07 Janeiro 2022
Sociólogo português vê esperança para o mundo, desconfia de conversas com Alckmin e “torce” que Lula esteja certo. Mas pede atenção para lisura no processo democrático.
A reportagem foi publicada por Rede Brasil Atual, 06-01-2021.
São Paulo – Uma luz no fim do túnel, “pujante”. Assim o sociólogo português Boaventura de Sousa Santos classifica a volta do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, líder em todas as pesquisas de intenção de voto na eleição presidencial, ao cenário político brasileiro. “Em nível mundial significa que nem tudo está perdido”, disse, lembrando a visita do ex-presidente brasileiro à Europa, em novembro passado. “Foi uma coisa absolutamente extraordinária. O modo como os democratas europeus o acolheram acolheram para mostrar aos Estados Unidos e ao senhor Bolsonaro o que significa ele estar lá, a solidariedade que mostraram a ele. Receberam Lula como presidente.”
Boaventura, entrevistado por Gustavo Conde no programa Bom para Todos desta quarta-feira (5), na TVT, falou de seus receios em relação às eleições presidenciais no Brasil. “Entramos num processo em que agora os olhos estão postos nele (Lula)”, disse.
O sociólogo chamou a atenção dos amigos brasileiros, “que felizmente são muitíssimos”, para que não tomem por certo que as eleições de 2022 vão ocorrer com serenidade e com toda lisura democrática. “A extrema direita está assustada com a pujança do Lula e vai tentar alguma coisa. Lula, neste momento, é o mais importante dos líderes mundiais, porque significa uma virada na onda antidemocrática que vivemos nos últimos dez anos”, observa.
Para o sociólogo, se não forem usados “truques antidemocráticos” ou alguma outra forma para impedir que Lula assuma, e se a campanha eleitoral ocorrer dentro da “normalidade democrática”, a eleição de Lula será fundamental para sustentar essa virada na América Latina. “Portanto, todas as esperanças estão postas no presidente Lula.”
Ainda sobre o cenário internacional, Boaventura avalia que o ex-presidente Lula vai herdar um país muito diferente do que comandou. “Lula já sabe que seu país precisa de atenção. Mas precisa de atenção onde ele foi sempre exímio: foi ele que tirou o país da fome. O país está de novo com fome. Calcula-se em 19 milhões os que estão a passar fome no Brasil”, diz. “Portanto Lula, entra em seu terreno, onde marcou uma diferença extraordinária. Para além de valorizar a ciência que vai ser outra área fundamental.”
O sociólogo analisa ainda uma possível chapa com Lula e o ex-governador Geraldo Alckmin na disputa presidencial deste 2022. “Penso em Alckmin como uma política de seguro, uma apólice de seguro para o Lula. Então, Oxalá ele não se equivoque”, disse o português, depois de detalhada explanação sobre os interesses das elites nacional e internacional no Brasil. “Temos de confiar nas decisões do presidente Lula, mas devo dizer que estou preocupado”, admite. “É uma jogada de alto risco. Mas um homem como o presidente Lula é um homem dos altos riscos e espero que tenha êxito”, afirma Boaventura.
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‘Direita está assustada com pujança de Lula’, diz Boaventura de Sousa Santos - Instituto Humanitas Unisinos - IHU