31 Outubro 2022
Xi é o “líder de tudo”: enquanto em circunstâncias cruciais os outros hesitam, ele intervém e move a bola em uma direção para resolver uma situação que, caso contrário, poderia sair do controle.
O artigo é do sinólogo italiano Francesco Sisci, professor da Universidade Renmin da China. O artigo foi publicado por Settimana News, 28-10-2022. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
O já conhecido episódio em que o ex-presidente Hu Jintao foi expulso do Grande Salão do Povo durante a sessão de encerramento do Congresso do Partido oferece uma visão única e penetrante do processo decisório interno chinês.
Ele demonstra a capacidade do presidente Xi Jinping de pensar de forma autônoma e de assumir as próprias responsabilidades.
O momento foi de atualidade e extremamente controverso pelo seu significado. Enquanto o membro do Politburo Li Zhanshu tenta argumentar com Hu, e Wang Huning, ele também membro do Politburo, diz a Li para deixar o homem mais velho ir embora, ninguém faz um movimento.
Xi tenta falar com Hu e, ao ver que o diálogo fracassa, decide fazer com que ele seja escoltado para fora. Não há gritos, nem agitação. Xi não perde a calma, apesar da situação dramática e estranha; mantém a calma e segue em frente. É uma questão de poucos segundos. Não permite que o caso continue por muito tempo e talvez seja inflado desproporcionalmente.
Por que ele fez isso? Os rumores em Pequim viajam a toda velocidade nestas horas. Há quem diga que Hu ficou decepcionado com o retrocesso de seu protegido Hu Chunhua; há quem defenda que o idoso era o porta-bandeira de uma luta de poder mais ampla que, nos últimos meses, tentou forçar Xi a renunciar, evidentemente fracassando. Há quem opte pela explicação mais simples: o velho Hu não conseguiu se controlar.
Certamente, Hu não foi expurgado politicamente, pois o episódio foi censurado pela mídia chinesa, e as imagens de televisão subsequentes mostraram o ex-presidente na tribuna dos líderes.
No entanto, independentemente das estações, o peso da liderança de Xi, exibido naquele momento, é algo considerado quase mágico na cultura política tradicional chinesa.
Não importa se o imperador está certo ou errado; o dragão, que simboliza o imperador, era visto como uma fera que trazia sorte ou desgraça. O que importa é que o imperador tome posição diante do Céu, dos homens e da situação, e se mova enquanto os outros permanecem aterrorizados.
Xi mostra aquela que o estudioso Emilio Iodice chama de resistência da liderança, que pode ser aprendida, mas nunca funciona bem se não se tem o dom ad hoc.
Naquele momento, somente Xi ousa tomar uma decisão epocal.
Talvez esse seja o seu papel, o poder que adquiriu. No entanto, em todo o caso, é uma ilustração do motivo pelo qual ele é o “líder de tudo”: enquanto em circunstâncias cruciais os outros hesitam, ele intervém e move a bola em uma direção para resolver uma situação que, caso contrário, poderia sair do controle.
Em todo o caso, uma razão para seu poder efetivo também poderia ser o fato de que Xi se move em uma situação dramaticamente diferente daquela de Mao ou Deng.
Mao estava cercado por pessoas que o desafiavam. Dois de seus sucessores designados, Liu Shaoqi e Lin Biao, se voltaram contra ele. Seu melhor amigo, o marechal Peng Dehuai, denunciou-o pelo Grande Salto Adiante.
Seu sucessor, Deng Xiaoping, também sobreviveu não desafiando-o, mas contornando-o. Deng fingiu estar doente e não participou da Conferência de Lushan de 1959, quando Peng confrontou Mao, de modo que Deng pôde evitar tomar uma posição a favor ou contra Mao.
Mas os companheiros de Mao eram todos revolucionários, pessoas que colocavam em jogo a própria vida para se unir a uma causa que consideravam justa. Eram destemidos e escalavam as fileiras da revolução esquivando-se das balas e graças a seus sucessos no campo de batalha. Portanto, podiam e queriam desafiar Mao se considerassem necessário.
Deng, conhecendo seus duros companheiros, poderia ter sido mais um construtor de consenso e tentar evitar confrontos amargos.
Mas as pessoas que cercam Xi não são revolucionárias destemidas. São quadros que foram promovidos porque eram boas em seguir as ordens e devem suas carreiras aos favores deste ou daquele líder.
Xi é diferente. Ele fez carreira tentando ganhar favores, mas, em 2012, quando foi promovido a chefe do partido, voltou-se contra seus chefes e reivindicou todo o poder para si.
Portanto, se outros não conseguirem pensar com rapidez e ousadia no topo da liderança, Xi, sem dúvida, continuará sendo o “líder da matilha”, goste-se ou não de suas decisões.
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Por que Xi Jinping é o “líder de tudo”. Artigo de Francesco Sisci - Instituto Humanitas Unisinos - IHU