12 Julho 2022
Escutar os pensamentos, os pressentimentos da noite, porque, naquela paz, como distante e abafado ruído, a consciência se faz ouvir.
O comentário é do cardeal italiano Gianfranco Ravasi, prefeito do Pontifício Conselho para a Cultura, em artigo publicado por Il Sole 24 Ore, 10-07-2022. A tradução é de Luisa Rabolini.
O véu do silêncio cai acompanhado pela mortalha da escuridão e se adentra na noite.
Calam-se os ruídos e as conversas que distraem, desaparecem as imagens cotidianas que enchem os olhos e embotam o olhar interior. É o momento em que se está a sós consigo mesmo e podem aflorar os pensamentos mais autênticos, vibrar os pressentimentos, reverberar até os medos ou remorsos. Essa é um pouco a cena simbólica que Niccolò Tommaseo esboça em poucas pinceladas.
O escritor oitocentista, nascido na Dalmácia, que sempre viveu na Itália, católico fervoroso, representava assim o que outrora - na linguagem espiritual - se chamava de "exame de consciência". Agora é um exercício que já não se pratica mais, absorvidos como somos pelo frenesi e, caso se sofra de insônia, se recorre a um sonífero que não só tem funções fisiológicas, pois também consegue silenciar reflexões, arrependimentos, escrúpulos, julgamentos. Aparentemente, fica-se em paz consigo mesmo e sereno, porque se ignora toda voz interior. Mas Albert Schweitzer, o famoso filantropo e teólogo, missionário entre os portadores de hanseníase, advertia: "A consciência tranquila é uma invenção do diabo."
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#de noite. Artigo de Gianfranco Ravasi - Instituto Humanitas Unisinos - IHU