13 Outubro 2022
Das páginas do jornal bolonhês L’Avvenire d’Italia foi contado o Concílio bem de perto. Um jornal que foi em certo sentido o "progenitor" junto com outro jornal memorável, o ambrosiano L’Italia, do nosso atual Avvenire, nascido em 1968 da fusão histórica dos dois grupos editoriais.
É a história do romano Raniero La Valle, nascido em 1931, que se viu, então com 31 anos, por indicação do então cardeal de Bolonha, Giacomo Lercaro, a dirigir o jornal até 1967. "Fui nomeado diretor no ano anterior, em 1961, sucedendo a Raimondo Manzini que foi chamado para dirigir o L'Osservatore Romano”, conta. E o Concílio cujo 60º aniversário aconteceu ontem (1962-2022) “ainda está para ser implementado e aplicado pelo seu sopro de frescor e profecia. Aquela assembleia de 2.500 bispos mudou a face da Igreja no mundo”, afirma o então diretor.
A partir de 1963, La Valle deslocou quase "em peso" boa parte da redação bolonhesa ao longo das margens do Tibre por ocasião da assembleia eclesial (até a última sessão de 1965) que mudou o rosto da Igreja. E naqueles anos contou com uma excelente equipe de jornalistas: muitos dos quais destinados a fazer carreiras importantes no campo da comunicação como Albino Longhi, Vittorio Citterich e Giancarlo Zizola.
"Entre os méritos, creio, daquela experiência à frente do jornal nacional que na época tinha grande circulação no Nordeste e tinha entre seus leitores principalmente católicos praticantes - fala de sua residência romana quase brincando - está aquele de ser 'contado o Concílio aos bispos que não sabiam latim'. Como o latim é a língua oficial do Vaticano II e que todos os padres conciliares eram obrigados a usá-la para suas intervenções, o nosso Avvenire d’Itália com suas matérias detalhadas em italiano representou para muitos deles, estou pensando em particular nos prelados sul-americanos, asiáticos ou africanos, o instrumento mais útil e quase necessário para entender os trabalhos e as dinâmicas das discussões internas do Concílio”.
A entrevista com Raniero La Valle é de Filippo Rizzi, publicada por Avvenire, 12-10-2022. A tradução é de Luisa Rabolini.
Qual foi a ligação entre o jornal e seus leitores naqueles anos?
De imediato, estabeleceu-se uma relação direta com aqueles que queriam aprofundar os temas da agenda do Concílio. Lembro-me que no final das sessões, quando os bispos voltavam para as suas sedes residenciais, centenas deles nos escreviam para agradecer pelas informações. A nossa era uma informação orientada ao espírito de serviço.
Tem alguma lembrança particular sobre isso?
Às vezes, quando havia uma discussão sobre questões importantes como a paz ou a guerra, advertíamos os nossos leitores e dizíamos a eles: “Amanhã a tal hora se vota. Rezem para que a melhor decisão prevaleça...”. Era a nossa maneira de fazer os leitores quase entrarem no Auditório de São Pedro...
"Avvenire d’Itália" encarnou naquele momento um recurso precioso para os bispos italianos. Pode nos explicar por quê?
Paulo VI, através do monsenhor substituto da secretaria de estado Angelo Dell'Acqua, havia decidido oferecer a todos os padres conciliares, cerca de 2.500, uma assinatura ao nosso jornal durante todas as sessões até o final de 1965. Desde então, todas as manhãs antes de entrar no auditório, lendo nosso jornal, os bispos podiam ter uma ideia mais ampla do trabalho conciliar também no que diz respeito àquelas discussões a que não haviam participado ou das quais não haviam entendido muito bem o debate em latim.
Foi um problema para nós, naqueles anos, o fato de nosso jornal estar quase sempre em sintonia com a maioria conciliar, da qual uma das vozes mais autorizadas era justamente, entre outras coisas, um dos quatro moderadores daquela assembleia (os outros eram Döpfner, Suenens e Agagianian), o cardeal Giacomo Lercaro, que, no entanto, muitas vezes não coincidia com o episcopado italiano, que era muito mais cauteloso. E isso nos criou algumas dificuldades. Isso também acontecia com os bispos espanhóis que também se moviam na ala da minoria. Então também se tornou uma questão de equilíbrio para nós: precisávamos dar voz a todos.
60 anos após o início daquele evento, qual retrato ainda carrega em seu coração hoje?
A forte impressão daqueles anos foi também o fato de que muitos dos bispos declararam ter voltado a estudar teologia, como tinham feito quando eram jovens, para aprofundar os temas debatidos. Assim, o Auditório de São Pedro tornou-se, segundo a feliz definição de um prelado, "um grande seminário onde os bispos voltaram a ser estudantes".
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“Assim, um jornal ajudou a acompanhar e entender o Vaticano II”. Entrevista com Raniero La Valle - Instituto Humanitas Unisinos - IHU