21 Fevereiro 2024
"Em 2018, Navalny chamou Vladimir Putin de verdadeiro inimigo do mundo russo, bem como o verdadeiro responsável por sua redução, culpando o regime de Moscou por ter transformado a Ucrânia em um país antirrusso, além de ter causado a divisão entre a Igreja Ortodoxa Russa e a ucraniana, quebrando a unidade do mundo ortodoxo", escreve Giovanni Chiacchio, em artigo publicado por Settimana News, 17-02-2024.
Russo de ascendência ucraniana, Alexei Navalny nasceu em Butyn, na região de Moscou, em 1976. Depois de uma carreira bem-sucedida como advogado, em 2000, ele entra na política pelo partido Yabloko, sendo eleito para o conselho regional da região de Moscou. Ao longo dos anos, ele ascende na hierarquia do partido e se torna vice-líder da seção moscovita.
No meio dos anos 2000, Navalny começa a administrar um blog pessoal, criticando duramente a liderança do partido Yabloko, o que leva à sua expulsão em 2007. No mesmo período, ele se alinha ao campo nacionalista, participando da "marcha russa" de 2006, que reuniu vários grupos ultranacionalistas e expressou forte oposição à imigração.
Navalny se tornará um forte defensor da política externa de Putin, apoiando a intervenção militar na Geórgia em 2008, bem como a integração econômica entre Rússia, Ucrânia e Belarus. No entanto, é em 2008 que ele começa sua longa luta contra o regime de Vladimir Putin. Naquele mesmo ano, ele adquire ações em cinco grandes empresas de energia russas, usando sua posição de acionista para investigar as práticas obscuras de corrupção perpetradas dentro delas.
Dois anos depois, em 2010, ele publica uma série de documentos que demonstram o roubo de 4 bilhões de dólares pelos líderes da empresa Transneft no contexto da construção do oleoduto Esco. Em dezembro do mesmo ano, ele lança o projeto Rospil, dedicado à luta contra práticas de desvio de fundos em contratos públicos.
Sua fama como um personagem antiestablishment e anticorrupção se solidifica em 2011, quando publica documentos relacionados a um escândalo no setor imobiliário. Especificamente, um prédio em Moscou usado como embaixada da Hungria foi vendido a uma empresa offshore de propriedade do oligarca Viktor Vekselberg por 21 milhões de dólares, mas este último imediatamente o revendeu ao governo russo por 116 milhões.
No fim de 2011, Navalny lança a Fundação Anti-Corrupção, que inicia investigações importantes contra numerosos personagens proeminentes da elite política russa.
Em uma entrevista de rádio no mesmo ano, ele acusa o Rússia Unida, partido do presidente Putin, de ser uma formação composta por "ladrões e corruptos". A virada definitiva ocorre em 2013, quando ele se candidata a prefeito de Moscou. Sua campanha eleitoral, apesar de receber pouquíssima cobertura televisiva, consegue atrair numerosos apoiadores e uma quantidade substancial de doações individuais, a mais alta já registrada na Rússia.
As eleições terminam com a vitória do prefeito em exercício Sobyanin, apoiado pelo partido de Putin, Rússia Unida, mas Navalny consegue um surpreendente 27%, principalmente graças ao voto das classes mais abastadas. Diante da crescente popularidade de Navalny, várias investigações são iniciadas contra ele. Colocado em prisão domiciliar em 2014 e condenado a 3 anos de prisão suspensa por lavagem de dinheiro e desvio de fundos no caso Yves Rocher, decisão fortemente contestada pelo Tribunal Europeu dos Direitos Humanos, que considerou a sentença arbitrária.
A partir de 2014, Navalny, apesar de afirmar que a Península da Crimeia não poderia ser tratada como um sanduíche, sendo devolvida ao proprietário anterior, começou a criticar cada vez mais a política externa do presidente russo. Navalny também se desculpou pelo apoio anteriormente expresso à intervenção russa na Geórgia.
Em 2018, Navalny chamou Vladimir Putin de verdadeiro inimigo do "mundo russo", bem como o verdadeiro responsável por sua redução, culpando o regime de Moscou por ter transformado a Ucrânia em um país antirrusso, além de ter causado a divisão entre a Igreja Ortodoxa Russa e a ucraniana, quebrando a unidade do mundo ortodoxo. Ao mesmo tempo, em 2017, sua Fundação contra a Corrupção conduziu uma investigação que revelou numerosos escândalos de corrupção ligados ao primeiro-ministro Medvedev.
Um personagem agora incômodo, Navalny foi alvo de várias tentativas de envenenamento e preso várias vezes. Em 2018, foi-lhe proibido de concorrer à presidência e, no ano seguinte, sua Fundação foi rotulada como "agente estrangeiro" pelas autoridades russas, sendo dissolvida por estas em 2021.
No mesmo ano, a Fundação contra a Corrupção lançou um documentário intitulado O Maior Suborno de Todos os Tempos. O vídeo, que rapidamente obteve dezenas de milhões de visualizações, mostrou a existência de um suntuoso palácio no valor de mais de um bilhão de dólares construído por meio de uma complexa manobra financeira por vários oligarcas ligados ao presidente russo e destinado ao seu uso pessoal.
Também em 2021, após retornar da Alemanha, onde havia recebido tratamento médico, Navalny foi finalmente preso sob a acusação de desvio de fundos. Sua prisão desencadeou protestos em massa no país, seguidos por uma resolução do Tribunal Europeu dos Direitos Humanos exigindo sua libertação imediata. As investigações conduzidas por ele e seu aprisionamento pelo regime de Moscou lhe renderam o Prêmio Sakharov.
Em fevereiro de 2022, Navalny manifestou sua oposição à invasão russa da Ucrânia, comparando a decisão de reconhecer as repúblicas populares de Donetsk e Luhansk à intervenção soviética no Afeganistão em 1979, descrevendo-a como uma tentativa de desviar a atenção da população dos problemas internos.
Navalny também criticou a mídia russa, acusando-a de esconder os crimes de guerra do Kremlin, e pediu ao público que protestasse pelo fim do conflito. Em julho de 2022, foi oficialmente anunciado o relançamento da Fundação Anti-Corrupção como uma organização internacional com um conselho composto pelo ex-primeiro-ministro belga Guy Verhofstadt e pelo cientista político Francis Fukuyama. A nova Fundação Anti-Corrupção busca ser uma rede de opositores visando desabilitar os intentos belicosos do regime, particularmente seus esforços para lançar uma mobilização em massa.
O ano de 2023 testemunhou a conclusão da metamorfose política de Navalny, que apresentou um plano de paz em 15 pontos baseado no reconhecimento das fronteiras de 1991, a criação de um mecanismo de compensação pelos danos infligidos à Ucrânia e a formação de uma verdadeira democracia parlamentar na Rússia capaz de colaborar efetivamente com a Europa.
A divulgação de tal manifesto representou uma das mais significativas manifestações de oposição ao regime de Putin em mais de duas décadas, bem como um sinal forte para os poucos técnicos independentes no governo russo, que expressaram privadamente opiniões contrárias ao conflito.
Em 16 de fevereiro de 2024, a polícia penitenciária russa emitiu um comunicado anunciando a morte de Navalny após um mal-estar não especificado. Vários meios de comunicação russos afirmaram que o dissidente morreu devido a uma trombose, uma hipótese que, no entanto, entra em conflito com as declarações da mãe e do advogado, que afirmaram que Navalny não havia manifestado nenhum mal-estar nos dias anteriores.
A notícia de sua morte, ocorrida em uma colônia penal em uma área remota da Sibéria, provocou duras protestos internacionalmente.
O presidente ucraniano Volodymyr Zelensky chamou Putin de "mal absoluto", enquanto o presidente americano Joe Biden, que já havia avisado o líder russo de "graves consequências" em caso de morte de Navalny, acusou o inquilino do Kremlin de ser responsável pela morte de Navalny, aproveitando a oportunidade para pedir ao Congresso que liberasse a ajuda militar para a Ucrânia "esta tragédia nos lembra do que está em jogo, neste momento, permita-nos fornecer fundos para a Ucrânia se defender".
As condenações internacionais ao regime de Vladimir Putin dificilmente terão consequências efetivas sobre sua natureza, assim como a morte de Navalny dificilmente causará grandes distúrbios sociais na Rússia. No entanto, a longo prazo, essa escolha pode se mostrar prejudicial para o regime de Moscou. A morte de Navalny forneceu aos democratas e ao presidente Joe Biden um capital político significativo para desbloquear o impasse atual no Congresso americano, onde o presidente republicano da Câmara tem até agora impedido uma votação sobre o amplo pacote de ajuda militar para Kiev.
Ao mesmo tempo, as forças de oposição ao regime russo agora têm um mártir e uma figura inspiradora por trás da qual se unir. Uma figura que, antes de morrer, deixou um projeto político claro, o de uma Rússia democrática, dentro das fronteiras de 1991.
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O último opositor. Artigo de Giovanni Chiacchio - Instituto Humanitas Unisinos - IHU