09 Março 2023
"Em cada tempestade da vida, esperamos que o Senhor venha e nos salve. Nesta admirável expectativa, podemos sempre redescobrir, e de uma nova forma, a razão da esperança que está em nós", escreve Filomena Fabri, teóloga italiana, especialista em Teologia Bíblica pela Pontifícia Universidade Gregoriana, de Roma. A tradução é de Janaildes Maria dos Santos.
Naquele dia, ao cair da tarde, Jesus disse aos discípulos: “Passemos à outra margem!” E, despedindo a multidão, levaram-no consigo no barco, assim como estava. Outros barcos o acompanhavam. Surgiu, então, uma tempestade bem forte, que lançava as ondas dentro do barco, que se enchia de água. Jesus estava na parte de trás, dormindo sobre o travesseiro. Os discípulos o acordaram e disseram-lhe: “Mestre, não te importa que pereçamos?” E ele, despertando, repreendeu o vento e disse ao mar: “Silêncio! Cala-te!” O vento parou, e fez-se grande calmaria. Então Jesus lhes disse: “Por que sois tão medrosos? Ainda não tendes fé?” E, tomados de grande temor, diziam uns para os outros: “Quem é este, que até o vento e o mar lhe obedecem?” – (Mc 4, 35-41)
Depois das parábolas, Jesus toma a iniciativa de permanecer indiferente aos seus discípulos. Uma vez no barco para a travessia, uma tempestade repentina se aproxima. A tempestade é violenta e os discípulos entram em desespero. O que fazer? Jesus dorme! Os momentos de grande turbulência sacodem e despertam almas, reacendem aquelas luzes às vezes adormecidas de atenção ao outro e chamam à esperança: "Mestre, não te importa que estejamos perdidos?"
Em cada tempestade da vida, esperamos que o Senhor venha e nos salve. Nesta admirável expectativa, podemos sempre redescobrir, e de uma nova forma, a razão da esperança que está em nós (1 Pd 3,15), para viver na "sagrada tensão" entre memoria crucis e spes ressurrectionis! Lembra-nos que o Senhor não salva do sofrimento, mas no sofrimento; protege não da dor, mas na dor; não nos defende da morte, mas na morte.
Jesus intervém na fonte dos medos que nos habitam e vem salvar-nos com as coisas pequenas e pobres, na simplicidade das coisas mais essenciais da vida. Vem como um rebento hoje que somos chamados a viver este tempo de Quaresma de uma forma completamente diferente e especial. Este momento é tão especial pelos beijos e abraços que não podemos dar fisicamente, mas temos a oportunidade de intensificar o nosso olhar e falar com os olhos do coração. Temos a oportunidade de ver uma nova luz em cada condição em que somos chamados a viver, mesmo em meio à emergência do coronavírus. Faz-nos lembrar a poeta Emily Dickinson: "A esperança é um ser emplumado que pousa na alma, canta melodias sem palavras e nunca acaba".
A esperança é uma pequena chama que nos enriquece de luz. Ela não faz barulho porque está no pequeno zumbido incessante de quem confia em Deus, nos outros e em si mesmo. Esperança, prova de fé, coragem sem fim na face visível e histórica da minha fé em Deus, nenhum vírus poderá apagar o fogo do amor que habita no meu coração, porque em Deus já venci cada medo e posso enfrentar a todos os vírus da terra. A esperança me leva mais longe e me faz cantar com o salmista: "Bendito seja Deus, que não rejeitou a minha oração e não negou a sua misericórdia" (Sl 66,20).
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Jesus acalma a tempestade do coração - Instituto Humanitas Unisinos - IHU