14 Abril 2022
Menos de 50% dos alemães agora são católicos ou protestantes.
A reportagem é publicada por Deutsche Welle, 13-04-2022.
Uma projeção divulgada nesta terça-feira (12/04) por especialistas aponta que as duas principais igrejas na Alemanha - a Católica e a Evangélica/Protestante - estão perdendo cada vez mais fiéis e, juntas, reúnem atualmente menos da metade dos alemães. As estimativas são de um estudo do grupo de pesquisa Weltanschauungen (Fowid, na sigla em alemão).
"É um ponto de virada histórico porque, visto como um todo, pela primeira vez em séculos, não é mais 'normal' na Alemanha ser membro da igreja", afirma o cientista social Carsten Frerk, um dos autores da pesquisa.
No ano passado, 51% dos alemães ainda pertenciam à Igreja Católica ou à Igreja Evangélica (EKD, na sigla em alemão). Para efeito de comparação, em 1990, 72% eram membros de uma das duas grandes igrejas e, há 50 anos, esse número passava de 90% na Alemanha Ocidental. Uma projeção das igrejas prevê que, em 2060, apenas cerca de 30% da população será católica ou protestante.
Em 2021, a Igreja Evangélica tinha, segundo dados oficiais, 19,7 milhões de membros - um pouco menos que os 20,2 milhões registados no ano anterior.
De acordo com os cálculos do Fowid, a Igreja Católica tem atualmente 21,8 milhões de paroquianos - em 2021, tinha 22,2 milhões. Oficialmente, os números mais recentes (a partir do final de 2021) serão publicados pelas igrejas até o verão europeu.
"A tendência de queda já acontece há algum tempo, mas nos últimos seis anos acelerou mais", explicou Frerk.
Enquanto entre 2000 e 2015 as igrejas perderam, anualmente, entre 0,6 e 0,8% dos seus membros, a partir de 2016 o número acelerou e a queda passou a ser de entre 1,0 e 1,4%.
Além da morte de paroquianos, as igrejas tiveram de enfrentar inúmeros pedidos de desfiliação nos últimos anos por diferentes motivos. No caso da Igreja Católica, grande parte deles se deve a escândalos de abuso de menores por membros do clero.
O presidente da associação inter-religiosa Remid, Robert Stephanus, sustentou, em entrevista à revista Der Spiegel, que os motivos para os pedidos de saída variam entre protestos conscientes contra as hierarquias eclesiásticas até o desejo de economizar em imposto.
Na Alemanha, se você declara oficialmente ser filiado a uma das duas grandes igrejas, paga um imposto obrigatório. É o kirchensteuer (imposto da igreja), uma espécie de dízimo recolhido diretamente sobre os salários e ganhos de capital dos fiéis pela própria receita federal do país. A cobrança ocorre sobre uma taxa extra de 8% ou 9% calculada em cima do imposto de renda devido.
Existem diferenças regionais na intensidade dos laços com as igrejas, adianta o estudo. Na região da Baviera, por exemplo, o número de pessoas que pertencem a uma das duas grandes igrejas vem se mantendo em níveis elevados.
No território da antiga Alemanha Oriental, que passou décadas sob domínio comunista, a saída em massa de fiéis começou ainda na época em que o país estava dividido, ou seja, antes de 1989, quando o governo local incentiva o ateísmo e encarava as igrejas como inimigas.
Entre 1950 e 1989, o número de membros da igreja evangélica caiu, na antiga Alemanha Oriental, de 15 milhões para 4 milhões de pessoas, enquanto o número de católicos naquela região do país diminuiu pela metade, caindo para cerca de 1 milhão de pessoas. Historicamente, a região era mais propensa ao protestantismo do que o restante da Alemanha.
Apesar da queda dos números de católicos e evangélicos, no entanto, a maioria da população na Alemanha ainda é oficialmente cristã. Isso porque além dos membros das duas principais igrejas, existem alguns milhões de outros cristãos, por exemplo, membros da Igreja Livre e ortodoxos.
Na Alemanha, mais de 40% da população é agora não-confessional, 4% é muçulmana e o restante está espalhado por outras religiões, incluindo judeus, por exemplo.
No ano da reunificação, em 1990, havia 29,4 milhões de evangélicos e 28,3 milhões de católicos. A relação mudou há 25 anos. A igreja evangélica perdeu membros mais depressa que a católica. Na terra de Lutero e da Reforma existem, então, novamente mais cristãos católicos do que protestantes.
Dez anos atrás, eram 24,3 milhões de católicos e 23,4 milhões de evangélicos. Há cinco anos, eram 23,3 milhões de membros da igreja católica e 21,5 milhões de protestantes.
O sociólogo Detlef Pollack, da Universidade de Münster, explica que, antigamente, "as igrejas costumavam ter impacto em todas as áreas da vida social".
Na década de 1950, elas estavam presentes no cotidiano das pessoas, determinaram os conceitos geralmente aceitos de família, moral e valores, e estabilizaram a ordem política emergente. Nas décadas seguintes, elas foram ouvidas "por exemplo, quando se tratava de reconciliação com nossos vizinhos do Leste Europeu ou questões de justiça social ou questões bioéticas", explica.
De acordo com Pollack, a agitação cultural começou na década de 1960, com um boom econômico, mudando as estruturas familiares e a emancipação das mulheres. "Os valores de autoridade perderam sua importância". Em vez de segurança material e estabilização social, a participação política e a autorrealização individual tornaram-se importantes, propiciando o declínio da igreja. Com isso, os laços religiosos enfraqueceram.
Pollack ressalta que, antes de se afastar da fé e das igrejas, geralmente há a renúncia à participação na vida da igreja. "Quando a prática religiosa é abandonada, a influência da religião no estilo de vida também diminui".
Uma pesquisa do Allensbach Institute for Demooscopy, encomendada pelo jornal Frankfurter Allgemeine, examinou a tendência de queda acelerada nas igrejas e no cristianismo na Alemanha antes do Natal. "Três estágios de erosão" foram descritos. Primeiro, as pessoas perdem "a crença no conteúdo essencial do cristianismo". Apenas 37% da população acreditava que Jesus era o filho de Deus (em 1986, eram 56%).
O próximo passo é sair da igreja. Segue-se o "afastamento da tradição cultural cristã", ainda que ela siga sendo valorizada "durante um certo tempo".
Apesar do número decrescente de membros da igreja, de acordo com o estudo do Allensbach, 70% dos entrevistados concordam que o cristianismo é parte da Alemanha (o índice fica em 55% entre os não-confessionais).
A perda de interessa religiosa é demonstrada, por exemplo, pela falta de conhecimento sobre os feriados religiosos na Alemanha.
Muitas pessoas não sabem por que Páscoa ou Pentecostes são feriados e nem que o Halloween é celebrado na mesma data do Dia da Reforma. E talvez o exemplo mais impressionante esteja chegando novamente em maio: o feriado do Dia da Ascensão (26 de maio, em 2022) há muito tempo é considerado por muitos alemães como feriado de "Dia dos Pais".
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Menos de 50% dos alemães agora são católicos ou protestantes - Instituto Humanitas Unisinos - IHU