03 Mai 2023
Não importa o que fizeram com você. O que importa é o que você faz com aquilo que fizeram com você.
O comentário é do cardeal italiano Gianfranco Ravasi, ex-prefeito do Pontifício Conselho para a Cultura, em artigo publicado por Il Sole 24 Ore, 30-04-2023. A tradução é de Luisa Rabolini.
Arauto do existencialismo, Jean-Paul Sartre, falecido aos 75 anos em 1980, foi uma presença cultural sem paralelo no século XX, também porque abarcou um leque impressionante de temas e de gêneros: era filósofo, romancista, dramaturgo, crítico literário, polemista. Ele era tão autônomo e poderoso que podia se permitir, como se sabe, em 1964, recusar o Prêmio Nobel de Literatura. Ele, no entanto, continua a ser uma pedra angular do debate cultural, razão pela qual por vezes é significativo haurir à sua imensa produção, como fizemos com a citação proposta.
De fato, nós viemos à luz com uma bagagem de esplendores e de misérias, de grandeza e pobreza, de sementes de virtude e de vícios. É a partir daí que começa a maravilhosa e laboriosa experiência da vida. Deus, para os crentes, a natureza para os outros, colocou nas nossas mãos uma realidade que pode ser um tesouro ou um explosivo: é a liberdade com o seu corolário que é a responsabilidade. Deveríamos então, em qualquer etapa da nossa existência, questionar-nos justamente sobre “o que fizemos com aquilo que fizeram conosco”. Na maioria das vezes, porém, a superficialidade nos convida a evitar essa verificação. É assim que deslizamos imperceptivelmente para o vazio da inércia indiferente ou para o abismo do mal.
