Cardinalato, tempos difíceis. O “caso Becciu”

Giovanni Angelo Becciu (Foto: Photo Claude TRUONG-NGOC)

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29 Novembro 2022

A estranha história do cardeal Becciu, que chegou a gravar, sem o conhecimento do papa, um telefonema para "comprometê-lo", e aquela de um cardeal francês que admitiu ter cometido, quando jovem padre, violência sexual contra uma adolescente, tornam mais uma vez atual uma pergunta viva logo após o Concílio, e depois quase esquecida: qual é o colégio que deve eleger o Bispo de Roma?

O comentário é de Luigi Sandri, publicado por L'Adige, 28-11-2022. A tradução é de Luisa Rabolini.

E quem o escolhe? Nos primeiros séculos na cidade foram todos os fiéis, depois os responsáveis pelas principais paróquias, depois algumas famílias nobres que pretendiam representar toda a comunidade, que assumiram essa tarefa; depois, no final do primeiro milênio, começaram as pesadas interferências dos imperadores alemães. Em tal contexto, a partir de 1059, com Nicolau II, essa responsabilidade foi confiada aos “cardeais”, todos nomeados pelo papa, que podiam ser bispos, ou mesmo padres ou simples diáconos.

Durante cinco séculos, seu número variou de uma dúzia a cerca de quarenta; Sisto V em 1586 aumentou seu número para setenta; João XXIII em 1958 ultrapassou aquele limite e, depois, ainda mais, Paulo VI, que estabeleceu o número máximo de cardeais votantes em 120 e excluiu do conclave os maiores de 80 anos.

Até o Vaticano II (1962-1965), ninguém havia questionado o direito do papa de escolher quem elegeria seu sucessor; mas depois do Concílio, o arcebispo de Bruxelas, cardeal Leo Suenens propôs que, junto com os cardeais, entrassem no conclave também os presidentes das Conferências Episcopais, eleitos por seus coirmãos; Paulo VI, no entanto, rejeitou a hipótese, assim como os papas sucessivos.

No entanto, há alguns anos, outra hipótese mais ousada foi levantada: admitir também mulheres no conclave: uma proposta que até agora foi deixada de lado. No entanto, a instituição de cardeais mulheres não violaria nenhum dogma, porque o cardinalato não é de instituição divina. Mas a "outra metade da Igreja" - a espinha dorsal para a educação da fé nas famílias, nas escolas e na catequese - não tem nenhuma voz no conclave. A afirmação conciliar de que "a Igreja é o povo de Deus" permanece irrealizada na eleição do Bispo de Roma.

Os papas recentes elevaram ao cago de cardeal pessoas dignas, ainda que, a julgar retrospectivamente, nem sempre tenham avaliado bem: Jean-Pierre Ricard, arcebispo de Bordeaux, nascido em 1944, nomeado cardeal por Bento XVI em 2006, um mês atrás admitiu ter abusado de uma garota de 14 anos quando ele era um jovem pároco. E Giovanni Angelo Becciu, nascido em 1948, homem poderoso da Cúria, que em 2018 foi nomeado cardeal pelo próprio Bergoglio, em 2021 gravou um telefonema com ele, sem seu conhecimento, para fazê-lo dizer que ele mesmo o havia autorizado a realizar uma arriscada operação financeira em Londres, pela qual o cardeal está sendo julgado agora no Vaticano. “O papa quer a minha morte”: assim disse num telefonema, agora revelado, o prelado, que tinha jurado fidelidade a Francisco. O que está acontecendo no Vaticano?

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