03 Outubro 2022
Causam alvoroço as palavras do Cardeal Koch, que compara o Caminho Sinodal aos "cristãos alemães" no Terceiro Reich. Os bispos, que antes pareciam cansados e impotentes, despertaram de repente. Observações de Fulda.
A reportagem é de Michael Schrom, publicada por Publik-Forum, 30-09-2022. A tradução é de Luisa Rabolini.
O cansaço se espalha como pó de oídio nos rostos dos homens vestidos de preto que transitam entre o castelo e o seminário. Após o choque de Frankfurt, a Conferência Episcopal está exausta.
Embora um novo grupo de especialistas tenha sido criado para tratar da questão dos abusos sexuais, não se registram progressos em outras questões. Como seria possível? Todas as questões foram discutidas, não se conseguem obter compromisso porque as posições são "difíceis de conciliar", como afirmou realisticamente o bispo de Passau, Stefan Oster. Embora "irreconciliável" seja uma expressão que normalmente não faz parte do vocabulário de um bispo.
Além disso, questões urgentes que precisam ser decididas em Roma simplesmente não são respondidas. Isso vale para a proposta sobre como melhorar a cultura jurídica, bem como para o pedido de tomar uma decisão final sobre a oferta de renúncia do Cardeal Woelki.
Nesta situação, muitos obviamente têm dificuldade em levantar-se da cama pela manhã para participar da celebração eucarística comum. É impressionante o fato de que um grande número de assentos episcopais permaneça vazio. No passado, as homilias eram às vezes obras-primas de comunicação religiosa indireta, uma espécie de concurso de poesia episcopal. Quem é capaz, a partir dos textos apresentados, de formular uma convincente mensagem político-eclesial de atualidade? Bätzing certamente proferiu uma elegante tirada espirituosa ao citar Elias Canetti: "Quem não se deixa persuadir pela morte é aquele que tem mais religião de todos".
Segundo o presidente da Conferência Episcopal, todas as grandes imagens em que o povo de Deus conta suas experiências históricas falam de um fim e de um novo começo. "É por isso que tenho toda a certeza de que as continuidades que são reivindicadas (ou seja, as conexões sem solução de continuidade, segundo o lema: 'sempre se acreditou assim...') sejam francamente suspeitas". Mas essas sutilezas há muito deram lugar a uma hostilidade grosseira. Assim, o núncio Nikola Eterovic pediu em sua intervenção de saudação que as reuniões sinodais sejam realizadas a portas fechadas, sem a presença da imprensa e dos leigos, "para preservar a liberdade dos bispos". Afirmação esta que se justifica, como sempre, com referência à Igreja das origens. No entanto, Eterovic se enredou com uma citação de Francisco que realmente demonstra o contrário. De acordo com tal citação, Jesus chamou os apóstolos, que eram "um mais ignorante do que o outro". Segundo o papa, o fato de o projeto da Igreja ter ido adiante, apesar disso, deve-se unicamente ao “sentido do cheiro das ovelhas com os pastores e dos pastores com as ovelhas”. O voto secreto não pode ser justificado desta forma!
Até mesmo infames foram as declarações do cardeal da cúria suíço Kurt Koch, que comparou o Caminho Sinodal ao movimento dos "cristãos alemães" no Terceiro Reich. Assim como aqueles tinham visto uma nova revelação de Deus em "Sangue e Solo e na Ascensão de Adolf Hitler", assim no Caminho Sinodal - "novamente na Alemanha" – se tenta abrir novas fontes de revelação.
Essa maligna comparação não apenas invoca as piores aberrações cristãs do nacional-socialismo para desacreditar os reformadores. As declarações de Koch também revelam o que ele pensa da liberdade humana, que provavelmente gostaria de ver submetida a uma verdade (revelada episcopalmente).
De fato, na entrevista ele prossegue afirmando que é fatal a tendência da teologia alemã de partir da liberdade "como o valor humano mais alto" e desse pressuposto avaliar "o que ainda pode ser considerado verdade da fé".
Isso fez com que o normalmente paciente Bätzing perdesse a paciência. “Em consideração aos méritos da questão e no espírito dos fiéis que estão engajados no Caminho Sinodal, aguardo um pedido de desculpas do Cardeal Koch. E se isso não acontecer prontamente, apresentarei uma reclamação oficial ao Santo Padre”. As declarações de Koch mostram “o medo extremo de que algo se mova. Mas, lhes prometo, algo vai se mover”. Agora os bispos estão acordados. E os opositores devem se perguntar a quem querem se unir. Com os clérigos que desprezam a liberdade ou com a grande maioria do povo de Deus.
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Bätzing: “Aguardo um pedido de desculpas” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU