17 Novembro 2022
O novo presidente brasileiro na conferência do clima: "Vamos frear o desmatamento e as atividades ilegais que devastaram o meio ambiente com um governo desastroso (de Bolsonaro)", disse, lembrando a urgência de um acordo para ajudas financeiras a países vulneráveis.
A reportagem é de Luca Fraioli, publicada por República, 16-11-2022. A tradução é de Luisa Rabolini.
"O mundo tinha saudade do Brasil. Bem, o Brasil voltou." Em uma COP que ficou órfã de Greta Thunberg e de estrelas do showbusiness como Leonardo DiCaprio, a única estrela real é um homem de 77 anos saudado com cânticos de estádio: olé, olé, olé, Lula, Lula...
Luiz Inácio Lula da Silva visitou a conferência do clima da ONU como "observador", tendo de esperar até janeiro próximo para tomar posse oficialmente como o novo presidente do Brasil, após a vitória no segundo turno contra Jair Bolsonaro no último dia 30 de outubro. Mas em qualquer pavilhão que parasse, encontrava à sua espera uma multidão de câmeras de televisão e de curiosos-admiradores. “Ele é o único líder político que já foi merecedor de uma recepção assim em uma COP”, confessa um funcionário que já assistiu a várias conferências sobre o clima.
E Lula realmente não decepcionou as expectativas dos ativistas, que chegaram a perdoá-lo pela gafe de ter chegado ao Egito no jatinho particular do amigo empresário José Seripieri Junior. No final da tarde, em uma sala totalmente lotada e com centenas de pessoas do lado de fora, ele tomou a palavra para expor a visão climática do "seu" Brasil: "Vamos frear o desmatamento da Amazônia, que cresceu 73% nos anos de Bolsonaro. E vamos punir severamente todas as atividades ilegais, da agricultura à mineração, que colocam em risco a floresta tropical."
E não é só isso: indicou oficialmente o Brasil para sediar a COP30, aquela que será realizada em 2025. Uma data mais que simbólica: dez anos depois dos Acordos de Paris. “Vou propor à ONU que seja realizada justamente na Amazônia, para que todos os participantes percebam a importância dessa parte do mundo”. Anunciou a criação de um ministério para os povos indígenas, “para que sejam protagonistas de sua própria salvação”. Ele não poupou críticas a seu antecessor (ainda no cargo) Bolsonaro e ao seu negacionismo climático: "Um governo desastroso que devastou o meio ambiente". Mas ele também criticou os países ricos que não cumprem suas promessas sobre o clima. "Em 2024, o Brasil terá a presidência do G20", lembra. “Será uma oportunidade para reiterar aos Grandes que não se pode assumir compromissos e depois descumpri-los, como estão fazendo com os 100 bilhões de dólares anuais de 2020 a 2025 que deveriam ter dado aos países em desenvolvimento”.
Um pouco antes, apesar de seu papel de "observador", Lula havia sido recebido pelos principais protagonistas da COP27, a começar pelo Enviado Especial estadunidense para o Clima John Kerry e pelo Plenipotenciário de Pequim Xie Zhenhua. Kerry disse estar confiante de que Lula trará uma mudança na abordagem do Brasil em relação ao meio ambiente. E, portanto, também nas negociações em curso em Sharm El-Sheikh. Além do "retorno" do Brasil, nas últimas horas se registraram dois outros eventos positivos: a retomada do diálogo sobre o clima entre Pequim e Washington e uma animadora declaração final do G20 em Bali.
Lula certamente deu a linha sobre as perdas e danos, questão crucial em Sharm: países vulneráveis a eventos climáticos extremos estão pedindo aos países ricos que criem um fundo para remediar eventuais "perdas e danos" causados pelas mudanças climáticas. "Um acordo sobre as perdas e danos é necessário e urgente", disse o presidente eleito. Finalmente, um ataque à atual estrutura da ONU. "As Nações Unidas refletem o mundo como era no final da Segunda Guerra Mundial, com os vencedores sentados no Conselho de Segurança e decidindo. Desde então, o mundo mudou e uma nova governança é necessária: se há uma emergência que está aí para provar isso, é justamente aquela climática".
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A volta de Lula, aclamado na COP27: “Segurança climática depende da Amazônia” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU