01 Dezembro 2021
"Um sinal profético em que se revela um despertar da fé inspirado pelo Espírito Santo que desperta o amor por todo ser humano, a partir dos mais frágeis, feridos e marginalizados". Assim o cardeal Marc Ouellet definiu a Assembleia eclesial da América Latina na missa de encerramento do domingo no Santuário de Guadalupe. No final, as vinte e duas Conferências Episcopais do Continente consagraram-se à "Virgem Morenita", que acompanhou o inédito evento promovido pelo Conselho Episcopal Latino-americano (Celam).
A reportagem é de Lúcia Capuzzi, publicada por Avvenire, 30-11-2021. A tradução é de Luisa Rabolini.
Não poderia ser diferente. Maria, primeira discípula e missionária, é o modelo para repensar e relançar a evangelização. Um caminho que começou há quatorze anos em outro epicentro da devoção mariana da região: o Santuário de Aparecida, no Brasil, onde se realizou a V Conferência do CELAM. No rosto de Maria, além disso, se reflete a imagem da Igreja, com traços femininos. Não é por acaso que justamente as mulheres foram as grandes protagonistas deste acontecimento histórico que viu reunidos, durante uma semana nas margens do Lago Guadalupe, fora da Cidade do México, não só os bispos, mas todo o povo de Deus, representado por uma centena de delegados presentes e mil conectados via zoom. A voz das religiosas e leigas - um terço do total - ressoou profética e forte nos momentos de reflexão comum, de discernimento nos grupos, de oração, de testemunho e de liturgia. Dando uma resposta tangível à questão do "lugar" da mulher na Igreja.
A Irmã Liliana Franco, presidente da Conferência dos Religiosos Latino-Americanos (Clar) explica isso: “Vimos nestes dias, através do testemunho concreto das irmãs: o lugar da mulher é a espiritualidade, o lugar da mulher é a elaboração teológica, o lugar da mulher é a fronteira onde ninguém mais quer estar”. As encruzilhadas povoadas por migrantes centro-americanos que fogem da violência e são forçados a um êxodo igualmente feroz, a que se dedica a freira mexicana Dolores Palencia. Ou das pessoas com diversidade sexual, muitas vezes rejeitadas pelas próprias famílias, acolhidas pela paraguaia Miriam González, da comunidade de vida cristã (CVX). Das vítimas de abusos, na sociedade e na Igreja, acompanhadas pela costarriquenha Lisandra Cháves e pela religiosa brasileira Maria Inês Veira.
Dos povos descartados, indígenas e afrodescendentes, ao lado dos quais caminham a brasileira Laura Vicuña, a peruana por adoção Birgit Weiler e a hondurenha Maria Suyapa. Seu grito ressoou nos "horizontes de trabalho" prioritários elencados na mensagem final: promoção do protagonismo de jovens, das mulheres, dos leigos, acompanhamento das vítimas de todas as formas de exclusão e violência, defesa da vida, renovação, construção da ecologia integral, luta contra o clericalismo, renovação da formação nos seminários. Um trabalho a ser realizado juntos, todos, como povo de Deus.
De fato, a Assembleia Eclesial configurou-se como um ensaio geral de sinodalidade, tendo em vista o Sínodo sobre o tema recém inaugurado pelo Papa Francisco. E a prova foi um sucesso, para além dos limites, admitidos com humildade por Mauricio López, diretor do centro de Programas e Redes do Celam e figura-chave na organização da Assembleia.
“Temos uma dívida para com as periferias. Deveríamos tê-las envolvido ainda mais”, disse ele. Um fato, no entanto, é indiscutível: “Fortalecemos os vínculos de fraternidade”, como ressaltou monsenhor Miguel Cabrejos, presidente do Celam. Qualquer pessoa que participou do trabalho pode testemunhar que não se trata de uma frase circunstancial. O clima foi autenticamente fraterno, com momentos de forte partilha, incluindo uma dança coletiva improvisada no final.
É muito cedo para dizer que futuro terá essa nova modalidade de "discernimento eclesial" de todo o povo de Deus e não apenas de seus pastores. A Assembleia do Celam, porém, abriu um caminho, que é feito - parafraseando Antonio Machado, ao caminhar. A estrada é longa. Concluído o evento, o processo prossegue com as assembleias eclesiais territoriais, nos próximos meses, e a reunião extraordinária do Celam, depois, sim, o Sínodo. Passo a passo, juntos.
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Celam, profecia do feminino - Instituto Humanitas Unisinos - IHU