24 Junho 2024
"Só nos primeiros seis meses deste ano, segundo levantamento da Eunanews, da Bahia, 82 pastores, sim pastores, foram presos por estupro ou assédio sexual no Brasil, usando as mais diferentes artimanhas para se achegar a mulheres, mas pior, abusando de crianças e adolescentes. A bancada evangélica na Câmara, aquela que se opõe de unhas e dentes contra a educação sexual nas escolas, cala-se diante dessa barbárie de representantes de igrejas", escreve Edelberto Behs, jornalista.
Embora complexo, difícil e espinhoso, as igrejas evangélicas em especial, em resposta à bancada evangélica, precisam se manifestar sobre o PL 1904/2024, alcunhada de “PL do Estuprador”, que altera a legislação e imputa como crime passível de homicídio à mulher ou menina que busca a interrupção da gravidez depois da 22ª semana de gestação, mesmo que seja resultado de estupro. No caso, quem aborta está sujeita a uma pena de 20 anos; já o estuprador tem pena máxima de 10 anos!
O autor do PL 1904, o deputado e pastor da Igreja Evangélica Assembleia de Deus, Sóstenes Cavalcante, do PL do Rio de Janeiro, argumentou em debate para o Estúdio I da Globo News que se trata de uma “medida socioeducativa” e que um aborto sempre gera traumas. Uma menina sofrer estupro, parece que no entendimento desse deputado, não é nada traumático. O pastor Sóstenes, lembrou o repórter Carlos Wagner, é conhecido na Câmara como “poste” do pastor Silas Malafaia, expressão que significa que a pessoa é manipulada por outra.
Para lembrar, a lei atual permite o aborto em casos de risco de vida para a mãe, estupro e anencefalia, sem estabelecer prazos.
O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, aprovou em 23 segundos, na quarta-feira, 12 de junho, o regime de urgência ao PL 1904, assinado também por outros 32 parlamentares, a maioria do PL. Os projetos com urgência podem ser votados diretamente no Plenário, sem passar pelas comissões da Câmara.
Mas o tiro saiu pela culatra. Mulheres em várias cidades do Brasil saíram às ruas em protesto, lembrando que “Criança não é mãe”. Em redes sociais surgiu a hashtag que pede a CPI das igrejas evangélicas. Lira transferiu o debate para o segundo semestre.
Quais igrejas? Se ficarem em silêncio, que mulheres, corajosamente, quebraram, igrejas evangélicas sérias, históricas, de missão, quem têm seu fundamento ancorado no Evangelho, na Reforma protestante, correm o risco de serem consideradas “farinha do mesmo saco”, tipo desses pastores como Sóstenes Cavalcante, que querem impor um castigo maior a quem foi estuprada ao que cabe ao estuprador.
Só nos primeiros seis meses deste ano, segundo levantamento da Eunanews, da Bahia, 82 pastores, sim pastores, foram presos por estupro ou assédio sexual no Brasil, usando as mais diferentes artimanhas para se achegar a mulheres, mas pior, abusando de crianças e adolescentes. A bancada evangélica na Câmara, aquela que se opõe de unhas e dentes contra a educação sexual nas escolas, cala-se diante dessa barbárie de representantes de igrejas.
Os números são frios, não mostram rostos, mas mostram o tamanho da malvadeza: no ano passado, o Brasil registrou 74.930 estupros, dos quais 56.820 praticados contra vulneráveis, ou seja, a menores de idade. No mesmo período, houve um total de 2.687 casos de aborto legal, segundo o Ministério da Saúde. Desse total, 140 foram de meninas até 14 anos de idade (!!!) e 291 de meninas de 15 a 19 anos.
Mais cruel é o projeto de lei apresentado à Câmara de Porto Alegre pela vereadora e jornalista Fernanda Barth (PL), pela vereadora tenente-coronel da Brigada Militar e professora Nádia Rodrigues Silveira Gerhard (PL) e pelo cristão luterano vereador Ramiro Stallbaum Rosario (Novo), que querem obrigar vítimas de estupro a ouvirem batimentos cardíacos do feto antes da realização do abortamento legal.
Qual seria a posição de Jesus diante do PL 1904? Será que ele perguntaria para uma mulher ou criança estuprada, grávida, o que perguntou à mulher pega em adultério? - Onde estão os que estavam te condenando? (Evangelho de João 8, 3-11).
Igrejas, saiam da posição confortável e venham a público dizer alguma palavra, que pode significar muito para quem sofreu um estupro, para mães de meninas que estão grávidas. Para o perdão ou para a condenação.
A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) já se pronunciou: a favor da aprovação do PL 1904!
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Igrejas precisam se manifestar sobre “PL do Estuprador”. Artigo de Edelberto Behs - Instituto Humanitas Unisinos - IHU