Líder quilombola é assassinada na Bahia: “Estou com o corpo de minha avó aqui no sofá, ela foi executada”

Maria Bernadete Pacífico | Foto: Conaq

Mais Lidos

  • A ideologia da Vergonha e o clero do Brasil. Artigo de William Castilho Pereira

    LER MAIS
  • Juventude é atraída simbolicamente para a extrema-direita, afirma a cientista política

    Socialização política das juventudes é marcada mais por identidades e afetos do que por práticas deliberativas e cívicas. Entrevista especial com Patrícia Rocha

    LER MAIS
  • Que COP30 foi essa? Entre as mudanças climáticas e a gestão da barbárie. Artigo de Sérgio Barcellos e Gladson Fonseca

    LER MAIS

Revista ihu on-line

O veneno automático e infinito do ódio e suas atualizações no século XXI

Edição: 557

Leia mais

Um caleidoscópio chamado Rio Grande do Sul

Edição: 556

Leia mais

Entre códigos e consciência: desafios da IA

Edição: 555

Leia mais

18 Agosto 2023

Yalorixá Bernadete perdeu o filho, Binho do Quilombo, também assassinado por disputa fundiária, em 2017

A reportagem é de Igor Carvalho, publicada por Brasil de Fato, 18-08-2023. 

Liderança do Quilombo Pitanga dos Palmares, em Simões Filho, região Metropolitana de Salvador, a Yalorixá Maria Bernadete Pacífico foi executada na noite da última quinta-feira (18), dentro de um terreiro no município.

A informação foi passada ao Brasil de Fato por lideranças da Coordenação Nacional de Articulação de Quilombos (Conaq) e da Coalizão Negra por Direitos. Um áudio, do neto de Bernadete, cuja veracidade foi confirmada por lideranças quilombolas, confirma o assassinato.

“Gente, sou eu… estou com o notebook, eles levaram o meu celular e de minha avó. Foi verdade, infelizmente, estou com o corpo de minha avó aqui no sofá, minha avó foi executada”, afirmou o neto de Bernadete, que terá a identidade ocultada, para que sua integridade física seja preservada.

“Quem puder dar um apoio, ficar aqui, venha, por favor. Minha avó está aqui no sofá executada... Neste momento eu só pensei na vida da minha irmã e do primo dela, que são crianças, liguem para a polícia”, pediu o neto de Bernadete.

De acordo com os primeiros relatos, divulgados pelo perfil de Bernadete nas redes sociais, a quilombola estava sentada em um sofá, dentro do terreiro, quando quatro homens armados entraram e começaram a disparar. Ela morreu no local. O motivo seria disputa fundiária que envolvia o Quilombo Pitanga dos Palmares.

Nas redes sociais, Silvio Almeida, Ministro dos Direitos Humanos, confirmou o assassinato e afirmou que uma equipe da pasta será enviada até Simões Filho “imediatamente” para acompanhar o caso.

Jerônimo Rodrigues (PT), governador da Bahia, também lamentou o assassinato. “Recebi com pesar e indignação a notícia do falecimento de Mãe Bernadete, uma amiga e grande liderança quilombola da Bahia. Determinei que as Polícias Militar e Civil desloquem-se de imediato ao local e que sejam firmes na investigação.”

Há dois meses Bernadete alertou que ela e outras lideranças do Quilombo Pitanga dos Palmares sofriam ameaças de morte, que viriam de grupos ligados à especulação imobiliária em Salvador, segundo a líder quilombola.

Lideranças quilombolas afirmam que o governo da Bahia não ofereceu proteção aos moradores do quilombo e as ameaças não foram alvo de investigação dos órgãos públicos baianos.

Em 2017, Flavio Gabriel Pacífico dos Santos, mais conhecido como Binho do Quilombo, filho de Bernadete, foi executado com dez tiros, em frente à Escola Centro Comunitário Nova Esperança, em Pitanga dos Palmares, a duas quadras da casa de sua mãe.

Aos 36 anos, Binho deixou três filhos. Um deles, viu a avó ser executada nesta noite. O assassinato do filho de Bernardete segue impune e os culpados não foram identificados pela polícia baiana.

“Será sempre lembrada”

Em nota a Conaq lamentou a execução de Bernadete. “Sua dedicação incansável à preservação da cultura, da espiritualidade e da história de seu povo será sempre lembrada por nós... Sua ausência será profundamente sentida. Seu espírito inspirador, sua história de vida, suas palavras de guia continuarão a orientar-nos e às gerações futuras.”

Educadora, especialista em agroecologia pela Universidade de São Paulo (USP) e ativista, Bernadete é Yalorixá do Terreiro Ilê Axé Odé Omí Ewa, na cidade de Ilhéus, na Bahia. Em 2022, chegou a ser cogitada para disputar o governo baiano pelo PSOL, partido que é vice-presidenta no estado.

Leia mais