13 Novembro 2015
"Eu tinha tanto medo no barco. Eu estava com meu irmão mais novo nos braços, também quando a gente caiu na água. Eu o segurei em meus braços e chorei. Eu rezei a Deus para ir para o paraíso. Eu pensei que fosse morrer. A morte estava tão perto". Farah tem 10 anos e fugiu da Síria junto com a família.
A reportagem foi publicada por Deutsche Welle e reproduzida por CartaCapital, 12-11-2015.
"Durante fuga, tivemos que ficar por cinco meses em um campo de refugiados na Bulgária, que era horrível. Os guardas batiam na gente", lembra Namir, de 12 anos. Sua família cristã vivia em Damasco, na Síria, onde, segundo ele, era perseguida. Ele relata que alguns parentes foram até forçados a se converterem ao Islã. "No caminho para a Alemanha, andamos por uma floresta escura. Lá eu perdi os meus sapatos, e meus pés ficaram sangrando por causa dos galhos e espinhos. Meu pai teve que me carregar e também carregar a minha irmã. Eu passei fome e sede."
Luta pela sobrevivência e medo da morte
"Meu irmão mais novo foi separado de nós durante a fuga. Nós Durante três dias nós não o achamos. Choramos três dias seguidos", diz Walid. Quando finalmente encontraram Nidal, três dias depois, ele estava traumatizado. "Ele chorava e ria ao mesmo tempo. Foi indescritível. Se tivesse acontecido comigo, tudo bem, mas ele é só uma criança", conta Walid, de 17 anos.
Durante a fuga, Walid se tornou adulto. Ele fugiu da Síria com a mãe e dois irmãos. Seu pai teve que ficar para trás. "Minha mãe às vezes chora sem parar. Nós todos temos pesadelos. Vimos combatentes matarem duas pessoas, quando passávamos uma noite dormindo no chão de uma escola. Eu nunca vou esquecer disso. Meus dois irmãos também viram aquilo. Às vezes, Nidal parece querer machucar a si mesmo." Walid diz que o dia mais feliz para ele será quando puder ver seu pai novamente.
Um terço são crianças
As vivências de Farah, Namir e Walid comovem. São experiências de que os pais tentam poupam os filhos. Mas o desespero desses pais é grande. Todos eles têm o desejo de dar a seus filhos um futuro seguro. De acordo com o governo alemão, um terço de todos os refugiados que vêm para a Alemanha são crianças e adolescentes. Organizações de proteção à criança, como a Save the Children, alertam que muitos desses menores passam por experiências cruéis e traumatizantes – mas poucos falam sobre isso.
"É um sofrimento terrível, ouvimos isso todos os dias", diz o psicólogo Andreas Mattenschlager, diretor de um projeto em Ulm que oferece consulta e apoio psicoterapêutico para crianças refugiadas traumatizadas. "Crianças refugiadas, como todas as crianças, querem ter uma sensação de segurança. Na fuga, elas e seus pais conseguiram escapar do sofrimento e da violência, mas a situação delas continua sendo catastrófica", destaca Mattenschlager.
Perda de segurança
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Experiências de guerra, prisão e tortura no país de origem, assim como na fuga de meses para a Europa sobrecarregam muito essas crianças. A situação nos campos de refugiados, a discriminação e o isolamento aumentam a carga psicológica. "Nos abrigos, com 1.500 pessoas em um espaço confinado, as famílias passam muitos dias e meses. Este é um grande fardo", diz o médico Volker Mall, diretor no Kinderzentrum München, um centro de atendimento social e pediátrico em Munique.
Terapia pode melhorar integração
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Andreas Mattenschlager e sua equipe oferecem, uma vez por semana, atendimento gratuito em um centro para refugiados em Ulm. O serviço é financiado pela Igreja. "Mas conseguir ganhar confiança nesse tempo reduzido é um grande desafio", sublinha Andreas Mattenschlager. "As crianças e adolescentes desacompanhados passaram por muitos relacionamentos rompidos. Eles perderam os pais ou, na fuga, tiveram contato com pessoas que posteriormente se perderam. Em primeiro lugar, é importante para eles ter alguém para conversar em quem confiam."
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Protejam o fraco e o órfão,
façam justiça ao pobre e ao necessitado,
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Eles não sabem, não entendem, vagueiam nas trevas:
todos os fundamentos da terra se abalam. (Sl 82, 3-5)
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As feridas emocionais das crianças refugiadas - Instituto Humanitas Unisinos - IHU