23 Abril 2015
"A mudança de religião é o fator mais específico e de difícil mensuração entre os vários fatores tomados em consideração pelo Pew Research Center. A mobilidade religiosa, muito maior entre os homens do que entre as mulheres, interessa particularmente aos cristãos, ou seja, o grupo que parece destinado a enfrentar as maiores transformações quantitativas e geopolíticas", escreve Marco Ventura, jornalista, em artigo publicado pelo jornal Corriere della Sera, 19-04-2015. A tradução é de Benno Dischinger.
Eis o artigo.
Como será o mapa religioso do mundo de amanhã? Como mudará a fisionomia das várias áreas do planeta? Quais as religiões que se expandirão, quais se retirarão? Em virtude de que fatores? Tenta responder a estas perguntas o estudo sobre o Futuro das religiões do mundo com o qual o instituto americano Pew Research Center prevê a parábola das maiores feridas entre 2010 e 2050.
Em tempos de ânsia pela violência islâmica, o dado que impressiona é a maior taxa de crescimento do Islã: segundo os pesquisadores, em 2050 o número dos muçulmanos ter-se-á aproximado ao número dos cristãos, em 2070 as duas comunidades terão igual consistência e por 2100 o Islã se terá tornado a religião mais difundida do planeta. Isso ocorrerá por uma redução dos cristãos, que crescerão mais do que qualquer outra religião, o Islã excluído, mas pelo maior crescimento numérico dos muçulmanos.
Delineia-se um mundo sempre mais polarizado em torno das duas maiores religiões, que hoje representam 54% da população mundial e que subirão aos 61% em 2050 e a quase 70% em 2100: espera-se, portanto, um mundo menos diverso e mais monoteísta. Incidem sobre o processo fatores como a média de idade e a composição por faixas de idade dos vários grupos, as taxas de fertilidade e de mortalidade, as migrações, as diferenças regionais.
Muçulmanos e cristãos crescerão mais em virtude de sua presença em áreas de alto crescimento demográfico, em particular na África subsaariana. A taxa de fertilidade dos muçulmanos será, em geral, mais alta do que a dos cristãos, no Egito e na Índia, por exemplo; mas, haverá exceções como a Indonésia, onde os cristãos serão mais férteis do que os muçulmanos.
O budismo cairá em percentual porque concentrado numa área, Ásia-Pacífico, de menor desenvolvimento demográfico. Ao contrário, o crescimento da população indiana, de quase meio bilhão a mais em 2050, aumentará a comunidade hindu e o peso relativo do Islã indiano. Os 19 milhões de migrantes previstos no período considerado, dos quais 5 milhões de cristãos, terão um peso considerável.
No Oriente Médio as hostilidades contra os cristãos comportarão uma perda, frequentemente uma fuga, de aproximadamente meio milhão de fiéis, mas o afluxo de trabalhadores imigrantes aumentará de um milhão e meio de unidades a presença cristã nos Países do Golfo.
Os números descrevem religiões e áreas destinadas a permanecerem substancialmente imutadas. É o caso da presença islâmica no Oriente Médio e na África do Norte, ou da presença cristã na América Latina. Vice-versa, a Europa atravessará mudanças profundas. O Velho Continente será a única região para a qual se prevê uma redução da população complexiva.
Os cristãos descerão em 10 pontos percentuais e se tornarão 65% da população complexiva, com percentuais menores na Suécia (52%), no Reino Unido (45%), na França (43%), nos Países Baixos (40%) e na República Checa (19%).
A cota perdida dos cristãos ficará dividida entre não filiados, muçulmanos e, em pequena parte, hindus e budistas.
Crescerão em cinco pontos percentuais os não afiliados, ou seja, aqueles que declaram não pertencer a nenhuma Igreja ou religião. Aquele subirão a quase um quarto da população europeia, com picos de 49% nos Países Baixos, de 44% na França, de 39% no Reino Unido, de 30% na Alemanha e na Suíça.
Os muçulmanos passarão dos 6% hodiernos aos 10% (um incremento de 63%), com picos de12% na Bélgica e na Suécia, o país com o máximo crescimento de população muçulmana no período considerado, e de 11% na França e no Reino Unido.
A Itália está entre os países nos quais a comunidade muçulmana crescerá mais, de 3,7% da população complexiva hodierna a 9,5% em 2050, quando, aliás, os italianos serão quatro milhões a menos.
O Islã italiano é hoje pouco mais da metade do Islã holandês em proporção à população dos dois Países: em 2050 o Islã italiano e o Islã holandês terão o mesmo peso percentual.
O Islã helvético, 5% da população suíça, é hoje um pouco maior em percentual do que o italiano, mas em 2050 os muçulmanos italianos serão 2% mais numerosos em relação à população complexiva.
Também na Itália a população cristã diminuirá em 10 pontos percentuais, descendo assim aos 72,8%, e os não filiados crescerão em quatro pontos percentuais, subindo aos 16,3%. A particular dinamicidade da paisagem europeia dependerá das migrações e da diversa taxa de fertilidade das várias religiões, mas também da mudança de religião, principalmente de quantos, entre os 22 milhões de novos não filiados, serão ex-cristãos.
A mudança de religião é o fator mais específico e de difícil mensuração entre os vários fatores tomados em consideração pelo Pew Research Center. A mobilidade religiosa, muito maior entre os homens do que entre as mulheres, interessa particularmente aos cristãos, ou seja, o grupo que parece destinado a enfrentar as maiores transformações quantitativas e geopolíticas.
O estudo prevê que, em 2050, 106 milhões de pessoas deixarão o cristianismo, contra os apenas 12,5 milhões de convertidos ao Islã. O saldo será negativo, mas o cristianismo se demonstrará mais capaz de mover-se e de renovar-se. Além disso, se a livre escolha de ser cristãos é particularmente cara ao Ocidente, ela é destinada a diminuir ulteriormente o peso sobre o cristianismo global da Europa e da América do Norte, onde a redução dos cristãos e o crescimento dos não filiados serão maiores do que no Velho Continente.
Os cristãos europeus e norte-americanos eram 38% de todos os cristãos em 2010: serão reduzidos a um quarto em 2050. Em compensação, crescerão os cristãos da África subsaariana, região na qual viverão em 2050 quase 40% dos cristãos do mundo. A Nigéria, onde, todavia, o Islã superará o cristianismo, tornar-se-á o terceiro País do mundo em número de cristãos após os Estados Unidos e o Brasil. Será ainda mais decisivo o cristianismo chinês, sobre o qual os pesquisadores americanos confessam ter dados de escassa confiabilidade.
O estudo do Pew Research Center satisfaz a curiosidade de quem quer saber que bandeiras religiosas serão plantadas no mapa do mundo. Todavia, os dados são também um convite a relativizar a luta entre religiões e a observar as transformações profundas do crer e as mudanças internas em cada tradição religiosa.
Como mudarão, dentro de cada grupo, a fé, a prática, a identidade e os preceitos: Que islamismo será aquele dos muçulmanos europeus, indianos e nigerianos? E, como será o cristianismo de amanhã, onde a Tanzânia, o Congo e as Filipinas pesarão muito mais do que a Alemanha e a França?
Talvez, como parece sugerir o estudo, a religião do futuro será sempre mais uma questão de fidelidade à família, à cultura e às tradições, onde a coletividade conta mais do que o indivíduo. Não é, no entanto, excluído que se revele mais forte do que o previsto a religião da escolha, da liberdade, na qual o indivíduo conta mais do que o grupo.
Mais importante do que a diferença entre cristãos e muçulmanos será então a distinção entre quem crê na livre escolha da fé e quem crê na constrição. Contenderão a terra e o Deus que mostra o seu poder nos números e o Deus que fez tantas estrelas que não conseguimos contá-las.
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