08 Dezembro 2022
É difícil, ao examinarmos o filme da nossa história pessoal, isolar um fio coerente, até porque o fato de se adequar e de mudar de ideia costuma ser muito mais vantajoso para o sucesso.
O comentário é do cardeal italiano Gianfranco Ravasi, em artigo publicado em Il Sole 24 Ore, 04-12-2022. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
“Nos homens, só existe verdadeiramente uma única coerência: a de suas contradições.”
Durante sua vida, viu todos seus escritos serem rejeitados pelos editores, escritos que, postumamente, tiveram grande sucesso, até mesmo nos Estados Unidos. Estamos falando de Guido Morselli, que encerrou sua existência esquiva e reservada com o suicídio em 1973, com pouco mais de 60 anos.
Porém, seus romances são sempre emocionantes, também pela originalidade das tramas e dos temas. A frase que recortamos de um de seus ensaios é semelhante a uma flecha que atinge o alvo da consciência, fazendo-a sangrar. Sim, porque o fato de se contradizer e de contradizer é muitas vezes um exercício que alimenta os nossos pensamentos e as nossas ações.
É difícil, ao examinarmos o filme da nossa história pessoal, isolar um fio coerente, até porque o fato de se adequar e de mudar de ideia costuma ser muito mais vantajoso para o sucesso. É claro, seria preciso viver sempre como se pensa, mas muitas vezes acaba-se pensando como se viveu.
A incoerência se instala como uma lei que nos absolve do remorso por qualquer traição aos próprios valores e ideais. Se é verdade que mudar de opinião pode ser necessária quando se está em um abismo de maldade ou de irracionalidade – e esse ato se chama “conversão” – é igualmente verdade que é indigno ser um catavento que se adapta a toda brisa.
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#coerência. Artigo de Gianfranco Ravasi - Instituto Humanitas Unisinos - IHU