12 Julho 2015
"Fazer da finança e do neoliberalismo os inimigos número um e a última ratio da desordem na terra é praticar exorcismo obscurantista, é retardar a conscientização da realidade das transformações e dos potenciais libertadores que elas contêm, e da elaboração de políticas alternativas", afirma Boutang.
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Diante desse cenário, o sistema capitalista tem sofrido modificações significativas em comparação com a estrutura que apresentava na era industrial. De acordo com o economista, a financeirização é simultaneamente o cerne dessas transformações e do capitalismo em si. Ao longo da entrevista, Boutang aborda os reflexos da financeirização nos diversos campos da vida em sociedade, como a relação com as Tecnologias de Informação e Comunicação como meio para pensar alternativas para a construção de uma sociedade mais comprometida com o bem comum. “Tenho grande confiança no desenvolvimento de uma política mais sintonizada com as necessidades de nosso tempo, porque a revolução digital, ao contrário da revolução industrial, nos conduz agora a uma fase da humanidade capaz de abolir o trabalho como maldição bíblica para passar à atividade coletiva como liberação do homo oeconomicus”, frisa.
Yann Moulier Boutang participou ativamente do movimento de 1968. Em 1973, conheceu Antonio Negri, de quem permanece parceiro intelectual. Em 1974, criou a revista Camaradas, que desenvolve os temas da “Autonomia Operária”, conceito adotado então na Itália por militantes procedentes do operariado. Camaradas é um dos primeiros grupos do movimento autônomo na França. Após a autodissolução da revista, Boutang participa, de 1979 a 1981, do Centro Internacional para Novos Espaços de Liberdade - CINEL, uma iniciativa de Félix Guattari. Atualmente é redator chefe da revista política, artística e filosófica Multitudes. De sua vasta produção intelectual, destacamos: De l’esclavage au salariat. Économie historique du salariat bridé (Paris: PUF, 1998), Le droit dans la mondialisation: une perspective critique (Paris: PUF, 2002), Le capitalisme cognitif. La nouvelle grande transformation (Editions Amsterdam, 2007) e L'Abeille et l'Économiste (Paris: Carnets Nord, 2010).
A entrevista foi publicada na revista IHU On-Line, no. 468, cujo tema de capa é A financeirização da vida. Os processos de subjetivação e a reconfiguração da relação ‘economia e política’.
Confira a entrevista.
IHU On-Line - Nos dias de hoje, quais são os impactos fundamentais da financeirização em nossa vida?
Foto: networkcultures.org
Yann Moulier Boutang - Vejo três tipos de impacto segundo a natureza dos setores afetados. A financeirização de tudo diz respeito, naturalmente, às atividades que chamaríamos de mercantis (comércio, indústrias manufatureiras, produção agrícola, indústrias culturais, indústrias financeiras como os seguros), mas ela imiscui-se também, de forma crescente, naquilo que a contabilidade nacional chama de setor não mercantil (gestão do Estado, das coletividades locais, das universidades, dos serviços públicos, entre os quais o da saúde, e das empresas). Mas há também um impacto talvez mais profundo e menos destacado que diz respeito à produção do meio vivo em geral (a biosfera planetária) e ao meio mais especificamente inserido no primeiro: a noosfera, que cobre todas as atividades mentais, espirituais, culturais. A produção, como já haviam pensado, faz muito tempo, os filósofos e os teólogos, não é somente a transformação da matéria, por meio da energia, pelo homo faber; ela abarca a geração das condições dessa produção: a linguagem, o corpo em boa saúde, a cultura e todos os laços que fazem de nós seres sociais. Hoje, porém, essa evidência acabou caindo no modelo reducionista da ciência econômica. A produção de conhecimentos novos, a aprendizagem por meio de conhecimentos e aquela, mais delicada, do vivente por meio do vivente, por levantar questões éticas cruciais, ampliaram tanto a esfera pertencente ao econômico, que ela colocou em crise os principais instrumentos de avaliação a que recorriam os economistas (o valor trabalho, o valor utilidade, a medida do tempo, da produtividade, a imputação a indivíduos ou a entidades como as empresas da inovação, da eficiência).
IHU On-Line - Em que medida o neoliberalismo é o fundamento, a base da financeirização?
Yann Moulier Boutang - Eu não colocaria as coisas nessa ordem. Pelo contrário, eu inverteria a ordem. O neoliberalismo, que, do liberalismo, só mantém o aspecto econômico, logo, o pior, porque logo se desembaraça do aspecto libertador dos direitos humanos, é apenas uma consequência subalterna, historicamente transitória, do regime de financeirização. Ora, a financeirização é, ela mesma, uma consequência da transformação profunda a que me referi na primeira resposta, e que resumo em minha tese do advento de um terceiro tipo de capitalismo, o capitalismo cognitivo. É porque o capitalismo descobriu o novo continente da polinização humana (da força produtiva das interações da multidão humana em sociedade), de trezentas a mil vezes mais produtiva que o antigo modo de produção dominado pelo modelo da mecânica, da energia de carbono, que ele precisa ampliar a finança, já inventada na era do mercantilismo, em Gênova, para cobrir o risco marítimo, a essa nova economia mundial. Em outras palavras, a multiplicação do crédito pelo mercado financeiro em relação aos fundos próprios (um coeficiente de alavancagem [leverage, em inglês] monetária de 30, em vez de 5) não é uma monstruosidade vinda do céu ou do inferno, e sim um pálido reflexo da descoberta de um novo Eldorado. Os GAFA [1] são os conquistadores do antigo mundo da economia industrial, embora seu evangelho seja bastante frustro (Don’t be evil de Google[2]) ou absolutamente desmedido em sua negação da finitude (a primeira versão do transumanismo californiano). Se a nova esfera da riqueza (e, portanto, do valor possível), como a polinização, vale, no mínimo, várias centenas de vezes o valor do Produto Interno Bruto - PIB comercial planetário, os antigos índices de multiplicador de crédito se tornam totalmente insuficientes para valorizar essa nova esfera, e os aprendizes de feiticeiro das salas de trading [3] dos bancos arremedam essa transformação fundamental.
"O monopólio da emissão de crédito ou do instrumento técnico de pagamento que vai traduzi-lo concentra um imenso poder" |
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A finança é o governo por default [4] das externalidades positivas de polinização, e também das temíveis externalidades negativas de destruição de nosso oikos, nosso meio ecológico. O neoliberalismo imiscui-se nessa brecha aberta da antiga economia: ele permite avaliar, estabelecer tecnicamente um preço para o futuro e a massa em falta da economia (o continente das externalidades). Enquanto os Estados e a sociedade mundial não compreenderem o potencial produtivo da polinização humana, não medirem todas as consequências em matéria de valor (portanto, de prioridades), de novos e antigos bens comuns a serem instituídos, incentivados, protegidos em comum, em matéria de impostos, de regulação, o neoliberalismo prosperará como o único programa disponível. É nesse sentido que falo de um governo neoliberal por default, na acepção da informática: trata-se de um modo de governança ao qual recorre o sistema global, que tem horror do risco e da incerteza radical ainda mais, por falta de algo melhor. Fazer da finança e do neoliberalismo os inimigos número um e a última ratio da desordem na terra é praticar exorcismo obscurantista, é retardar a conscientização da realidade das transformações e dos potenciais libertadores que elas contêm, e da elaboração de políticas alternativas.
IHU On-Line - Em que aspectos a pulsão de vida (e morte) do capitalismo, a acumulação, é um elemento importante para compreendermos essa financeirização?
Yann Moulier Boutang - Não gosto muito do uso do termo “pulsão de vida” ou, a fortiori, “pulsão de morte” para se referir a entidades que não sejam pessoas humanas e que não seja no plano psicanalítico. Além disso, não penso que a financeirização, outro nome do capitalismo (é seu cerne atual), seja suicida, nem dionisíaca, em relação à concepção apolínea e fria da racionalidade neoclássica. Enfim, ao contrário de certo marxismo vulgar mecanicista, a acumulação não é “a lei e os profetas” do capitalismo (o capitalismo mostrou, em sua história, ter sido capaz de destruir friamente quantidades gigantescas de capital físico e de capital intelectual quando seu poder esteve ameaçado — definido, como diz Foucault, como a capacidade de fazer com que alguém faça algo, no caso, os explorados). O capital e o capitalismo são uma relação social, uma relação, e não uma quantidade física de capital. Suas mutações, suas reações não são aquelas de um touro, nem de um patrão, tampouco somente as dos patrões coletivos. Acredito, como mostrou a escola operaísta, a meu ver, de maneira decisiva, que o capital como sistema complexo cujos agentes não passam de “trägers” (condutores) só é inteligível como reação e interação com o proletariado, a classe operária e, hoje, o mundo cognitivo ou das redes, a composição do capital intelectual vivo, e como controle dos impulsos e movimentos desse devir-classe, ele só pode ser compreendido como reação, retrocírculo, se assim podemos dizer, dentro dessa relação. Toda a história específica das relações (portanto, de força) capitalistas, as únicas que constituem o capital, o qual não é nem uma coisa nem dois atores preexistentes, só pode ser lida nessa dialética, e, além disso, com a opção metodológica, mais interessante do ponto de vista heurístico, de inverter as prioridades de ver, primeiramente, os movimentos a partir de baixo, para depois subir, em vez de partir dos níveis econômicos e técnicos do capital para deles deduzir o Estado, as classes sociais, os “subalternos”, logo, do economismo, que é um marxismo e um neoliberalismo igualmente vulgares.
A realidade é mais simples e mais complexa ao mesmo tempo. Mais simples: o capitalismo como modo de produção, no momento em que parecia (apenas parecia) superar um antagonismo devido ao desaparecimento do “socialismo real”, deparou-se com um limite, o qual podemos chamar de morte, mas não uma pulsão de morte, e sim a morte do planeta, de nossa morada comum, a da biosfera. Essa manifestação cada vez mais nítida da consciência da finitude não dos indivíduos (ontogênese), mas do homo sapiens sapiens (filogênese), é a nova força que trabalha o par das relações de força das classes, o novo clinâmen [declinação], os antigos dominados e os sempre dominantes. Diante dessa emergência que, em economia, tem o nome de aumento do peso das externalidades negativas e positivas (estas últimas sendo pouco visíveis, ao contrário dos efeitos devastadores do crescimento capitalista), o governo da relação (a famosa governança) se expressa pela forma da finança e da financeirização, que permite incluir essas externalidades tanto para o bem como para o mal. A financeirização não é a pulsão de morte, ela é uma resposta “par défaut”, por falta (falta de alternativa), a essa finitude planetária e ao risco político que afeta a sobrevivência da relação capitalista, não mais do lado da exploração dos homens, mas do lado da exploração do planeta, que conduz à morte global. A finança em si mesma não é a pulsão de morte do capitalismo: ela representa sua forma de sobrevivência, de resiliência, portanto, é antes sua pulsão de vida, mas essa pulsão de vida está a serviço de uma relação que enfrenta agora, ela mesma, a questão da morte global da espécie na era do antropoceno. Ela pode ser qualificada de pulsão de morte somente em segundo grau, se considerarmos que a sobrevivência do capitalismo se dá em detrimento da sobrevivência global do mundo. E, por outro lado, no plano das externalidades positivas, trata-se mais de um instrumento que pode ser domesticado a serviço da vida global do planeta (financiando a transição ecológica e a despoluição dos resíduos nucleares e do lixo industrial que nos tornamos).
IHU On-Line - Nesse cenário de financeirização, quais são os limites, desafios e possibilidades do capitalismo cognitivo?
Yann Moulier Boutang - A financeirização representa o triunfo desviado da consideração das externalidades, do invisível e do imaterial na produção pela humanidade de suas próprias condições de vida. Ela arremeda à sua revelia a força da polinização humana, única fonte verdadeira da riqueza (mas ainda não do valor), e a acuidade do risco ecológico maior no qual o húbris[5] capitalista mergulhou nosso planeta. Seus limites devem-se em larga medida ao seu poder de amplificação (que vemos nas bolhas financeiras infladas e rompidas) e de possibilidades de ganhos espetaculares, portanto, de acumulação de poder, que ela oferece à avidez, à cupidez humana quando se alia à inteligência. A financeirização é o braço armado, sinto-me tentado a dizer, da “nova grande transformação” que o capitalismo está efetuando, em detrimento do corpo do velho capitalismo industrial. Ela constitui, mais do que nunca, o cerne do capitalismo (aliás, ela sempre foi, como mostrou Braudel [6], o mercado sendo apenas uma consequência, uma fetichização quase religiosa de sua ordem, mas em um nível muito mais visível agora). Ao mesmo tempo, ela pode se tornar o melhor auxiliar para uma saída por cima, num sentido libertador, do capitalismo, o qual corresponde a um projeto historicamente datado de transformação do planeta. Ela está desgastando metodicamente um pilar, o pilar por excelência do capitalismo, a relação assalariada estável, que é também a chave do mecanismo da exploração.
A automação intelectual, com a robotização de múltiplos serviços graças à acumulação de big data[7] produzido pelos objetos conectados e às learning machines[8] , está polarizando, reduzindo drasticamente o emprego (e até mesmo as relações convergentes na Europa e nos Estados Unidos, a tal ponto que já se prevê um aniquilamento dos empregos das classes médias nas próximas décadas) e, além disso, polarizando ao extremo o emprego entre, de um lado, tarefas pouco qualificadas, automatizáveis, ou tarefas de care[9] impossíveis de automatizar, e, de outro lado, tarefas muito qualificadas, inovadoras, inteligentes e rebeldes ao learning machines por serem singulares. Foi, em suma, o que Marx descreveu no texto mítico “Fragmentos sobre as máquinas”, nos Grundisse (São Paulo: Boitempo, 2011), que constituiu a base da reflexão operaísta nos anos 1960. O capitalismo, em seu centro, está abolindo o trabalho assalariado, retornando a uma atividade mercantil precária, sem cobertura social, sem proteção e, ao mesmo tempo, explorando socialmente a atividade não mercantil de polinização da interação comunicacional, linguística, científica, cultural, e até mesmo de fabricação nas fábricas digitais, nos fab labs [10]. Com todo o potencial de revolta, de invenção de novos modos de vida e de relações produtivas alternativas. Toda essa nova transformação só será possível através de uma domesticação da finança de mercado, que representa algo totalmente diferente do que são as invocações rasas e piedosas a uma moralização do mercado, cujos limites pudemos avaliar oito anos depois da crise dos subprimes [11]. Os novos resíduos bourbonianos, para usar as palavras de Keynes [12], não são mais o lastreamento da criação de crédito no ouro, mas a limitação dos investimentos em nome de uma austeridade absurda e, afinal, criminosa.
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"A América Latina corre o risco de trocar sua antiga dependência do gigante americano por uma nova dependência da China" |
IHU On-Line - Acredita que há uma hegemonia da economia sobre a política? Por quê?
Yann Moulier Boutang - A economia, dizia Lênin [13], é o político condensado. O atual primado de uma economia sobre as decisões de política econômica e sobre a moldagem da legislação (como o eterno aumento da flexibilização do mercado de trabalho) reflete duas coisas: a) a persistência de uma ideologia muito delimitada no tempo (entre 1950 e 1980, o monetarismo em particular) que, depois de ter conquistado posições universitárias sólidas, transformou-se em ideologia gerencial mais estatal; b) a resistência feroz da parte já subalterna da classe menos produtiva do capitalismo, e certamente não aquela do capitalismo cognitivo. Este está amplamente em guerra com os velhos setores reacionários do capitalismo industrial “bleu marine” [azul marinho] (jogo de palavras, em francês, que remete ao macacão azul usado pelos operários [bleu] e ao nome de Marine Le Pen, porque, hoje, mais de um quarto dos operários da indústria votam na extrema direita) em muitas áreas, entre as quais a “uberização” [14], a “googlelização” [15] são etapas em andamento. Ao cabo dessa nova grande transformação, a economia de produção terá sido infiltrada pela economia digital. A financeirização representa a liquidação e a liquidez da velha economia. O capitalismo cognitivo ainda não dispõe de uma economia política que lhe corresponda. Chegamos apenas ao novo quadro de Quesnay [16] dessa nova álgebra do valor econômico, e aqueles que refletem sobre as formas modernas de exploração, de servidão, sobre os novos vícios, as novas amarguras dessa economia que partiu rumo à conquista do céu, estão longe de terem criado novos instrumentos de luta e domesticação do dragão digital.
IHU On-Line - Em termos gerais, é adequado analisar essa preponderância da economia sobre a política como um elemento explicativo do descrédito da política e da apatia dos eleitores?
Yann Moulier Boutang - É claro que a crise política reflete essa exasperação em relação a uma submissão beata ou muito tola das políticas às “leis da economia”, como se estas nos impusessem o famoso Tina de Margaret Thatcher (there is no alternative) [17]. Os partidos conservadores, liberais, enfrentam uma situação revolucionária da economia. Tornam-se reacionários em querer retornar à era dourada industrial (que, aliás, foi extremamente árdua para os pobres, os humilhados e os ofendidos). Os partidos de esquerda comunistas e socialistas viram sucessivamente o comunismo entrar em colapso ou acabar no pesadelo de transições desvairadas para o pior do capitalismo liberal sem a democracia. O socialismo reduziu sua ambição (do modo como ainda a formulavam Jaurès [18], Blum [19], na França, ou a grande social-democracia alemã) a uma cogestão implícita de um capitalismo neoconservador moderado por uma preocupação de redistribuição limitada às classes médias. Em ambos os casos, a mola transformadora que fora a locomotiva do progresso e do modelo europeu, apesar de sua arrogância colonialista, rompeu-se.
Uma pesquisa de opinião realizada em junho de 2015 mostra que 89% dos franceses não gostam dos partidos políticos. Os que se saem menos mal são os partidos com função “de tribuna”, como dizia Georges Lavau [20], isto é, contestadores, não gestores, como o Partido Comunista e, hoje, o Front National [21] (versão Jean-Marie Le Pen [22], o pai), seguido pelo centro e pelo Partido Verde, ambos marginais. O cenário europeu, no entanto, está mudando, com o crescimento de um populismo (desta vez, com governos como Erdogan, na Turquia, Orban, na Hungria, Marine Le Pen (filha), na França, o Skip party, no Reino Unido) que se expressa num soberanismo sem futuro, porque repousa em uma visão da economia que se mantém nacional num conjunto europeu cada vez mais federal de fato, mesmo que isso ainda não seja reconhecido. Felizmente, essa perspectiva pouco encorajadora é contrabalanceada pela saída institucional à esquerda, de Syriza [23], na Grécia, e de Podemos [24], cinco anos depois do movimento dos Indignados [25]. Haverá uma conjunção, nos próximos anos, entre essas buscas de alternativas políticas reais para enfrentar o imobilismo das velhas receitas e para a renovação profunda da economia (via revolução digital) e, por fim, em último lugar, da economia que se encontra, hoje, na posição ancilar da teologia na Idade Média e num papel extremamente conservador, para não dizer reacionário, que acabou assumindo no Renascimento.
IHU On-Line - Qual é o espaço e os limites da democracia nesse cenário?
Yann Moulier Boutang - A economia não pode mais limitar-se à economia mercantil e a um setor não mercantil público que repete todos os limites da economia mercantil. Ela tem de incluir as externalidades no cálculo econômico, isto é, aquilo que podemos usar como recursos, e em que condições. Isso, para salvar o planeta (a biosfera), que temos de transmitir aos nossos filhos e netos em um estado equivalente, no mínimo, àquele que recebemos (essa é a melhor definição do desenvolvimento sustentável). Para cumprir esse programa urgente e de uma complexidade temível, a economia deve apoiar-se na noosfera (toda a esfera da mente, da língua, da cultura) e cultivar a polinização das abelhas humanas e não os adubos químicos e os pesticidas (é fácil estabelecer uma comparação com a biosfera, os diversos psicotrópicos sendo os adubos químicos do cérebro humano, os pesticidas sendo o tratamento da loucura gerada por essa corrida em busca da produtividade, da exploração dos humanos). A revolução digital combinada com os saberes humanos, e não somente com a ciência, pode tornar-se o instrumento, o órgão de uma retomada pelas comunidades humanas de seu destino responsável. Ela pode ser não simplesmente a enésima oportunidade de “turbinar” os lucros, mas levar as sociedades complexas, históricas, globais a um aprofundamento radical da democracia. Desde que, obviamente, a horizontalidade das redes digitais não se feche em um novo poder aristocrático de especialistas, para depois se juntar ao poder oligárquico dos ricos. Desde que, também, se dote de novas instituições ou contrainstituições que redefinam a autoridade, dando-lhe um rosto humano (isso passará, certamente, por uma feminização maciça de um poder masculino demais e próximo demais dos chipanzés, em vez de prestar atenção no que acontece entre os bonobos [26]!!), limitando-a por contrapoderes, descentralizando-a.
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"A China procura seu lugar de grande potência nas relações mundiais e o encontra, em grande parte, por causa do vazio europeu e americano" |
Isso significa, por exemplo, não considerar qualquer recurso comum como sendo uma terra nullius, um domínio público do qual os interesses privados podem tirar proveito de forma inesgotável. Portanto, uma economia de partilha, um direito jurídico de sucessão sobre o status dos bens, uma preocupação com a reprodução do que é bem comum. Em suma, rever e reconstruir o interesse geral (Aristóteles), o que é o fundamento da política a partir do copyleft, de R.M. Stallman [27], das regras comunitárias de uso do meio de equilíbrio frágil, de Elinor Ostrom [28], da força produtiva das multidões (o pinguim do Linux, lembrado por Yoshai Benkler em The wealth of Networks (Londres: Yale University Press, 2007) ou por mim mesmo em L’abeille et l’économiste (Paris: Carnets Nord, 2010)).
IHU On-Line - Que novas formas políticas surgem enquanto resistência e enfrentamento? Nessa lógica, como podemos compreender manifestações como o 15-M [29], o Occupy Wall Street [30], o Podemos, o Syriza e até mesmo os protestos de julho de 2013 [31] no Brasil?
Yann Moulier Boutang - Tenho grande confiança no desenvolvimento de uma política mais sintonizada com as necessidades de nosso tempo, porque a revolução digital, ao contrário da revolução industrial, nos conduz agora àquele estágio descrito por Marx em “Fragmentos sobre as máquinas”, dos Grundisse (1857-58), que ia além, mas mantinha e destacava o Marx dos Manuscritos de 1844: o de uma fase da humanidade capaz de abolir o trabalho como maldição bíblica (segundo a interpretação agostiniana e puritana de uma consequência da saída do Paraíso) para passar à atividade coletiva como liberação do homo oeconomicus, governado apenas pelas duas libidos sentiendi e dominandi em detrimento da libido sciendi ou ludendi, bem menos funestas.
Sou otimista, porque a conjunção de um estágio de desenvolvimento econômico com a ferramenta digital, a globalização cultural e, last but not least [32], o surgimento de uma necessidade e de uma urgência de trabalhar para a salvação da tribo humana, ligada à salvação da terra em geral, que pode unir “aqueles que acreditavam no céu e os que não acreditavam”, não nos coloca na situação muito mais difícil do Renascimento colonial, em que se mantinha “sua face sombria”, como ilustrou Walter Mignolo [33], ou então naquela dos “tenants” irlandeses que lutavam contra os landlords que os expulsavam das terras e os Parliamentary enclosures [34]. Lembremo-nos do esforço dos jesuítas, quando criaram as Reduções, para salvar os ameríndios da escravidão, da servidão ao trabalho rural e, depois, industrial a que os colonos ávidos do Eldorado os destinavam. Esse esforço foi limitado pelo fato de que a economia mutualista, comunitária (a qual o movimento operário também voltou, diante da grande indústria manchesteriana), era muito menos eficaz e produtiva do que o acúmulo capitalista muito primitivo. Mas, desta vez, na era do Spätkapitalismus [35], o desenvolvimento, a produtividade e, além disso, a salvação comum do planeta estão do lado da desenclausuração, do modo e do código de produção peer to peer, seja mercantil ou não.
IHU On-Line - Até que ponto é possível haver um “outro dinheiro”? Qual deveria ser seu real papel em nossas sociedades?
Yann Moulier Boutang - A preocupação dos homens ávidos por uma sociedade de justiça e esperança, portanto, utópica, no sentido definido por Arrigo Colombo [36], em seus belíssimos livros, de que ela ainda está por ser construída, sempre foi controlar o poder considerável do dinheiro. O dinheiro manda fazer. É a própria definição do poder sobre outrem; neste sentido, ele corrompe tudo, inclusive a si mesmo. A hostilidade das igrejas cristãs, muçulmanas e budistas à taxa de juros, ao desbridamento de sua área de extensão, não se deve a um capricho infantil. Mas o dinheiro também libera da dívida, do presente sufocante, quando toma a forma do crédito. Ora, esse crédito é a essência da moeda, que possibilita que uma sociedade se apoie numa antecipação do futuro de uma construção mais sólida. É um poder tão potente que, assim como a fé partilhada por uma comunidade pode mover montanhas, ele logo conheceu a apropriação por pessoas privadas ou pelos Estados, que regulamentam o direito de conceder crédito, o índice de juros praticado (definindo o que é usurário), as obrigações das partes contratantes.
O monopólio da emissão de crédito ou do instrumento técnico de pagamento que vai traduzi-lo (a moeda metálica e, depois, fiduciária), do qual o comércio é apenas um aspecto, concentra um imenso poder. De maneira lógica, os homens, principalmente aqueles que tinham por que se queixar da distribuição das riquezas, procuraram libertar-se da coerção do poder por excelência, aquela que obriga os homens a fazerem um trabalho que gostariam de evitar, sobretudo, em detrimento de atividades que não rendem dinheiro. A organização das moedas alternativas contesta esse poder global do dinheiro, quebrando muitas vezes, de forma muito modesta, o monopólio de emissão de moeda e crédito. As diversas tentativas de moedas locais enfrentaram, em geral, uma repressão feroz das autoridades, que viam nessas tentativas um risco de contestação do Estado e da organização da sociedade e da produção determinadas sobre as quais ele se alicerçava. Mais uma vez aqui, o desenvolvimento do caráter de interdependência global da produção das condições de existência pelas sociedades, a possibilidade, graças à ferramenta digital, de organizar uma contabilidade das atividades humanas complexas, a ferramenta das comunicações em tempo real pelos telefones móveis conectados à internet mudam consideravelmente o alcance das moedas locais.
Quando o Banco Central do governo equatoriano (apesar de muito vigiado pelo FED [37] americano, uma vez que a moeda deste país é dolarizada) implementou um sistema de pagamento por telefone móvel entre os pequenos agentes econômicos, essencialmente na zona rural, sem que estes tivessem de passar pelos bancos (o governo precisou resolver problemas técnicos de segurança informática, apoiar-se numa rede de vendedores ambulantes nas cidades), ele mostrou que os bancos não são uma instituição eterna e que poderiam ter um papel consideravelmente reduzido. Em outro registro, o surgimento e o sucesso fulgurante do crowdfunding [38] e do crowdlending [39] — estes, em economias desenvolvidas — mostram que uma economia mais eficiente, menos devoradora de recursos, menos produtora de renda é possível. Em suma, que moedas locais articuladas com a economia pilotada em seu conjunto, inclusive nos agregados da liquidez ou da quase liquidez do crédito, não conduzem absolutamente ao rompimento do laço social.
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"O capitalismo cognitivo ainda não dispõe de uma economia política que lhe corresponda" |
IHU On-Line - Em que sentido é possível falarmos em outra economia num contexto marcado pela hegemonia do dinheiro e do mercado financeirizado?
Yann Moulier Boutang - Se a financeirização da economia expressa o fato de que a finança de mercado atual é o governo “par défaut” do crescimento cada vez mais efetivo e esmagador das externalidades tanto positivas como negativas, isso não quer dizer que outra economia além da mercantil e traduzida em moeda sonante não seja possível. Isso quer dizer, ao contrário, que enquanto a esfera não financeira da economia e a economia política não levarem em conta essas externalidades, na medida de seu crescimento na riqueza real e no potencial de valor, a finança será cada vez mais solicitada e terá muito com o que se ocupar.
Quando formos capazes de criar outro programa de pilotagem dessa economia global, a programação “par défaut” se imporá, com seu cortejo de defeitos evidentes. A finança, com seus vícios — que são consideráveis —, tem hoje, infelizmente, a virtude (e é a única, considerando-se a pusilanimidade dos Estados) de criar liquidez para financiar o futuro (principalmente, na área da transição energética, que é uma urgência estratégica). Somente ela tem o poder de gerar 32 bilhões de crédito disponibilizados imediatamente a partir de um pequeno bilhão de fundos próprios. Cabe aos Estados e, sobretudo, às grandes comunidades internacionais (Impérios, Organização das Nações Unidas - ONU, Fundo Monetário Internacional - FMI) agir mais, e o poder da finança (que não é somente um estado de fato, mas também, nas cabeças dos políticos, insuperável) voltará a proporções mais razoáveis e menos perigosas.
IHU On-Line - Qual é o cenário que se vislumbra para os próximos anos nas economias emergentes, como a do Brasil e de outros países da América Latina?
Yann Moulier Boutang - Não sou especialista em economia da América Latina em geral, tampouco do Brasil em particular. Então, tome a minha resposta com cuidado. Os BRICS [40], com exceção da Rússia, emperrada ainda numa descolonização que levará trinta anos para se completar, deparam-se todos com a questão do futuro da China, que é determinante para eles, tanto no sudeste asiático e na África, como na América Latina. Esses países compartilham com a China alguns dos problemas estruturais que condicionam a consolidação de sua saída do subdesenvolvimento ou, melhor dizendo, do mal desenvolvimento, sem disporem das vantagens estratégicas que a China adquiriu em trinta anos. Brasil, Índia, China e África do Sul (acrescentemos a Nigéria, o México, a Indonésia) devem simultaneamente ampliar a base de suas classes médias, portanto, ampliar a renda destas, seja aumentando os salários, seja redistribuindo pela criação de um Estado de bem-estar social efetivo, e não no papel, para terem um nível de consumo interno que torne seu PIB menos dependente das exportações de produtos de baixo ou médio custo, de recursos energéticos poluentes e, ao mesmo tempo, para continuarem a obter excedentes de sua balança de pagamentos e de sua balança comercial, investirem em equipamentos de futuro em indústrias e serviços de alta tecnologia, se não quiserem permanecer enredados na armadilha de uma perda de competitividade de suas exportações devido à má qualidade ou baixa integração de conhecimento, à concorrência de países onde os salários são ainda mais baixos, à corrupção que encarece o preço e não estimula os assalariados nem o setor público de infraestrutura a fazerem um esforço de produtividade.
Uma das soluções para esses dilemas seria a ampliação maciça da base e da solidez das classes médias, erradicando de maneira muito mais voluntarista os fatores de desigualdades, portanto, estendendo o equivalente de uma renda de cidadania ou de educação (no modelo do Bolsa Família, que teve, no Brasil, um efeito notável sobre o índice de Gini [41] em um período muito curto), dotando suas economias de um sólido Welfare state [42] (especialmente, nas áreas da educação superior, da saúde, dos equipamentos urbanos) e focando no desenvolvimento das classes criativas precárias (não a camada superior delas). Mas essa estratégia passaria por um aumento das despesas públicas que não aprofundaria necessariamente, de maneira insuportável, o endividamento se medidas drásticas de economia fossem tomadas em relação às despesas suntuosas com mínimos efeitos de mudança duradoura (como, por exemplo, os esportes e outros eventos dignos da Roma antiga com seu “pão e seus jogos”), acompanhadas também por despesas com aparato militar. Também seria preciso levar a sério a transição ecológica, apostar na construção de uma indústria verde, em vez de obstinar-se em projetos que desembocarão num prazo de dez anos em ruínas siderúrgicas ou mineiras com consequências catastróficas para o meio ambiente, em particular, no caso brasileiro, para a Amazônia e também para o Mato Grosso do Sul.
O desenvolvimentismo agrícola ou industrial pesado, que, na era digital, parece de outra era, sempre custou muito caro para o Brasil, que não soube capitalizar fases de desenvolvimento rápido, o ciclo madeireiro do pau-brasil no século XVI, o ciclo abortado do trigo paulista no século XVII, o ciclo das pedras preciosas no século XVIII, o ciclo abortado do algodão no início século XIX, o ciclo da cana de açúcar do século XVIII ao XX, o ciclo do café, o ciclo abortado da borracha do fim do século XIX à década de 1930. Os ciclos da soja transgênica, da carne de búfalo, da floresta amazônica, do petróleo do pré-sal não são uma garantia do desenvolvimento. Não criam nenhum efeito mágico. As verdadeiras questões do bem viver da maioria da população, da inclusão dos pobres, amontoados nas cidades, em condições precárias de transporte, moradia, higiene e segurança são cruciais. Em outras palavras, a questão da redução das desigualdades, as quais ainda atingem os níveis característicos dos países em desenvolvimento, como programa econômico, junta-se à questão de um desenvolvimento menos dependente das exportações, ecologicamente mais sustentável e mais apto a tornar o Brasil, e os BRICS em geral, mais armado na concorrência internacional, na economia do conhecimento.
A China e a Rússia, diferentemente do Brasil, enfrentam dificuldades muito semelhantes. Se esses dois países não têm as desvantagens de uma real democracia, que traz incerteza para os investidores e para a possibilidade de conduzir políticas de longo prazo, eles também não têm as vantagens dela, o que constitui uma séria deficiência na corrida ao capitalismo cognitivo que se inicia no mundo. A cultura digital (que nada tem a ver com uma experiência e competências em eletrônica e em informática) está estreitamente ligada à democracia. Desse ponto de vista, o Brasil pode inspirar-se mais proveitosamente em Bengalore, na Índia, do que em Shenzen, na China.
IHU On-Line - Dentro da lógica neoliberal e da financeirização, como podemos compreender acordos comerciais do tipo feito entre os governos do Brasil e China há pouco tempo?
Yann Moulier Boutang - Faz muito tempo que a China desenvolve uma estratégia, em relação ao antigo bloco, hoje bem desconjuntado, do Terceiro Mundo, tanto na África quanto na América Latina, de abastecer-se nesses países em produtos semimanufaturados, principalmente agrícolas, em energia e em recursos minerais, em troca do fornecimento de contratos turn key [43] de bens de equipamento, a exemplo do que fazia a Alemanha oriental comunista. Em outras palavras, a América Latina corre o risco de trocar sua antiga dependência do gigante americano por uma nova dependência da China. O fenômeno é ainda mais gritante na África subsaariana. Se tais projetos de equipamento em infraestrutura acompanham uma política de desenvolvimento endógeno de aumentar a qualidade da população sul-americana, por que não? No entanto, há de se temer que, limitando-se a construir autoestradas, pontes, ferrovias transamazônicas, depois de ter construído estádios para diversas copas de futebol, a América Latina inteira tenha crescimento sem desenvolvimento social e com uma fatura ecológica cara, como se tivesse o recheio, mas não o peru para rechear.
Se a China consegue incluir o Brasil em acordos comerciais importantes, isso acontece por duas razões: a) ela assume o lugar deixado vago tanto pelos Estados Unidos quanto pela Europa, que não garantiram aos argentinos nem aos brasileiros uma colocação segura na alimentação de seu gado para uma soja não transgênica; b) a China acumulou uma força financeira colossal (3.700 trilhões de dólares de reservas em divisas estrangeiras em 2015), o que lhe permite emprestar sob forma de crédito-arrendamento (créditos ligados a importações de produtos chineses industriais) aos outros BRICS. Ela conseguiu criar recentemente seu próprio FMI, sob a forma do Banco Asiático de Investimento em Infraestrutura, dotando-o de 500 bilhões de dólares e convidando os outros membros participantes a aportarem mais 500 bilhões. Esse programa deseja criar uma rota da seda do Sul, paralela àquela do Norte, que se concretizará com um trem-bala (ou TGV) de 11.000 km entre Pequim e Moscou.
A China carrega a Índia, levada a substituí-la como “fábrica do mundo”. Ela venderá, nesse tipo de imperialismo soft, sua tecnologia de construção, sua mão de obra qualificada, seus bens de equipamento, entre os quais o trem-bala, o que lhe permitirá ultrapassar o delicado patamar em que agora se encontra: dotar-se de um welfare state, acolher 400 milhões de camponeses em 200 cidades de 2 milhões de habitantes, responder aos desafios ecológicos gigantescos que o país enfrenta (seca, erosão do solo cultivável, poluição química), requalificar sua indústria para o alto padrão, investir nas indústrias de ponta para poder continuar aumentando os salários, mantendo ao mesmo tempo um excedente de sua balança comercial, mesmo que este seja reduzido. O acordo sino-brasileiro insere-se perfeitamente nesse contexto de uma estratégia chinesa, de cujas deficiências não trataremos aqui. Em compensação, podemos nos perguntar se o Brasil tem uma estratégia tão coerente e, sobretudo, compatível com seu parceiro chinês. Por certo, trata-se de um acordo apresentado como win/win (os dois lados ganham). Porém, duas questões surgem: a) os ganhos para a China são incomparáveis com os ganhos brasileiros; b) se acrescentarmos os custos sociais, ambientais e de coerência industrial no desenvolvimento, não se tem certeza de que os ganhos comerciais sejam realmente ganhos. No entanto, mais uma vez, a China procura seu lugar de grande potência nas relações mundiais e o encontra, em grande parte, por causa do vazio europeu e americano.
Por Márcia Junges e Leslie Chaves| Tradução Vanise Dresch
Notas:
[1] GAFA: sigla adotada pelos franceses para se referirem aos gigantes tecnológicos americanos: Google, Apple, Facebook e Amazon. (Nota do entrevistado)
[2] Don’t be evil de Google: (em português - "Não seja mau") é o slogan corporativo oficial da Google. Ele foi sugerido pela primeira vez pelo funcionário Paul Buchheit em uma reunião sobre os valores corporativos, em meados do ano 2000, ou, de acordo com outra fonte, por Amit Patel Google, engenheiro da empresa, em 1999. Buchheit, o criador do Gmail , disse que "queria algo que, uma vez que você colocá-lo lá, seria difícil de tirar", acrescentando que o slogan era "também um soco em um monte de outras empresas, em especial os nossos concorrentes, que na época, em nossa opinião, até certo ponto exploram os usuários." Enquanto a filosofia corporativa oficial do Google não contém a expressão "Não seja mau", ela foi incluída no prospecto de 2004 do Google IPO, uma carta dos fundadores do Google, mais tarde chamado de "'Don 't Be Evil manifesto". O lema é, por vezes incorretamente indicado como "Não faça o mal". (Nota da IHU On-Line)
[3] Trading: em inglês significa negociar. No mercado financeiro, ou de ações, diz respeito ao ato ou ao processo de venda e/ou compra de ações. (Nota da IHU On-Line)
[4] Default: é um termo bastante utilizado em computação e em vários contextos de informática. Normalmente com o significado de padrão ou de algo já previamente definido. Por exemplo, se pegarmos um texto mencionando 'valor por default' teria como significado que o valor de uma variável, ou de um dispositivo, viria previamente definido por padrão, ou mesmo estabelecido por um fabricante. Na economia, default significa o descumprimento de qualquer cláusula de um contrato que estabeleça a relação entre credor e devedor. (Nota da IHU On-Line)
[5] Húbris: ou hybris (em grego ὕϐρις, "hýbris") é um conceito grego que pode ser traduzido como "tudo que passa da medida; descomedimento" e que atualmente alude a uma confiança excessiva, um orgulho exagerado, presunção, arrogância ou insolência (originalmente contra os deuses), que com frequência termina sendo punida. (Nota da IHU On-Line)
[6] Fernand Braudel (1902-1985): historiador francês que foi um dos mais importantes representantes da chamada "escola dos Annales". A sua reputação decorre em parte dos seus escritos, mas principalmente de seu sucesso em fazer da escola dos Annales o mais importante motor da pesquisa histórica na França e em grande parte do mundo, após a década de 1950. Braudel tem sido considerado um dos maiores historiadores modernos que têm enfatizado o papel dos fatores socioeconômicos em grande escala na pesquisa e escrita da História. Ele também pode ser considerado como um dos precursores da teoria dos sistemas-mundo. (Nota da IHU On-Line)
[7] Big Data: ("megadados" em português), em tecnologia da informação, refere-se a um grande armazenamento de dados e maior velocidade. Diz-se que o Big Data se baseia em 5 "V": velocidade, volume, variedade, veracidade e valor. (Nota da IHU On-Line)
[8] Learning machines: (em português: aprendizagem automática ou aprendizado de máquina) é um subcampo da inteligência artificial dedicado ao desenvolvimento de algoritmos e técnicas que permitam ao computador “aprender”, isto é, que permitam-no aperfeiçoar seu desempenho em alguma tarefa. (Nota da IHU On-Line)
[9] Care: em português, cuidado, cuidar, preocupação. (Nota da IHU On-Line)
[10] Fab lab: (do inglês fabrication laboratory, em português, Laboratório de fabricação) é um pequena oficina oferecendo fabricação digital (pessoal). Um fab lab é geralmente equipado com um conjunto de ferramentas flexíveis controladas por computador que cobrem diversas escalas de tamanho e diversos materiais diferentes, com o objetivo de fazer "quase tudo". Isso inclui produtos tecnológicos geralmente vistos como limitados apenas para produção em massa. (Nota da IHU On-Line)
[11] Crise do subprime: crise financeira desencadeada a partir de 2006, em decorrência da quebra de instituições de crédito dos Estados Unidos. (Nota da IHU On-Line)
[12] John Maynard Keynes (1883-1946): economista e financista britânico. Sua Teoria geral do emprego, do juro e do dinheiro (1936) é uma das obras mais importantes da economia. Esse livro transformou a teoria e a política econômicas, e ainda hoje serve de base à política econômica da maioria dos países não comunistas. Confira o Cadernos IHU ideias n. 37, As concepções teórico-analíticas e as proposições de política econômica de Keynes, de Fernando Ferrari Filho, disponível em http://bit.ly/ihuid37. Leia, também, a edição 276 da revista IHU On-Line, de 06-10-2008, intitulada A crise financeira internacional. O retorno de Keynes, disponível para download em http://bit.ly/ihuon276. (Nota da IHU On-Line)
[13] Lênin [Vladímir Ilyitch Lenin (ou Lénine)] (1870-1924): originariamente chamado de Vladímir Ilyitch Uliânov. Revolucionário russo, responsável em grande parte pela execução da Revolução Russa de 1917, líder do Partido Comunista e primeiro presidente do Conselho dos Comissários do Povo da União Soviética. Influenciou teoricamente os partidos comunistas de todo o mundo. Suas contribuições resultaram na criação de uma corrente teórica denominada leninismo. (Nota da IHU On-Line)
[14] Uberização: termo derivado da expressão Uber, que é o nome de uma empresa norte-americana de serviço de transporte que os consumidores acionam através de um aplicativo de smartfone. Nesse sentido, uberização significa o oferecimento de serviços ou de produtos através do acionamento de plataformas disponíveis em telefones celulares. Esse tipo de modalidade de negociação pode ser incluída na categoria dos serviços “on demand” (oferecidos de acordo com a demanda). (Nota do IHU On-Line)
[15] Googlelização: vinculação, subordinação e presença cada vez mais intensa dos serviços oferecidos pela Google nos diversos setores da vida em sociedade; desde a relação digital, que diz respeito ao ambiente da web, como o posicionamento neste espaço e o acesso à privacidade dos usuários; até os aspectos que se relacionam à produção de sentidos simbólicos, que pode ser condicionada pelas regras estabelecidas por tais dispositivos tecnológicos, como a escolha de termos que direcionam a busca dos materiais na rede. (Nota da IHU On-Line)
[16] François Quesnay (1694-1774): médico da corte do rei francês Luís XV (1710-1774). Sua obra principal, Quadro Econômico, foi publicada em 1758. Baseado em números e dados, Quesnay demonstra a relação entre diferentes classes e setores econômicos, e o fluxo de pagamentos entre eles. Quesnay foi o precursor em alguns campos, como por exemplo a formulação de princípios de filosofia social utilitarista — obter máxima satisfação com o mínimo esforço. Quesnay abordou os interesses das classes num ambiente competitivo, o que seria mais tarde desenvolvido como a teoria do capital — os empresários agrícolas só podem iniciar seu trabalho devidamente equipados, ou seja, se dispuserem de um capital no sentido de riqueza acumulada antes de iniciar a produção, mas não analisou a formação do capital e o comportamento do capital monetário e do capital real. (Nota do IHU On-Line)
[17] TINA (There Is No Alternative) de Margaret Thatcher: TINA é o acrônimo do inglês para There Is No Alternative (em português, 'Não há alternativa'), também referido como argumento TINA ou princípio TINA, é um slogan político cuja criação é atribuída a Margaret Thatcher, quando esta era primeira-ministra do Reino Unido. Significa que não há alternativa às leis do mercado, ao capitalismo, ao neoliberalismo e à globalização, os quais, afinal, seriam não só necessários mas benéficos. Da mesma forma, não existiria alternativa ao próprio thatcherismo; logo, não haveria por que consultar os cidadãos. De fato, Thatcher pouco se utilizou desssa expressão em suas manifestações oficiais. No entanto, a frase — especialmente na forma de acrônimo — permaneceu, principalmente em conexão com a crítica da globalização e da privatização. (Nota da IHU On-Line)
[18] Jean Léon Jaurès (1859-1914): foi um político socialista francês, que embora reconhecesse a Luta de Classes, propunha uma revolução social democrática e não violenta. (Nota da IHU On-Line)
[19] Léon Blum (1872-1950): foi um líder político socialista francês. Ocupou o cargo de primeiro-ministro da França, foi dirigente da Secção Francesa da Internacional Operária (SFIO, partido socialista), e presidente do Conselho de Ministros francês por três vezes. Marcou a história política francesa por ter recusado a adesão a III Internacional comunista em 1920 e por ter presidido o governo da Frente Popular em 1936. Em virtude de compromissos internacionais, recusou ajudar os combatentes republicanos espanhóis durante a Guerra Civil da Espanha. As reformas levadas a cabo no seu governo marcaram socialmente a Europa, nomeadamente a atribuição do direito a férias pagas, a inclusão das primeiras mulheres no exercício de funções governamentais, fixação da jornada de trabalho, etc. Foi o primeiro judeu e o primeiro socialista na França a ocupar o cargo de primeiro-ministro. (Nota da IHU On-Line)
[20] Georges Lavau (1918-1990): advogado francês, professor da Universidade de Grenoble (1948-1962), do Instituto de Estudos Políticos de Paris (1988-1990) e diretor da revista Revisão Francesa de Ciência Política (RFSP) (1973-1990). É conhecido por seus muitos estudos de organizações políticas e do trabalho e, especialmente, sobre o Partido Comunista Francês. (Nota da IHU On-Line)
[21] Front National: (em francês, Frente Nacional): é um partido político francês de extrema-direita e de caráter protecionista, conservador e nacionalista. Foi fundado em 1972 com o intuito de unificar as várias correntes nacionalistas da época. Jean-Marie Le Pen foi o primeiro líder do partido e sua figura central até sua renúncia em 2011. A atual líder da FN é Marine Le Pen, sua filha. (Nota da IHU On-Line)
[22] Jean-Marie Le Pen (1928): é um político francês. Presidiu, até janeiro de 2011, a Frente Nacional, partido nacionalista francês e o mais à direita no espectro político da França. Foi substituído na liderança do partido por sua filha, Marine Le Pen, candidata do partido à Presidência do país em 2012. (Nota da IHU On-Line)
[23] Syriza: (em português, Coligação da Esquerda Radical; em grego, Συνασπισμός Ριζοσπαστικής Αριστεράς, Synaspismós Rizospastikís Aristerás, abreviado Syriza) é um partido político de esquerda da Grécia, surgindo num momento de reestruturação da esquerda no mundo. Foi fundado em 2004 como uma aliança eleitoral de 13 partidos e organizações de esquerda, tendo como componente principal o partido Synaspismós (em português, Coligação de Movimentos de Esquerda e Ecológicos- SYN; em grego Συνασπισμός της Αριστεράς των Κινημάτων και της Οικολογίας, Synaspismos tis Aristerás tu Kinīmátōn kai tis Oikologías). Em maio de 2012, o Syriza apresentou-se como um único partido. Vitorioso na eleição de janeiro de 2015, o líder do Syriza, Alexis Tsipras, foi empossado como primeiro-ministro para dirigir o novo governo da Grécia, viabilizando um governo de coalizão com o partido nacionalista conservador, Gregos Independentes. (Nota da IHU On-Line)
[24] Podemos: partido político espanhol que foi fundado em 2014, fortemente influenciado pelas ideias do movimento 15M. Um de seus principais representantes é Pablo Iglesias Turrión. Surge num momento de reestruturação da esquerda no mundo. Atualmente, é o favorito para eleição presidencial na Espanha. (Nota da IHU On-Line)
[25] Indignados: um dos nomes dados às manifestações de 2011 na Espanha, também chamadas de Movimento 15 de Maio (por terem se iniciado no dia 15-05-2011). São uma série de protestos espontâneos de cidadãos, inicialmente organizados pelas redes sociais e pela plataforma civil e digital ¡Democracia Real Ya! ("Democracia Real Já!"). (Nota da IHU On-Line)
[26] Bonobo: é um tipo de chimpanzé (nome científico: Pan paniscus), também chamado chimpanzé-pigmeu e, menos frequentemente, chimpanzé-anão ou grácil. É uma das duas espécies compreendidas pelo gênero Pan. A outra espécie do gênero é Pan troglodytes, o chimpanzé-comum. Ambas as espécies são chimpanzés, embora esse termo seja usado principalmente para a maior das duas espécies, o P. troglodytes. (Nota da IHU On-Line)
[27] Richard Matthew Stallman (1953): também conhecido por suas iniciais, ‘rms’, é um ativista do software livre e programador de computador. Ele faz campanhas pela distribuição de softwares os quais os usuários tenham a liberdade de usar, estudar, redistribuir e modificá-los. O Software que garante essas liberdades (como a concessão dos direitos na obtenção do software) é chamado software livre. Stallman é mais conhecido por lançar o Projeto GNU, fundar a Free Software Foundation, desenvolver a GNU Compiler Collection e a GNU Emacs e escrever o GNU General Public License. (Nota da IHU On-Line)
[28] Elinor Ostrom (1933-2012): foi uma politóloga e economista política norte-americana. Recebeu o Prêmio de Ciências Econômicas em Memória de Alfred Nobel de 2009, juntamente com Oliver Williamson, pela análise da governança econômica, especialmente dos bens comuns. Foi a primeira mulher a receber este prêmio. Formada em ciência política pela Universidade da Califórnia em Los Angeles, desenvolveu uma linha de pesquisa sobre os bens comuns, influenciada pela nova economia institucional. Seu trabalho descreve a formação de uma relação sustentável entre o homem e os ecossistemas, através de arranjos institucionais que se desenvolveram ao longo de milhares de anos. (Nota da IHU On-Line)
[29] Movimento 15-M: também conhecido como Movimento dos Indignados, é um movimento social que surgiu na Espanha. Tem raízes nas manifestações do dia 15 de maio de 2011, que tinham como objetivo promover uma democracia mais participativa, criticando o domínio dos bancos e corporações. (Nota da IHU On-Line)
[30] Occupy Wall Street (Ocupe Wall Street): é um movimento de protesto contra a desigualdade econômica e social, a ganância, a corrupção e a indevida influência das empresas — sobretudo do setor financeiro — no governo dos Estados Unidos. Iniciado em 17 de setembro de 2011, no Zuccotti Park, no distrito financeiro de Manhattan, na cidade de Nova York, o movimento ainda continua, denunciando a impunidade dos responsáveis e beneficiários da crise financeira mundial. Posteriormente surgiram outros movimentos Occupy por todo o mundo. As manifestações foram a princípio convocadas pela revista canadense Adbusters, inspirando-se nos movimentos árabes pela democracia, especialmente nos protestos na Praça Tahrir, no Cairo, que resultaram na Revolução Egípcia de 2011. (Nota da IHU On-Line)
[31] Jornadas de Junho: os protestos no Brasil em 2013 foram várias manifestações populares por todo o país que inicialmente surgiram para contestar os aumentos nas tarifas de transporte público,principalmente nas principais capitais. Em seu ápice, milhões de brasileiros estavam nas ruas protestando não apenas pela redução das tarifas e contra a violência policial, mas também por uma grande variedade de temas como os gastos públicos em grandes eventos esportivos internacionais, a má qualidade dos serviços públicos e a indignação com a corrupção política em geral. Os protestos geraram grande repercussão nacional e internacional. A edição 191 do Cadernos IHU ideias, #Vemprárua. Outono Brasileiro?, traz uma série de entrevistas sobre o tema, disponível em http://bit.ly/1Fr6RZj. (Nota da IHU On-Line)
[32] Last but not least: em portugês: o último, mas nem por isso o menos importante. (Nota da IHU On-Line)
[33] Walter Mignolo: semiótico e professor argentino da Universidade de Duke. (Nota da IHU On-Line)
[34] Parliamentary enclosures: (em portugês, Parlamento do cerco) era o órgão que executava o processo legal na Inglaterra, durante o século XVIII, de englobar uma série de pequenas propriedades para criar uma fazenda maior. De acordo com essa lei, uma vez cercada, a terra tornava-se de uso restrito ao proprietário, deixando de ser um território de uso comum. O processo de cerco tornou-se uma característica generalizada da paisagem agrícola inglesa durante o século XVI. Por volta do século XIX, as terras não fechadas haviam se tornado, em grande parte, restritas a pastagens ásperas em áreas montanhosas e a localidades relativamente pequenas das terras baixas. (Nota da IHU On-Line)
[35] Spätkapitalismus: (em portugês, Capitalismo tardio) é um conceito usado pelos neomarxistas para se referir ao capitalismo posterior a 1945, estágio que inclui a chamada "era de ouro do capitalismo" (de 1945 ao início da década de 1970). No entanto, há alguma controvérsia quanto à adequação do termo. O crítico e teórico da cultura norte-americana, Fredric Jameson, considera mais prudente a expressão "desenvolvimento recente do capitalismo" ou "capitalismo recente", usada por Hilferding por soar menos profética do que "capitalismo tardio". Derrida prefere usar o termo "neocapitalismo" em lugar de "pós-capitalismo" ou capitalismo tardio. (Nota da IHU On-Line)
[36] Arrigo Colombo: é filósofo e leciona na Universidade di Lecce, na Itália. Em 1982, fundou com um grupo de alunos o Centro interdipartimentale di ricerca sull’utopia, um grupo de pesquisa que, em quinze anos, inovou radicalmente o sentido da utopia como “projeto da humanidade para sua libertação” e “processo de construção de uma sociedade de justiça”, levando também a uma nova compreensão altamente positiva da história humana. (Nota da IHU On-Line)
[37] Federal Reserve Bank (FED): Banco Central dos Estados Unidos da América, composto por 12 bancos regionais e 24 filiais. É responsável pelas decisões de política econômica e monetária (fixação das taxas de juros) nos EUA, sendo, a partir da atuação do FED, que sobem ou descem as taxas de juros no mercado americano, cuja tendência afeta outros países. (Nota da IHU On-Line)
[38] Crowdfunding:(em português, financiamento coletivo) consiste na obtenção de capital para iniciativas de interesse coletivo através da agregação de múltiplas fontes de financiamento, em geral pessoas físicas interessadas na iniciativa. O termo é muitas vezes usado para descrever especificamente ações na Internet com o objetivo de arrecadar dinheiro para artistas, jornalismo cidadão, pequenos negócios e start-ups, campanhas políticas, iniciativas de software livre, filantropia e ajuda a regiões atingidas por desastres, entre outros. (Nota da IHU On-Line)
[39] Crowdlending: (em português, empréstimo coletivo) consiste no empréstimo de pequenas quantidades de dinheiro a uma empresa ou a um projeto em troca de um retorno financeiro estipulado em um contrato entre as partes. As vantagens para as empresas e projetos são conseguir o financiamento que os bancos não concedem e a diversificação de fontes de crédito. Para os pequenos investidores as vantagens são uma maior rentabilidade, a transparência sobre o uso que está sendo feito de seu dinheiro e a possibilidade de gerar um impacto positivo com essa modalidade de empréstimo. (Nota da IHU On-Line)
[40] BRICS: em economia, Brics é um acrônimo que se refere aos países membros fundadores de um grupo político de cooperação: Brasil, Rússia, Índia, China e à África do Sul. Os membros estão todos em um estágio similar de mercado emergente, devido ao seu desenvolvimento econômico. Apesar de o grupo ainda não ser um bloco econômico ou uma associação de comércio formal, como no caso da União Europeia, existem fortes indicadores de que os cinco países têm procurado formar uma aliança, e assim converter seu crescente poder econômico em uma maior influência geopolítica. Desde 2009, os líderes do grupo realizam cúpulas anuais. (Nota da IHU On-Line)
[41] Coeficiente de Gini: é uma medida de desigualdade desenvolvida pelo estatístico italiano Corrado Gini, e publicada no documento "Variabilità e mutabilità" ("Variabilidade e mutabilidade"), em 1912. É comumente utilizada para calcular a desigualdade de distribuição de renda mas pode ser usada para qualquer distribuição. Ele consiste em um número entre 0 e 1, onde 0 corresponde à completa igualdade de renda (português brasileiro) ou rendimento (português europeu) (onde todos têm a mesma renda) e 1 corresponde à completa desigualdade, onde uma pessoa tem toda a renda (português brasileiro) ou rendimento (português europeu) , e as demais nada têm. O índice de Gini é o coeficiente expresso em pontos percentuais (é igual ao coeficiente multiplicado por 100). (Nota da IHU On-Line)
[42] Welfare State: expressão em inglês que significa “estado de bem-estar” e abrange as noções de Estado de bem-estar social e de políticas públicas, ou seja, o conjunto de benefícios socioeconômicos que um governo proporciona aos seus súditos. (Nota da IHU On-Line)
[43] Turn Key: (em português, vire a chave) refere-se a algo que está pronto para uso imediato, termo geralmente utilizado na venda ou fornecimento de bens ou serviços. O termo turn key originalmente era utilizado no setor imobiliário, para descrever uma casa pronta para morar, completa em estrutura decoração e mobiliário. Da mesma forma, este termo pode ser usado por um fornecedor de empresa para empresa, oferecendo pacotes completos de soluções e serviços. Também se aplica a empresas que oferecem soluções para um projeto em todas as etapas — consultoria, projeto, infraestrutura, implantação, treinamento, operação, manutenção e reformas utilizando uma única empresa, e dando fim às reclamações e confusões causadas por diversos prestadores em uma só obra. O cliente contrata os serviços de uma empresa que oferece soluções Turn Key, e recebe o projeto após a sua conclusão, pronto e operacional. (Nota da IHU On-Line)
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A financeirização e as mutações do capitalismo. Entrevista especial com Yann Boutang - Instituto Humanitas Unisinos - IHU