30 Novembro 2023
"A fragilidade pode representar uma alavanca; o sofrimento pode ser uma força; e nas estações monótonas da nossa jornada se esconde o fogo", escreve José Tolentino Mendonça, cardeal português e prefeito do Dicastério para a Cultura e a Educação, em artigo publicado por Avvenire, 28-11-2023. A tradução é de Luisa Rabolini.
O coração nos ajuda a ver o que os nossos olhos sozinhos não conseguem ver. Permite-nos passar de uma observação rápida e superficial da vida para aquela forma de atenção que já é em si uma prática de hospitalidade e de respeito, pois possibilita uma ética da relação. O coração estimula-nos a transcender as visões simplistas e fragmentárias e prepara-nos para gerir a complexidade e a integralidade, que não devemos temer, mas também aprender a abraçar progressivamente. Exorta-nos a abandonar a rigidez que unicamente define e julga, mas não reconstrói; que cataloga apressadamente com um rótulo, em vez de escutar em profundidade; que declara alguém incurável e perdido, enquanto o chamado que nos é enviado por Deus é para buscar e para salvar. O coração nos inicia à sabedoria de levar em conta que a fragilidade pode representar uma alavanca; que o sofrimento pode ser uma força; e que nas estações monótonas da nossa jornada se esconde o fogo.
Assim chegaremos a contemplar pacientemente o visível e o invisível como uma só coisa, a sonoridade da palavra que ouvimos e a música do silêncio que nos vem visitar, o que ainda nos parece vazio e o que acreditamos já ser a certeza indiscutível de uma presença que nos acompanha e nos sustenta. O coração ensina o olhar a se maravilhar com o espetáculo desmedido da vida – que é sempre possível e novo.
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O coração ajuda a ver. Artigo de José Tolentino Mendonça - Instituto Humanitas Unisinos - IHU