Por: Cesar Sanson | 10 Setembro 2015
"O grande dilema dos militantes e dos movimentos sociais ligados ao PT é como conciliar a defesa dos governos petistas e, ao mesmo tempo, criticar a sua atual política econômica. Não dá para ser a favor e contra ao mesmo tempo. É este discurso esquizofrênico que está na raiz da debandada que o partido enfrenta neste momento". O comentário é de Ricardo Koscho, jornalista, em seu blog, 09-09-2015.
Segundo ele, "ao se tornar um partido meramente eleitoral, transformando lideranças populares e sindicais em funcionários públicos, o PT foi perdendo as bases populares, que constituíam a sua grande força. A vida real mostra que o "exército do Stédile", que Lula ameaçava convocar para enfrentar os adversários, simplesmente não existe mais".
Eis o artigo.
Em São Paulo, 2,5 mil manifestantes estavam nesta segunda-feira na avenida Paulista, segundo a Guarda Civil Metropolitana; em Belo Horizonte, 500 saíram às ruas e, em Brasília, foram contados 200. É este o melancólico balanço do "Grito dos Excluídos" em 2015, quando completou 20 anos o movimento popular criado como contraponto às comemorações oficiais do 7 de setembro.
Quando surgiu, em setembro de 1995, com protestos promovidos em 170 cidades por uma oposição então comandada pelo PT, no começo do primeiro governo de FHC, o "Grito" foi inspirado no tema "A fraternidade e os excluídos", lançado naquele ano pela campanha da CNBB. Por ironia do destino, o símbolo era uma panela vazia.
E nas voltas que a vida dá, hoje o PT está no governo, e a panela virou símbolo da oposição liderada por FHC.
Há tempos venho me fazendo a pergunta que está no título: aonde foram parar os militantes do PT? Afinal, eram eles que mobilizavam as massas para o "Grito dos Excluídos". Eram, em sua maioria, as mesmas lideranças dos tantos movimentos sociais e populares organizados durante a resistência à ditadura militar, nas lutas contra a carestia, pela anistia, por moradia e transporte, pelas eleições diretas e pela Constituinte.
A resposta não é simples, mas o fato é que, nos últimos tempos, eles foram sumindo não só das ruas, promovendo manifestações cada vez mais esvaziadas, mas até das redes sociais, onde o anti-petismo não para de crescer, como atestam todas as pesquisas de opinião. Crescem, ao mesmo tempo, as defecções de prefeitos e parlamentares eleitos pelo partido, como o R7 mostrou em levantamento publicado esta semana.
O grande paradoxo destas constatações é que a inclusão social, com o atendimento das demandas básicas de movimentos como o "Grito", sempre é apresentada pelo PT como a grande conquista dos governos do partido nos últimos 12 anos. Ainda na terça-feira, em Assunção, no Paraguai, o ex-presidente Lula lembrou dos 36 milhões de brasileiros que saíram da miséria absoluta nos seus dois mandatos e afirmou que foram eles, os mais pobres, que salvaram a economia brasileira, ao defender que os recursos para os programas sociais devem ser mantidos.
Os mais xiitas podem argumentar que movimentos como o "Grito dos Excluídos", assim como os daqueles que defendem a reforma agrária (MST) e moradias populares (MTST), não fazem mais sentido e perdem militantes porque os excluídos foram incluídos na sociedade de consumo, ganharam lotes e casas (assentamentos rurais, Minha Casa, Minha Vida), mas sabemos que a realidade não é bem assim.
Hoje, o problema é outro, e bem mais grave: com os empregos perdidos ou ameaçados, como pagar as prestações das casas, dos carros, das viagens, dos eletroeletrônicos em geral e ainda as contas de luz cada vez mais altas? Cai o consumo, cai a produção, caem o emprego e a renda, cai a arrecadação, cai o PIB. Para quem antes não tinha água, luz, televisão, moradia e outras benfeitorias, é bem mais difícil perder o que conquistou nos últimos anos do que para aqueles que já tinham tudo.
O grande dilema dos militantes e dos movimentos sociais ligados ao PT é como conciliar a defesa dos governos petistas e, ao mesmo tempo, criticar a sua atual política econômica. Não dá para ser a favor e contra ao mesmo tempo. É este discurso esquizofrênico que está na raiz da debandada que o partido enfrenta neste momento e se agrava à medida em que se aproximam as próximas eleições municipais. Quem agora vai querer se aliar ao PT que, nos seus bons tempos, arrostava alianças?
Ao se tornar um partido meramente eleitoral, transformando lideranças populares e sindicais em funcionários públicos, o PT foi perdendo as bases populares, que constituíam a sua grande força. A vida real mostra que o "exército do Stédile", que Lula ameaçava convocar para enfrentar os adversários, simplesmente não existe mais.
E vida que segue.
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Aonde foram parar os militantes do PT e o “exército do Stédile?” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU