07 Agosto 2023
A reportagem é de Jose Lorenzo, publicada por Religión Didital, 07-08-2023.
Com mais de um milhão e meio de jovens peregrinos vindos de 150 países para um país com dez milhões de habitantes e que nunca se tinha visto na posição de organizar um evento destas características (não podemos esquecer que Lisboa tem meio milhão de habitantes e os vizinhos que poderiam optar por sair da cidade nestes dias), é claro que, por um motivo ou outro além do meramente religioso, o maior encontro católico do mundo não passou despercebido. Nem para a classe política.
António Costa despede-se do Papa no final da JMJ em Lisboa (Foto: Reprodução do Twitter de António Costa)
"Da adesão do ateu Partido Comunista de Portugal ao distanciamento do Chega católico". É assim que o Diário de Notícias destaca esta manhã, sem o Papa na sua terra, a análise do impacto da sua permanência na classe política, para além da adesão total do presidente Marcelo Rebelo de Sousa, conservador e católico praticante, que é visto em todos os momentos maravilhado com a presença do Papa argentino, ou mesmo do próprio primeiro-ministro, o socialista António Costa, que o chamava de "Santo Padre".
"Foi um momento vivido com muita alegria e entusiasmo. As palavras de @Pontifex transcendem em muito o universo dos crentes e as mensagens que ele nos transmitiu neste dia foram marcantes", disse o próprio Costa em sua conta oficial no Twitter.
Temos boas razões para estarmos satisfeitos e orgulhosos com a forma como decorreu esta Jornada Mundial da Juventude. #Portugal mostrou que tem capacidade para organizar bem estes grandes acontecimentos. #JMJ2023 #Lisboa2023 #JMJ pic.twitter.com/QQnjNnSh5H
— António Costa (@antoniocostapm) August 6, 2023
Foi um momento vivido com muita alegria e entusiasmo. As palavras do @Pontifex_pt transcendem em muito o universo dos crentes e as mensagens que nos transmitiu nesta Jornada foram marcantes. pic.twitter.com/1pa4WiyURw
— António Costa (@antoniocostapm) August 6, 2023
Como refere o jornal português, "a viagem do Papa Francisco a Portugal foi vista pelos protagonistas políticos das mais variadas formas, num leque de reações que foram de absoluta comunhão (mesmo entre notórios ateus, como António Costa), para silenciar (Iniciativa Liberal, Livre, Bloco de Esquerda, PAN), terminando numa desistência ostensiva" do Chega [Basta].
"Neste plano, o da desistência, o caso mais notório foi representado pela figura de André Ventura. Apesar de mostrar permanentemente o seu catolicismo convicto, tendo já se feito fotografar várias vezes a rezar em igrejas, o presidente do Chega para os quais Francisco é um inimigo a ser cortado: evangélicos e católicos ultraconservadores".
Uma mensagem poderosa e revigorante. Que os políticos não esqueçam as palavras do Papa Francisco sobre a vida, a paz e a transparência, agora que termina esta incrível JMJ em Portugal! pic.twitter.com/cIIRX7liCV
— André Ventura (@AndreCVentura) August 6, 2023
Em uma entrevista DN/TSF em novembro de 2021, ele dificilmente poderia ter sido mais claro: "Acho que este Papa prestou um péssimo serviço ao cristianismo. Acho que ele mostrou à esquerda revolucionária quase tão heroica quanto a esquerda marxista europeia, como normalidade. Este Papa tem contribuído para destruir os alicerces do que é a Igreja Católica na Europa e penso que em breve todos vamos pagar um pouco por isso”, afirmou o líder do Chega em entrevista em novembro de 2021.
"Não é de estranhar, portanto", continua o Diário de Noticias, "que Ventura não tenha estado em nenhum ato com o Papa, preferindo ir à Madeira fazer campanha". No entanto, o jornal português também registra a viragem oportunista do político face às imagens produzidas pela presença massiva do Papa em Lisboa quando lançou ontem um tuíte onde, “comovido pelo estrondoso sucesso de apoio popular que esta incrível JMJ em Portugal', reconheceu que o mesmo Papa que, na sua opinião, está a 'destruir os alicerces do que é a Igreja Católica na Europa', afinal, é o portador em Lisboa de uma 'mensagem poderosa e revigorante'".
E se o Chega se afastou na presença do Papa e da organização da JMJ em Portugal, estes acontecimentos, “pelo contrário, mobilizaram o apoio do mais ateu dos partidos parlamentares, o marxista-leninista PCP”, sublinha o Diário de Notícias.
"O fato mais surpreendente desta adesão, de fato destacada publicamente pelo Presidente da República, foi uma nota publicada no Twitter pela JCP, a organização juvenil comunista, que afirmava: 'A JMJ, como um momento de grande dimensão juvenil, representa um potencial espaço de partilha, reflexão e convergência em defesa de valores como a paz, a fraternidade, o combate à pobreza, à precariedade e às desigualdades, a que o JCP atribui cada vez mais importância'”.
A JMJ, enquanto momento de grande dimensão juvenil representa um potencial espaço de partilha, reflexão e convergência em defesa de valores como a paz, a fraternidade, o combate à pobreza, precariedade e às desigualdades, a que a JCP atribui uma importância redobrada. pic.twitter.com/JGZ0d79xtI
— Juventude Comunista Portuguesa (@jcp_pt) August 2, 2023
Mas não só isso. O próprio PCP destacou no seu site a presença do seu secretário-geral, Paulo Raimundo, no encontro que o Papa teve com as autoridades autoridades nacionais após a recepção oficial, sendo que em Raimundo o discurso de Francisco pareceu "com sentido", onde "condena “as “dificuldades e precariedades que muitos jovens enfrentam” e uma série de “preocupações” que são “muito relevantes”.
Por seu turno, o vereador comunista na Câmara Municipal de Lisboa, João Ferreira, destacou a "acolhida da cidade de Lisboa aos muitos milhares de jovens” que assistiram à JMJ, referindo ainda que o Papa ofereceu “palavras com significado que sublinhamos e valorizamos".
“No topo da hierarquia do Estado, a consonância com o Papa era absoluta”, destaca ainda o prestigiado jornal português. “Como era de esperar, o presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, dedicou-se a tempo inteiro à visita papal, desde a chegada de Francisco (quarta-feira de manhã) até a sua partida (ontem à tarde), exatamente o mesmo, talvez com menos intensidade mas, como Marcelo, sem perder nenhum dos momentos lotados".
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"Milagre" de Francisco em Portugal: "converte" os comunistas e (só um pouco) os ultracatólicos - Instituto Humanitas Unisinos - IHU