Conjuntura e revolução. Artigo de Giorgio Agamben

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17 Janeiro 2025

A política não está inscrita nas esferas celestes nem nas leis da economia: está em nossas frágeis mãos e na clareza com que desmentimos qualquer pretensão de aprisioná-las em conjunturas e revoluções.

O artigo é de Giorgio Agamben, filósofo italiano, publicado por Quolibet, 15-01-2025.

Eis o artigo.

É um fato sobre o qual não se deve cansar de refletir o fato de que um dos termos-chave do nosso vocabulário político – revolução – foi retirado da astronomia, onde designa o movimento de um planeta que percorre sua órbita. Mas também outro termo, que, na tendência geral de substituir categorias econômicas por categorias políticas, que caracteriza o nosso tempo, tomou o lugar da revolução, vem do vocabulário astronômico. Refiro-me ao termo "conjuntura", sobre o qual chamou a atenção em um estudo exemplar Davide Stimilli.

Esse termo, que designa "a fase do ciclo econômico que a atividade econômica atravessa em um determinado período de curta duração", é, na verdade, uma modificação do termo "conjunção", que significa o coincidir da posição de vários astros em um determinado momento.

Stimilli cita o trecho do ensaio de Warburg sobre A adivinhação antiga pagã em textos e imagens da era de Lutero, no qual conjunção e revolução são associadas: "Somente dentro de longos períodos de tempo, chamados revoluções, poderiam ocorrer tais conjunções. Em um sistema cuidadosamente elaborado, distinguem-se grandes e máximas conjunções; estas últimas eram as mais perigosas, devido ao encontro dos planetas superiores Saturno, Júpiter e Marte. Quanto mais conjunções coincidiam, mais aterrador parecia o fato, embora o planeta com caráter mais favorável pudesse influenciar o mais negativo." E é significativo que justamente um revolucionário como Auguste Blanqui, decepcionado em suas expectativas, tenha podido conceber, no final de sua vida, a história dos homens como algo que, como o movimento dos astros, se repete infinitamente e recita eternamente as mesmas representações.

O que está acontecendo hoje diante de nossos olhos é precisamente um fenômeno desse tipo, no qual uma conjuntura econômica, por sua natureza contingente e arbitrária, tenta impor seu domínio aterrador sobre toda a vida social. Será melhor, então, abandonar sem reservas a conexão entre política e estrelas e cortar em todos os âmbitos o vínculo que pretende unir destino astronômico e revolução, necessidade e conjuntura econômica, ciências da natureza e política. A política não está inscrita nas esferas celestes nem nas leis da economia: está em nossas frágeis mãos e na clareza com que desmentimos qualquer pretensão de aprisioná-las em conjunturas e revoluções.

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