Por: André | 12 Fevereiro 2015
Juan Muñoz e Sergio Suárez (foto) são subdiretores da Fundação Universitária C. J. Chaminade, que acaba de apresentar um curso, junto à Complutense, sobre “A nova diplomacia vaticana do Papa Francisco e a governança global”, que “pretende refletir sobre o Vaticano como ator global, além de referência moral”.
Fonte: http://bit.ly/1Di1Os4 |
A entrevista é de Jesús Bastante e publicada por Religión Digital, 11-02-2015. A tradução é de André Langer.
Eis a entrevista.
A nova diplomacia do Papa Francisco e a governança global. Do que estamos falando?
De um curso próprio, que vamos realizar junto ao Centro de Estudos da Universidade Complutense de Madri, cujo programa pretende fazer uma reflexão sobre como as mudanças que estão ocorrendo na Igreja, aquelas que Francisco concretamente está fazendo no Vaticano e sua diplomacia, podem afetar internacionalmente.
Vamos direto ao assunto, como podem afetar?
A intenção que está por trás é refletir sobre isso do ponto de vista universitário, com a tranquilidade de algo sério, científico e acadêmico. Analisar o papel do Papa no mundo atual. Como as mudanças no Vaticano podem afetar as Relações Internacionais. Já vimos que o Papa e sua diplomacia intervieram em conflitos: a questão de Cuba, da Venezuela... As mudanças de Francisco repercutem nas governanças. O Vaticano é agora um ator global.
A diplomacia vaticana é famosa historicamente porque sempre foi uma diplomacia muito ativa, embora muito discreta. Sempre tratou de ser um lugar de diálogo, de reconciliação entre países e dentro de algumas cidades também. Mas é difícil saber como funciona. Explicar o seu funcionamento é um dos objetivos do curso. Na sequência, saber quais são os movimentos do Papa Francisco, suas mudanças (Cuba, Venezuela...). Trata-se de uma aproximação a partir de duas perspectivas: a da diplomacia vaticana tradicional e a das mudanças muito recentes que requerem ações globais, necessitam atores que, além disso, sejam referências morais. Há poucos. Mas Francisco é um deles. E com sucesso. O Papa, como chefe da Igreja e do Estado do Vaticano, sempre tem sido uma referência internacional. Mas o interessante é sê-lo em lugares e em contextos onde não o foi tradicionalmente. O fato de que, por exemplo, vá intervir no Congresso Norte-Americano, é um marco histórico. Será. Ou sua intervenção no Parlamento Europeu. São coisas que demonstram que algo está mudando.
Além disso, é a primeira vez na História em que verdadeiramente estamos falando de uma governança global. Porque mesmo João Paulo II, durante o seu Pontificado, também deu uma importância radical à diplomacia. Na mudança de sistema (o modelo dual, da Guerra Fria). Agora estamos assistindo a um fenômeno absolutamente novo em todos os níveis: a globalização, por um lado, mas com seus pólos religiosos. Os problemas de sempre (conflito árabe-israelense, Cuba-Estados Unidos...), mas a mudança da Igreja católica: a das periferias. A Europa deixa de ser o umbigo da Igreja (curiosamente também está deixando de ser o umbigo do mundo) e diante disso é preciso oferecer novas respostas pastorais e novidades diplomáticas.
Sem dúvida alguma. Os especialistas contam que está havendo um claro posicionamento, uma mudança de perspectiva. Já tinha o poder, mas é pelo novo ponto de vista que se transformou em ator global. Situa-se de maneira diferente diante de determinados conflitos. Ainda não está claramente definido, mas parece dar indícios. Está buscando pontos de colaboração. Quer gerar fóruns de diálogo inter-religioso diante dos conflitos. Acontece que, na realidade, não é fácil encontrar pessoas que estejam por dentro do que está ocorrendo. Que saibam o que está por trás destas mudanças. Mas todos os especialistas em Relações Internacionais veem claramente que estão acontecendo coisas e que a posição do Vaticano em relação a determinados temas (a ecologia, o papel da mulher, o diálogo entre diferentes religiões, os conflitos que estão ocorrendo em determinadas situações, como uma guerra) está sendo contundente. Isto será analisado com especialistas que estão por dentro do que está acontecendo e podem nos falar sobre isso.
A Fundação de vocês, com uma forte presença cristã, católica, inscrita de algum modo em uma universidade pública, como está vendo, nesse ponto médio, o efeito Francisco? Entre os estudantes, jovens que antes, normalmente, não falavam da Igreja, porque o Papa não era uma referência tão à mão, exceto para questões puramente éticas? Como vocês estão observando isso?
Logicamente, as mudanças sociológicas, de percepção e da Igreja, tanto em nível local como global, demoram para se materializar. Mas eu penso que há uma base prévia sobre a qual se está construindo e que tem a ver com duas chaves: o respeito e o interesse. Na medida em que todos os meios de comunicação vão cobrindo os discursos, as viagens, os fatos do Papa Francisco, eu penso que em qualquer um, cristão ou não, levanta um interesse. Também um respeito, porque se vê que está agindo com coerência, como desde um primeiro momento quis colocar-se diante de muitas questões da Igreja. Mas, sobretudo, interesse.
Fonte: http://bit.ly/1Di1Os4 |
É muito difícil saber o que está acontecendo com os jovens, porque as estatísticas seguem dizendo que há uma grande falta de interesse religioso por parte da juventude. É verdade, no entanto este é um Papa que gera respeito e carinho, porque é uma pessoa que ouve, que dá atenção e que tem empatia imediata. Pelo que se torna agradável. Mas, até que ponto vai permanecer como líder sociológico? Creio que ouve, que atende melhor, que é uma pessoa mais flexível. Isso lhe assegura a capacidade de influência? A verdade é que é difícil saber. Não me atrevo a fazer nenhum tipo de previsão. O que é verdade é que eu creio que se percebe massivamente certo interesse pelo que a Igreja diz. Antes era uma entidade distante, abstrata, que somente repreendia e não entendia os nossos problemas. Não estava disposta a dialogar. E as atitudes fazem mudar as percepções...
Penso que as pessoas agora percebem que já não há um pensamento único e que se pode falar de determinados temas com tranquilidade. Que é possível, pelo menos, começar a debater as coisas de outra maneira. E se pode tentar ouvir e buscar soluções para os problemas, nem sempre a partir de uma direção única, absolutamente marcada. A única interpretação das coisas já não é a que vem de Roma. A Igreja se aproximou da realidade. Uma realidade em contínua transformação, muito complicada, muito efêmera. Com processos de mudanças radicais aos quais é preciso atender, dar uma resposta válida e significativa para os jovens, que durante tantos anos não atenderam.
Este curso tem quatro pontos. Vamos desenvolvê-los: 1. Colocações introdutórias. 2. O Pontificado do Papa Francisco e a organização da Igreja. 3. Atores e processos internacionais: a repercussão da mudança. 4. A mudança da Igreja católica diante da governança global.
O primeiro ponto é natural: é preciso fazer uma exposição introdutória. Tanto do papel da religião no âmbito internacional como da dinâmica dessas relações entre forças religiosas e políticas, fazendo também uma introdução metodológica. O segundo bloco que tentamos analisar é que mudanças houve dentro da Igreja católica com o novo Papa, previamente incluída a reforma da cúria, que já este mês, no consistório de cardeais, será apresentado pelo famoso C9. Depois, deve-se estudar como esse processo afeta a própria diplomacia vaticana: mudanças na nunciatura, na Secretaria de Estado, no organograma.
Também o funcionamento das relações Igreja-Estado. Deve-se recorrer a termos do direito eclesiástico e outros, para que, ao menos nesses primeiros dois blocos, os estudantes possam ter uma visão geral dos conceitos e das estruturas. Que a organização seja clara é imprescindível para poder abordar o terceiro e o quarto blocos. O terceiro é mais de relações bilaterais (Palestina-Israel, América Latina... recolher exemplos de conflitos que já duram muito tempo e onde o religioso, a favor ou contra, é um fator importante); o quarto, de conflitos multilaterais (desenvolvimento econômico, governança global, ecologia...). Essa agenda multilateral que afeta a globalização e na qual intervém agora mesmo o fator religioso, neste caso a Igreja católica.
São cem horas de aula, dez semanas. Começa no dia 23 de fevereiro e vai até 30 de abril.
Para não assustar, são realmente 80 dias letivos. Depois, há um trabalho de conclusão de curso.
Nas terças-feiras e quartas-feiras, das 17h às 21h. Onde? Quanto...? Dados práticos.
O programa é uma colaboração com o Centro da Complutense, que tem seu campus em Somosaguas. A Fundação Chaminade, como já sabem, está situado na rua João XXIII, 9, ao lado do metrô Metropolitano. As aulas serão nas duas sedes: algumas em Somosaguas e outras na Chaminade. O diploma é emitido pela própria Complutense e é oficial da UCM. Finalmente, o que o Chaminade está fazendo é produzir a ideia, dar seu impulso ao projeto, para que o programa se viabilize. O custo são 700 euros, e com as bolsas ficará em aproximadamente 70%. A ideia é que as pessoas se matriculem no sítio da Complutense e que a partir da nossa página acessem o programa de bolsas.
E na página da Chaminade há uma seção sobre o curso onde se pode ver os detalhes: professores, horários, etc. A matrícula e a opção de bolsa.
Queremos animar os possíveis estudantes de graduação e pós-graduação para que entrem e olhem o programa. Cremos que é interessante e é feito com todo o rigor e a seriedade possível que acreditamos - a Complutense e nós – que um tema como esse merece. Sabendo que está no presente e que, para o futuro da universidade espanhola, convém que se vá perfilando e desenvolvendo.
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“As mudanças de Francisco repercutem no mundo. O Vaticano é agora um ator global” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU