27 Julho 2015
Analogamente ao papel das mulheres na sociedade, uma cooperação mais imediata das mulheres como mulheres no apostolado da hierarquia poderia constituir uma força humanizante que corrija as tendências ao clericalismo burocrático e ao carreirismo.
Publicamos um trecho traduzido do livro Promise and Challenge. Catholic Women Reflect on Feminism, Complementarity, and the Church [Promessa e desafio: mulheres católicas refletem sobre feminismo, complementaridade e Igreja] (Huntington, Indiana, Our Sunday Visitor, 2015, 256 páginas), organizado por Margaret Harper McCarthy.
O excerto foi publicado no jornal L'Osservatore Romano, 22-07-2015. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Eis o texto.
Para compreender como poderia haver "uma presença feminina mais incisiva na Igreja" (Evangelii gaudium, n. 103), é preciso primeiro reconhecer e apreciar a Igreja na sua realidade feminina, naquela que foi definida como a dimensão mariana.
A dimensão mariana – a laicidade ou "sacerdócio comum" – é aquela dimensão secular que pode "tornar a Igreja presente e ativa naqueles locais e circunstâncias em que só por meio deles ela pode ser o sal da terra" (Lumen gentium, n. 33). É a dimensão mariana que torna a Igreja e o mundo, de modo novo, "como uma casa", ajudando o mundo a "ser" e a crescer de acordo com a sua vocação mais profunda.
Naturalmente, a dimensão mariana não existe sem a dimensão petrina. A dimensão petrina encarna Cristo, que vem à Igreja para torná-la fecunda e, de tal modo, garante o fluxo constante de vida a partir de Cristo a ela. Mas essa função petrina emerge do interior da dimensão mariana e está a seu serviço.
Sobre esse ponto, Hans Urs von Balthasar nota a prioridade da dimensão mariana estabelecida com a Anunciação, que permaneceu e se tornou mais profunda quando (sob a cruz) Maria foi dada aos apóstolos como a sua Mãe.
A partir da perspectiva dessa compreensão "esponsal" da Igreja, notamos que, como membro da dimensão mariana da Igreja, já estamos na Igreja e participamos plenamente dela. Portanto, quando se fala da presença das mulheres – ou de qualquer leigo – na Igreja, é preciso resistir a certas tendências ao clericalismo, que dá às mulheres um grande trabalho eclesial para que se sintam "mais envolvidas", como se já não fossem.
As tendências clericalistas reduzem a abertura da Igreja ao mundo e a fecundidade que ela pode ter, isto é, justamente aquilo para cujo serviço existe a dimensão petrina. A presença das mulheres e dos leigos na Igreja, portanto, é garantida em primeiro lugar pela sua "permanência no seu lugar" na dimensão mariana no centro do mundo.
Dito isso, há um lugar em que os leigos "podem ainda ser chamados, por diversos modos, a uma colaboração mais imediata no apostolado da Hierarquia, à semelhança daqueles homens e mulheres que ajudavam o apóstolo Paulo no Evangelho, trabalhando muito no Senhor" (Lumen gentium, n. 33).
E, na medida em que os leigos são consultados em alguma função da Igreja oficial, não há nada de verdadeiramente novo ao consultar as mulheres. No entanto, se considerarmos a participação das mulheres leigas como tais, podemos apontar o dedo para qual fim essencial pode ter esse envolvimento para além do "incluir a todos".
Analogamente ao papel das mulheres na sociedade, uma cooperação mais imediata das mulheres como mulheres no apostolado da hierarquia – "onde se tomam as decisões importantes" (Evangelii gaudium, n 103) – poderia constituir uma força humanizante que corrija as tendências ao clericalismo burocrático e ao carreirismo.
Embora o conceito que a Igreja tem da autoridade não tenha nada a ver com o poder, da forma como é comumente entendido, muitas vezes, somos tentados a identificar o poder sacramental com o poder em geral, ou com o poder como dominação.
Em vista disso, uma presença feminina ajudaria a recordar a "Pedro" aquilo que poderia ser facilmente esquecido. Vendo a Igreja feminina, lembra-se a "Pedro" aquilo a que ele deve a si mesmo e aquilo a que ele serve. E lembra-se a ele que as suas decisões são tomadas todas dentro de uma decisão anterior, o fiat de Maria, como disse Newman.
Em última análise, para abordar de modo autêntico o que significa para as mulheres "levar adiante o seu perfil", sempre é preciso partir da afirmação da diferença entre os sexos como única garantia da fecundidade espiritual e física da natureza humana. Qualquer reflexão sobre o assunto deve levar seriamente em consideração tanto as pressões da cultura dominante, quanto da mulher como tal, como ser propenso à maternidade que cria uma casa para o ser humano no sentido mais profundo.
Implícita nessa compreensão do gênio feminino, vemos que ela já é tanto social quanto eclesial, e que o valor do "dar um passo à frente" das mulheres de maneira mais pública consiste em tornar o mundo e a Igreja mais, e não menos, semelhantes a uma casa.
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O papel das mulheres na Igreja Católica: uma força contra o carreirismo - Instituto Humanitas Unisinos - IHU