23 Setembro 2015
Fidel e Bergoglio têm muito em comum. Ambos são filhos de imigrantes, formaram-se em um colégio de jesuítas, são figuras principais de um processo revolucionário. E ambos têm uma grande influência em toda a América Latina.
A opinião é do historiador cubano Enrique López Oliva, secretário da seção cubana da Comissão para o Estudo da História da Igreja na América Latina (CEHILA), em artigo publicada no jornal Il Manifesto, 22-09-2015. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Eis o texto.
O porta-voz do Vaticano descreveu como "encontro informal" a visita que o Papa Francisco fez no domingo ao líder da Revolução, Fidel Castro, na sua casa, com mulher, filhos e parentes. Mas, nesse caso, a informalidade não faz senão sublinhar o grande valor simbólico do encontro entre dois personagens que se conhecem e se apreciam. Um encontro, por isso, bem programado, porque faria muito mais barulho se não tivesse acontecido.
Eu acho que os dois personagens têm muito em comum. Ambos são filhos de imigrantes, formaram-se em um colégio de jesuítas, são figuras principais de um processo revolucionário.
Fidel, de uma revolução armada que em 1959 derrubou a ditadura de Batista e, depois, declarou Cuba como primeira terra libertada e socialista do continente americano.
Francisco, comprometido como é – e não é só uma análise minha – em uma espécie de revolução que ponha a Igreja Católica em sintonia com os desafios de uma nova época. Ambos têm uma grande influência em toda a América Latina.
Em suma, os dois se conhecem como semelhantes. E demonstram isso os presentes que eles trocaram. O papa deu a Fidel um livro de Armando Llorente, um jovem professor jesuíta no colégio de Belén, onde Fidel estudava, e de origens galegas como o futuro líder revolucionário. Eu também estudei nesse colégio, inscrito no primeiro ano, enquanto Fidel estava no último, e eu me lembro do religioso que mais tarde encontrei em Miami, para onde tinha se mudado no início dos anos 1960 em desacordo com a revolução do seu ex-aluno e para acompanhar o colégio Belén, transferido pelas autoridades religiosas para a Flórida.
Naquela época, em 1998, Llorente me falou do então presidente cubano em termos muito elogiativos, como de um excelente estudante, especialmente em matérias literárias, e como um grande atleta "que defendia com valor a bandeira do colégio".
Llorente me disse que muitas vezes participava com Fidel de excursões. Em uma dessas, caiu acidentalmente em um rio, e Fidel o ajudou a sair. Não duvido que, presenteando-lhe os escritos de Llorente, o Papa Francisco quis testemunhar que está em comunicação com Fidel e que pretende ajudá-lo a se reconciliar com o seu passado.
Por sua vez, o mais velho dos Castro presenteou ao papa o livro Fidel e a religião, escrito pelo teólogo da libertação brasileiro Frei Betto em 1985, depois de longas conversas com o então presidente cubano e que – como lembrou o autor – vendeu 1,3 milhão de cópias na ilha.
No livro, Fidel defende a necessidade de um diálogo entre cristãos e marxistas por uma sociedade mais justa. E, como Frei Betto também lembra, depois desse livro, Fidel voltou a dialogar com os bispos cubanos, e melhoraram as relações entre Estado e Igreja.
Provavelmente, foi também graças às teses do livro que foi possível o convite e, depois, a visita papal de João Paulo II em 1998.
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Bergoglio e Fidel, revolucionários produzidos pelos jesuítas - Instituto Humanitas Unisinos - IHU