03 Janeiro 2022
O futuro do cristianismo dependerá em boa parte também do futuro da liturgia.
A reflexão é de Goffredo Boselli, monge italiano e especialista em liturgia, em artigo publicado na revista Vita Pastorale, de janeiro de 2022. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
É realmente necessária uma nova coluna sobre liturgia? Essa é a pergunta que me fiz quando recebi a proposta da redação da revista Vita Pastorale, aprovada com convicção pelo diretor, Pe. Antonio Sciortino, que insistiu diante da minha perplexidade inicial.
A objeção principal é que há anos a revista oferece aos leitores uma apreciada contribuição litúrgica assinada pelo Pe. Silvano Sirboni, um histórico colaborador que, em comparação comigo, tem uma experiência pastoral direta.
Eu, como monge, não tenho nada mais do que a experiência da vida litúrgica da minha comunidade monástica, a visita às bibliotecas e a assiduidade com os livros. Que contribuição significativa quem estuda e ensina liturgia pode dar a uma revista que se declara pastoral no seu próprio nome?
O que, no fim, me convenceu foi a forte preocupação com a vida litúrgica das comunidades que me chega de muitos lugares e com uma insistência cada vez maior. Não só os bispos e os presbíteros constatam, como já se sabe, o fracasso do retorno à assembleia eucarística dominical de pelo menos um terço dos fiéis desde que, na fase mais aguda da pandemia, as celebrações foram suspensas.
Para muitos deles, a maioria desses fiéis não vai voltar. Mas há já algum tempo a novidade é que até mesmo os leigos, homens e mulheres fiéis e regularmente praticantes, se declaram sinceramente inquietos e preocupados, porque sentem que participar da liturgia se torna cada vez mais um esforço para eles, confessando, com tristeza e às vezes até com perturbação, que sentem que recebem pouco ou nada das liturgias que percebem como negligenciadas, cansadas, monótonas.
À minha tentativa de motivar que uma fé não celebrada comunitariamente acaba se murchando no longo prazo e que a liturgia é essencial para a vida espiritual de cada cristão, assim como da comunidade inteiro, eles reagem declarando-se plenamente de acordo, mas, mesmo assim, reiterando as reais dificuldades.
Nesta coluna, portanto, buscarei dar uma contribuição de reflexão sobre a situação atual da liturgia na Itália, os esforços, mas também as possibilidades, as problemáticas maiores e as infinitas riquezas, sem nunca desviar o olhar do futuro da liturgia, identificando caminhos a serem percorridos, formas novas a serem exploradas e desafios laboriosos a não serem desperdiçados.
O caminho dentro do qual me moverei é a reflexão iniciada no Congresso Eclesial Nacional de Florença em 2015, onde, a partir das mesas de trabalho da quinta via, “Transfigurar”, emergiram indicações bastante precisas, sintetizadas em três entregas finais às Igrejas que estão na Itália:
1) A renovação litúrgica do Concílio é uma realidade em curso que pede de nós fidelidade e responsabilidade.
2) A Igreja que celebra e que reza é também a Igreja em saída.
3) Fazer a humanidade viver da liturgia é a tarefa que nos aguarda”.
Enfim, sem nenhuma pretensão, esta coluna quer acompanhar, de algum modo, o caminho sinodal italiano, que certamente não poderá ignorar um nó essencial e decisivo da vida eclesial: a capacidade de celebrar das comunidades cristãs, na consciência, já amplamente reconhecida, de que também na Itália o futuro do cristianismo dependerá em boa parte também do futuro da liturgia.
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Os desafios do futuro da liturgia. Artigo de Goffredo Boselli - Instituto Humanitas Unisinos - IHU