16 Janeiro 2025
O Sínodo dos Bispos da Igreja Católica de rito oriental reúne os 54 bispos católicos das 35 dioceses da Índia.
A reportagem foi publicada por 7Margens, 14-01-2025.
O Sínodo dos bispos da Igreja Católica de rito oriental (siro-malabar) reuniu na última semana na Índia e não se pode dizer que não tenha sido “animado”. Um dos principais motivos continua a ser a resistência de um numeroso grupo de padres à tentativa da hierarquia católica que, desde 1971, procura implementar um “rito unificado” da Eucaristia. Todas as 35 dioceses aderiram à decisão sinodal, menos a de Ernakulam-Angamaly, que é, por sinal, a de maior número de católicos.
O conflito, que se arrasta há algum tempo, conheceu já fases agudas e uma delas foi durante este Sínodo, quando mais de duas dezenas de padres ocuparam, na quinta feira, dia 9, as instalações do arcebispado onde a reunião sinodal decorria, depois de ali terem entrado à força. No sábado, último dia do Sínodo, a tensão subiu de tom, levando os responsáveis eclesiásticos a solicitar a intervenção da polícia para desalojar os manifestantes.
No exterior, os protestos contaram com a ajuda de outros presbíteros, os quais todos juntos organizaram uma manifestação por várias ruas junto à sede do arcebispado. A consequência foi a decisão da hierarquia da arquidiocese de suspender seis padres, tidos por líderes, do exercício de funções e emitir avisos que foram dirigidos a mais 15.
Entretanto, soube-se durante o Sínodo que o Papa aceitou o pedido de renúncia do administrador apostólico de Ernakulam-Angamaly, Bosco Puthur, por ele designado há pouco mais de um ano, invocando “razões de saúde”. O metropolita local designou para esta arquieparquia (equivalente a arquidiocese) o arcebispo Joseph Pamplany, que já exerce como arcebispo de Tellicherry, sendo igualmente secretário do Sínodo e membro do seu Conselho Permanente. A escolha foi, de imediato, aceite em Roma pelo Papa.
Recorde-se que, no terreno, se encontra também o arcebispo eslovaco Dom Cyril Vasil que tem desempenhado e continuará a desempenhar a tarefa de delegado pontifício para a arquidiocese de Ernakulam-Angamaly. O que mostra que nem o delegado pontifício nem o vigário apostólico, enviados de Roma, conseguiram encontrar vias de diálogo e, menos ainda, persuadir os padres locais a aderir ao “rito unificado” da celebração eucarística.
Do Sínodo saiu a orientação de manter intransigência face aos padres (e leigos) contestatários relativamente ao “rito unificado”, mas, ao mesmo tempo, procurar “aliviar as tensões”. Nessa linha, acredita-se que o perfil aberto, reconhecido em todos os setores, do novo vigário episcopal poderá abrir perspetivas de maior diálogo.
Para já, será exigido que em cada unidade paroquial seja garantida pelo menos uma eucaristia dominical segundo o “rito unificado”, uma medida que será “implementada com rigor”.
No Sínodo, que reúne os 54 bispos católicos das 35 dioceses da Índia, foi escutado com atenção o recém-cardeal George Koovakkad, que apelou a que se curem as feridas que têm abalado a Igreja siro-malabar, procurando “a unidade na caridade”, como deseja o Papa Francisco. A Igreja, sublinhou, “não pode avançar sem estar pronta para ouvir a voz dos que não têm voz, sem avançar para abraçar os marginalizados e sem reconhecer as vozes dos isolados”.
Importa ter em consideração que o Sínodo a que aqui se faz referência é uma instituição própria – e histórica – de governo desta Igreja e não tem necessariamente a ver com o caminho da sinodalidade proposto pelo Papa Francisco.