24 Janeiro 2023
"Nada se compara aos “gastos” de vidas que Bolsonaro cometeu em quatro anos, além das mortes registradas por covid no Brasil por atraso na compra de vacinas", escreve Edelberto Behs, jornalista.
Muito pior que as revelações dos gastos no cartão corporativo e que define os quatro anos do capitão “do meu exército” foi a publicização das fotos mostrando o quadro de desamparo, doenças, desnutrição, falta de assistência médica que se abateu sobre o povo Yanomami nos quatro anos do governo passado.
A visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e ministros a Roraima, no dia 21, desnudou um governo genocida. Imagens de crianças e idosos famélicos, doentes, magérrimos, chocaram o mundo. Yanomamis vinham denunciando a situação ao governo federal, que se fez de ouvidos moucos.
Na gestão Bolsonaro, lideranças indígenas da Hutukara Associação Yanomami, foram até Brasília expor a situação e pedir a retirada dos garimpeiros. Estima-se que na Terra Indígena Yanomami (TI) atuem 20 mil garimpeiros, removendo a terra, as florestas em busca de ouro, escorrendo mercúrio em rios, contaminando-os.
Nos quatro anos de governo Bolsonaro morreram 570 crianças por desnutrição – dez porcento da população infantil da Terra Indígena Yanomami em Roraima, segundo estimativa do Ministério da Saúde. Em dezembro, invasores queimaram o posto médico na região de Homoxi, colocando em risco a vida de 700 indígenas.
Fica a impressão, e o Ministério Público Federal (MPF) deverá se pronunciar a respeito depois de uma ampla investigação, que Bolsonaro pretendia o extermínio dos Yanomamis, pois assim suas terras ficariam disponíveis para a atuação desenfreada de garimpeiros e demais invasores das suas áreas de convivência.
A atuação de garimpeiros traz enormes prejuízos à população, pois contaminam rios com mercúrio, peixes, a água usada pelos indígenas, além de espalharem doenças como a malária e covid. A situação dos Yanomami “requer ação urgente para evitar mais mortes, principalmente das crianças”, afirmou a líder da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), Joenia Wapichana.
Invasores ameaçavam equipes de saúde que tiveram dificuldade de visitar áreas mais remotas da TI. “Era difícil calcular esse número com um governo que não tinha a menor intenção em fazer esse acompanhamento e publicar esses dados. Foi um apagão de números”, disse para a Deutsche Welle a pesquisadora Priscilla Oliveira, da Survival International.
Priscilla frisou que a atual crise na TI Yanomami vai além da falta de Unidades Básicas de Saúde nas comunidades, de medicamentos e equipes médicas. “É uma consequência da presença massiva dos garimpeiros ilegais”, disse. Garimpeiros que tiveram o apoio do capitão!
O Exército também se negou a fornecer apoio de transporte aéreo para comitiva de parlamentares que queriam se encontrava em Roraima e pretendia visitar, em 12 de maio passado, a aldeia de Aracaçá, só acessível de avião ou helicóptero. O argumento foi falta de aeronave. Agora dá para entender o motivo.
“Manter o apagão de dados”. Alguns dados do cartão corporativo divulgados até agora mostram gastos exagerados em padarias, restaurantes, ou ilícitos realizados por filhos do capitão, despesas da Michelle. São recursos públicos. Mas nada se compara aos “gastos” de vidas que Bolsonaro cometeu em quatro anos, além das mortes registradas por covid no Brasil por atraso na compra de vacinas.
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Yanomamis em pele e ossos chocam o mundo. Artigo de Edelberto Behs - Instituto Humanitas Unisinos - IHU