03 Fevereiro 2025
Dé, Adrianim e Martins são inseparáveis, todos moradores na Chatuba, na periferia do Rio. Quando a avó de um deles é diagnosticada na fase final do Alzheimer, eles se unem para acompanhar o amigo nos últimos dias com a avó.
O comentário é de Alysson Oliveira, jornalista e crítico de cinema, publicado por CineWeb, 17-01-2025.
Primeiro cineasta negro a vencer o prêmio de direção no Festival do Rio, Luciano Vidigal faz em Kasa Branca um filme guiado pela sinceridade. Também autor do roteiro, ele parte de um episódio real que aconteceu com um amigo, e cria histórias que emergem de personagens pautados por uma honestidade pulsante, transformando-os em figuras marcadas pela sua humanidade. Moradores de Chatuba, na periferia do Rio de Janeiro, Dé (Big Jaum), Adrianim (Diego Francisco) e Martins (Ramon Francisco) são amigos inseparáveis, que se mantêm ainda mais próximos quando a avó do primeiro, Almerinda (Teca Pereira), alcança os últimos estágios do Alzheimer.
A partir dessas pessoas, Vidigal, que estreia na direção solo de longas, faz a crônica de uma morte anunciada com um olhar carinhoso, que acompanha de perto seus personagens e suas transformações emocionais nesses dias. Retrato de uma amizade saudável e marcada pelo companheirismo, o longa investe num humor delicado para retratar o processo de amadurecimento desses três jovens nesses dias em que a dor da perda se aproxima cada vez mais.
Ator experiente, formado pela Nós do Morro, Vidigal, que atuou em filmes como Tropa de Elite e Cidade dos homens, deixa que o trio central, em especial, brilhe em cena em personagens muito bem construídos e com características marcantes. Diego Francisco foi premiado como ator coadjuvante no Festival do Rio, mas o prêmio merecia ir para os três, que estão igualmente marcantes em cena. Big Jaum, conhecido como comediante, encontra aqui um personagem que é quase o oposto de si, introspectivo, tímido, mas também observador e carinhoso com a avó e os amigos.
Combinando esses jovens atores estreantes com outros mais experientes, como a própria Teca Pereira, Roberta Rodrigues e Babu Santana, Kasa Branca encontra seu delicado equilíbrio no retrato das pessoas em seus cotidianos marcados pela luta e o humor.
A fotografia de Arthur Sherman, igualmente premiada no evento carioca, encontra um ambiente solar sem parecer um Rio de Janeiro para turistas. Toda a direção de arte (assinada por Alexandre Magalhães e Rafael Cabeça), aliás, corrobora com essa intenção de fazer um retrato de moradores de uma comunidade de forma honesta, desviando de clichês visuais, narrativos ou dramáticos, e o resultado é um belo filme sobre as dores do crescimento.
Passando por temas como racismo e amadurecimento pessoal, Kasa Branca destaca, no trio de personagens, a força do coletivo. São meninos que se complementam e levantam uns aos outros nos momentos de dificuldade. A perda inevitável é mais um momento dessa travessia – o mais difícil de todos, mas que, como sempre, enfrentarão juntos.
Nome: Kasa branca
Nome original: Kasa branca
Ano: 2024
País: Brasil
Gênero: Comédia, Drama
Duração: 95 minutos
Classificação: 16 anos
Cor da filmagem: Colorido
Direção: Luciano Vidigal
Elenco: Big Jaum, Teca Pereira, Diego Francisco