos neonicotinoides sobre o sistema imunológico das abelhas
Embora as empresas Syngenta e Bayer estejam tentando disseminar informações enganosas ao colocar a biodiversidade e os patógenos como as principais causas do declínio das abelhas, estudos científicos independentes vincularam principalmente os neonicotinoides ao colapso das colônias de abelhas.
Num estudo publicado na revista Science, o autor principal e professor de biologia da Universidade de Sussex, Dr. Dave Goulson, diz que a “exposição a pesticidas neonicotinoides, que são uma neurotoxina em essência, estava afetando a capacidade das abelhas de aprender, de encontrar o caminho de volta para casa, de navegar, de coletar alimento, e assim por diante, o que não é surpreendente se acaso percebermos se tratar de neurotoxinas. (...) O que encontramos, e que tenho que confessar ter sido surpreendente em seu âmbito, foi que os ninhos tratados cresceram mais lentamente, porém, de forma mais dramática, o efeito sobre a produção da rainha foi realmente forte. Assim, tivemos uma queda de 85% na produção dos ninhos da rainha que foram expostos durante um período de apenas duas semanas a concentrações bastante baixas destes pesticidas em comparação com os ninhos de controle”.
Chegou a hora de pôr de lado a ganância corporativa e proibir o uso dos neonicotinoides que estão destruindo milhões de abelhas e borboletas
Cerca de 87% das plantas são polinizadas por abelhas e se não fizermos algo quanto ao fato de que as culturas transgênicas tratadas com os neonicotinoides constituem a principal razão do colapso das colônias de abelha, então iremos estar dando um tiro no próprio pé e começando uma reação em cadeia em que muitas plantas e espécies morrerão em consequência.
A comunidade científica e os biólogos dizem que se as abelhas desaparecerem, iremos somente ter só mais alguns anos de vida, já que a reação em cadeia começará a erradicar certas espécies devido à falta de polinização e afetará culturas de passarinhos e assim por diante.
Atualmente, o apicultor está perdendo 50% de suas colmeias e, em vez de proporem uma proibição imediata às culturas geneticamente modificadas e aos neonicotinoides, nossas autoridades permitem que as gigantes da biotecnologia – incluindo a Monsanto, a Syngenta e a Bayer – gastem bilhões de dólares promovendo e vendendo seus inseticidas tóxicos e alimentos transgênicos.
A prioridade de corporações como Syngenta e Bayer não é proteger as abelhas e outros polinizadores, mas proteger seus lucros a partir da produção de inseticidas neonicotinoides. Só no ano de 2012, as vendas da Syngenta com a substância tiametoxam cresceram e excederam as cifras de mais de um bilhão de dólares. Como isso pode ser permitido? E como uma sociedade pode tolerar isso que elas têm feito?
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Milhões de abelhas morrem por causa de pesticidas neonicotinoides fabricadas pela Bayer e Syngenta - Instituto Humanitas Unisinos - IHU