Morre Gianni Vattimo, o filósofo do pensamento fraco

Gianni Vattimo (Fonte: Flickr)

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20 Setembro 2023

Vattimo estava hospitalizado em Turim desde 15 de agosto passado. Além do seu notável trabalho como escritor e professor, foi deputado do Parlamento Europeu e participou ativamente da política do seu país e do movimento LGBT+.

A reportagem é publicada por Página/12, 20-09-2023. A tradução é do Cepat.

Nesta quarta-feira, 20 de setembro, morreu em Turim filósofo italiano Gianni Vattimo, de acordo com o jornal La Repubblica. O renomado escritor e pensador, de 87 anos, estava hospitalizado desde 15 de agosto em Rivoli, nos arredores da capital piemontesa.

Vattimo, nascido em Turim no dia 04-01-1936, foi um influente pensador, político e professor cujo trabalho é conhecido internacionalmente por ter desenvolvido o conceito de pensamento fraco, uma crítica à metafísica tradicional. Foi discípulo de Hans-Georg Gadamer e, em 1964, começou a lecionar Estética na Faculdade de Filosofia e Letras, de Turim, da qual foi seu decano.

O filósofo do pensamento fraco

“Fortemente influenciado por Nietzsche, Heidegger e Gadamer, ele reinterpretou o pós-modernismo como uma libertação da metafísica totalizadora”, escreveu em seu obituário o jornal La Reppublica. Juntamente com Pier Aldo Rovatti, em 1983 Vattimo apresentou El pensamiento débil (Madri, Catedra, 1995).

Esse conceito é explorado mais a fundo em Más allá de la interpretación (1995), onde Vattimo se centra no papel da interpretação na filosofia contemporânea. Contudo, não negligenciou questões como a religião e a fé, como está demonstrado em Crer que se crê: é possível ser cristão apesar da Igreja? (Vozes, 2018), onde propõe um “cristianismo fraco” para a era pós-moderna.

Além da sua notável carreira acadêmica, o autor de O fim da modernidade: niilismo e hermenêutica na cultura pós-moderna (Martins Fontes, 1996) e A sociedade transparente (Lisboa, Relógio D’Água, 1992), foi membro do Parlamento Europeu e participou ativamente da política italiana e europeia. Na sua função de divulgador da filosofia, participou de programas de televisão da RAI (canal estatal italiano) e foi colunista dos jornais La Stampa e La Repubblica e da revista L'Espresso.

Vattimo também teve papel de destaque na promoção dos direitos das pessoas LGBTQ+, definindo-se como “homossexual e cristão”. “Se sempre procurei não identificar totalmente o meu trabalho com a minha condição homossexual, é porque quero ser um filósofo, um escritor de ideias, um político”, disse em entrevista ao suplemento Soy.

Em julho de 2014, Vattimo provocou um escândalo pelas suas duras críticas a Israel devido ao seu papel no conflito militar com a Palestina. Em entrevista concedida à Rádio 24 de Milão, o filósofo garantiu que “Israel é um Estado nazista e fascista, pior que Hitler”, e acrescentou: “A imprensa internacional e italiana choram porque dizem que houve uma chuva de mísseis sobre Israel. Mas o Hamas: quantas mortes causou? Nenhuma. Os pobres não têm armas, são miseráveis e mantidos em escravidão como toda a Palestina. E os seus mísseis são como brinquedos”.

Seus últimos dias

No serviço de nefrologia de Rivoli, onde estava internado há algumas semanas, seus amigos de longa data, os poucos parentes que restavam, as enfermeiras e seu assistente e companheiro Simone Caminada se revezavam para visitá-lo. Nos últimos dias, Vattimo já não reconhecia quem vinha visitá-lo e muitas vezes ficava dormindo. Seu coração parou nesta quarta-feira quando chamou uma enfermeira para passar a noite ao seu lado.

Recentemente a imprensa italiana destacou que Vattimo estava sendo “explorado” por Caminada, seu companheiro de 38 anos. Vattimo, que usava cadeira de rodas, estava envolvido em um processo judicial e ainda assim não se considerava vítima. O Tribunal de Justiça de Turim condenou o jovem ítalo-brasileiro a dois anos de prisão por supostamente enganar o seu companheiro e “induzir” Vattimo a se casar com ele, com o objetivo de ficar com a sua herança.

O filósofo compareceu a quase todas as audiências do julgamento, embora o seu estado de saúde se tivesse deteriorado consideravelmente. O jornal El País lembrou que numa das audiências, quando perguntado pelo procurador, definiu-se como “uma pessoa que sempre procurou ajudar e fazer com que as pessoas que o rodeavam se sentissem bem”.

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